‘Você estimula o afroempreendedorismo quando reconhece a potência dele’

Presidente do PretaHub, Adriana Barbosa, fala sobre qualificação para a mulher negra comandar negócio próprio
Por Priscila Natividade, do Correio 24 Horas 
Fotos Agência Ophelia

Produtos e serviços voltados para a valorização da identidade negra. Esta é a base do ecossistema do Empreendedorismo Negro, que por onde passa encontra um valor agregado na afrodescendência como centro da sua produção. Para fortalecer esta tendência dentro de um mercado consumidor cada vez mais atento à diversidade, o programa de capacitação de empreendedores exclusivo para mulheres negras Afrolab está rodando o país com cursos de negócios voltados para estas mulheres.

O Afrolab para Elas é uma realização da PretaHub e Instituto Feira Preta. A metodologia do projeto conta com atividades de autoconhecimento, ciclos de imersão criativa, aprendizagem, cursos e workshops. Depois de passar por São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES), a próxima parada do projeto é Salvador. A capacitação é gratuita e acontece até o dia 12 de junho na Central de Treinamento do Sebrae, no Centro e também Praça da Cruz Caída, no Pelourinho, e na Casa La Frida, no Santo  Antônio Além do Carmo.

“É o terceiro ano que levamos o Afrolab para Salvador e o primeiro ano que levamos essa experiência para as mulheres negras como foco prioritário dos dez estados por onde o programa irá passar.  E o foco se deve porque  elas são a maioria em empreendedorismo na categoria microempreendedor individual no país, estão fora do mercado formal e precisam empreender”, destaca a presidente da PretaHub e da Feira Preta, Adriana Barbosa.

Em uma conversa exclusiva com o CORREIO, Adriana analisou o potencial do empreendedorismo negro e  feminino na Bahia, e também trouxe dicas importantes que favorecem o engajamento junto ao afroempreendedorismo. “Para esta edição, as turmas em Salvador estão lotadas. Mas já adianto que o projeto volta à capital baiana em outubro para uma nova capacitação. Isso só demonstra a força e o potencial das baianas para empreender”, completa. Confira na entrevista.

Como você define o empreendedorismo negro e de que maneira enxerga o crescimento?

A população negra é empreendedora há, pelo menos, 131 anos, pós-período abolição. A produção e consumo voltados a atender às demandas e especificidades de consumo da população vêm como pauta mais forte no final da década de 1990 com o surgimento da Revista Raça e com a Feira Preta nos anos 2000.

Hoje, temos um ecossistema afroempreendedor. Organizações de suporte, ferramentas, cursos, comunicação e ações voltados para atender à produção e ao consumo.

Qual o potencial da empreendedora negra baiana? Que áreas e segmentos de negócio estão entre as mais promissoras? 

A Bahia tem um superpotencial empreendedor liderado pelas mulheres negras. Já fazem isso ha 13 décadas. E as áreas que vejo mais estratégicas de desenvolvimento  são: Moda, Design, Audiovisual, Gastronomia, Artesanato, Turismo, Tecnologia, Cosméticos, Cabelo e Serviços. Mas também precisamos ter mais mulheres negras na indústria, olhando para a cadeia de produção e não só o produto final.

Quem é a empreendedora negra? 

São mulheres negras de 20 a 80 anos. Muitas delas com alto grau de escolaridade, nível mestrado, que empreendem porque estão fora do mercado de trabalho formal e ainda empreendem na lógica da sobrevivência. Mas há também muitas jovens negras que não querem estar dentro do trabalho formal e empreendem por perceber oportunidades em mercados de consumo da população negra e chegam a se arriscar em modelos mais disruptivos.

Como você enxerga o papel da capacitação e da inovação como mola propulsora deste movimento? 

Eu destaco aí alguns itens prioritários, entre eles a formação, a aceleração, as ferramentas de gestão, educação e gestão financeira. Além da tecnologia, incluo acesso ao capital e políticas públicas.

Você estimula o afroempreendedorismo quando se reconhece a potência dele de alavancagem para o país. A Feira Preta começou pequena, com 40 empreendedores  há 17 anos, e mais de 1,5 mil empreendimentos passaram pelas ações promovidas pela plataforma.

Xongani, Makeda e tantas outras marcas fizeram parte dessa história e só reforçam a força que o empreendedorismo negro tem.

Qual o segredo para a mulher negra  abrir o seu negócio, prosperar e ter sustentabilidade?  

Autoconhecimento. Saber fazer o que gosta e o que se propõe. Desapegar do fluxo de tarefas do dia a dia, saber delegar para deixar o negócio crescer. Buscar  conhecimento constante, apropriação de tecnologias e, por fim, ter uma boa rede de relacionamento e nutri-la.

Muitos negros empreendem por necessidade como alternativa ao desemprego, vivem no mercado informal ou abrem o seu negócio sem investimento ou qualificação. Como reverter este cenário?  

Com planejamento, dedicação e conhecimento profundo sobre seu produto ou serviço,  seu público e mercado. Não ter pudor de ir atrás de pessoas e capital para investimento no negócio.

Qual a dica para agregar valor ao  produto ou ao serviço no afroempreendedorismo?  

Conhecer as histórias de potência da população africana ao chegar no Brasil, como essa diáspora contribui e deixou legado. Afinal veio realezas para o Brasil, detentoras de saberes, design, métodos e sistemas bastante refinados.

Esse conhecimento histórico, atrelado à autoestima, ajuda a compreender os anseios de consumo e necessidades da população negra.

Quais são, ainda, os gargalos para o empreendedor negro e como superá-los?

O acesso ao crédito ainda é um problema. Também faltam dados de quem são, onde estão e como empreendem. Faltam políticas públicas, um ecossistema robusto e sistêmico de desenvolvimento em áreas que são estratégicas  para o Brasil. Precisamos potencializar  essas ações.

QUE É 

Adriana Barbosa   é presidente da PretaHub e da Feira Preta, iniciativas que fortalecem e incentivam o ecossistema de empreendedorismo negro no Brasil. PretaHub é uma aceleradora do empreendedorismo negro, uma evolução da Feira Preta, por onde já passaram 1,5 empreendimentos  em 17 anos.

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