Eu não sei. Não quero pagar de sabe-tudo ou de “peito de aço”, como diz minha avó. Mas é que acho que eu vivi com medo a maior parte da minha vida, nesses quase 37 anos. Desde muito cedo, a minha existência foi cercada por muita insegurança, mesmo antes de eu saber nomear o que sentia.
Os fetos podem sentir o medo vindo da aceleração do coração da mãe, sentem os hormônios do medo circulando pelo corpo dela. E, depois que nascem, são capazes de sentir o cheiro e a vibração do medo vindo dos pais. E somos educados pelo medo, pela ameaça da queda, da falta, da dor.
E, mais velha, eu segui medrosa. Era o medo de sair, o medo de voltar, o medo de não ser ninguém, o medo de aparecer demais, o medo da morte, o medo do tiro, de não ser boa o suficiente, o medo de amar, o medo de não ser amada.
Então eu olho para as notícias dos últimos dias e, sinceramente, não consigo sentir mais medo. É como se eu já sentisse todo o medo do mundo, já usei quase toda a minha capacidade de amedrontamento. Veja bem, é óbvio que sinto receio da posse do Trump e de tudo que vem junto com ela, não estou alienada. Pelo contrário.
Sei que pode ser uma coisa estranha, utópica ou um pouco sonhadora, mas eu não me importo que pareça. Pode até ser que no futuro eu me arrependa de não sentir medo agora, mas não me importo se precisar me arrepender no futuro.
A verdade é que eu acho que todos esses governos (e desgovernos) nos EUA, no Brasil e no mundo todo, toda essa repressão, decretos e saudações nazistas, são por medo. Imagina o medo que o Trump estava de falhar mais uma vez e não ser eleito, de perder para uma mulher. E não só ele, mas todos os outros líderes que o apoiam, porque imagina o recado que isso teria dado ao mundo. É desejo de poder, mas é principalmente medo, porque, quanto mais você tem, mas medo você tem de perder.
Existem três leis herméticas de que gosto de me lembrar neste momento. Uma é a Lei da Correspondência, que, juntamente com a Lei da Polaridade, diz que tudo é duplo, nada existe sozinho. Vocês acham que teríamos avançado tanto em direitos e democracias, sem que existisse a polaridade disso?
Enquanto finalizava esta coluna e pensava em “que discurso poderia ser correspondente em polaridade ao discurso do Trump”, Juliana Piesco postou no Instagram dela o vídeo do discurso de Meryl Streep, quando recebeu o prêmio Cecil B. DeMille. Vale a pena assistir.
A terceira lei é a do Ritmo, porque tudo tem fluxo, tudo tem as suas marés e seus ciclos, o que quer dizer que tudo que sobe também desce. Agora cabe a pergunta: estaremos prontos para aproveitar quando a maré baixar? Porque eles, sim, aproveitaram bem quando a nossa maré baixou e avançaram sem dó.
A questão não é “se”, a questão é quando, quantos e de que forma podemos usar uma quarta lei, se me permitem: Causa e Efeito. As escrituras dizem que, quando dominamos os princípios desta lei, podemos nos tornar os agentes causadores e não apenas sentir os efeitos das ações, nos entregando ao medo.