25 de julho: Mulheres Negras arrastam mais de 2 mil pelas ruas de São Paulo

Artigo produzido por Redação de Geledés

Entre as palavras de ordem estava “Fora Temer” e “queremos” o fim do racismo, sexismo, da violência doméstica e da cultura do estupro

Agência Áfricas de Notícias – por Claudia Alexandre

Em caminhada pelas ruas do centro de São Paulo, cerca de 2 mil mulheres participaram, nesta segunda-feira, da Marcha de Mulheres Negras. O evento marcou o 25 de Julho, Dia internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, que também motivou manifestações em todo o país. A concentração teve início às 17 horas, na Praça Roosevelt e por volta das 20 horas, seguiu pelas ruas da Consolação e Xavier de Toledo até o Largo do Paissandu, onde fica a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, um dos patrimônios da cultura afro-brasileira na cidade. A data marca a luta de resistência da mulher negra contra a opressão de gênero, raça e exploração de classe e foi firmado em 1992, como resultado do I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo (República Dominicana).
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Rostos pintados, cabelos coloridos, crespos, cacheados e representatividade! O primeiro grupo a chegar, em um ônibus fretado, foi o das Catadoras da Zona Sul. Empunhando tambores e cartazes elas dançavam e gritavam “Não é mole não, ser mulher, negra e sapatão”, uma referência às múltiplas pautas de luta. Aos poucos, jovens, crianças, homens e mulheres se juntaram ao grupo e, enquanto recebiam orientações da coordenação do movimento, articulavam a ordem do dia. Muitas ocuparam a tribuna improvisada nas escadarias da praça, antes da caminhada.

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Estiveram presentes coletivos de juventude, ONGs e grupos como Uneafro, Coletivo NegraSô, Geledés Instituto da Mulher Negra, Círculo Palmerino, Núcleo de Consciência Negra da USP, Cojira – Comissão dos Jornalistas Pela Igualdade Racial, Marcha Mundial das Mulheres, Frente de Mulheres Imigrantes e refugiadas, além de coletivos de juventude, lideranças de partidos e sindicatos.

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Quem também chamou atenção foi o senador Eduardo Suplicy, ele chegou à Praça Roosevelt, por volta das 17h30, e sozinho prestou solidariedade às mulheres. Horas antes, ele havia sido levado à delegacia, por tentar impedir a na reintegração de posse, na Funarte. Assim que foi liberado foi direto para a concentração da Marcha. “Agora estou entre as mulheres. As mulheres negras; e sou solidário a elas, para que venham a ter um futuro melhor e um progresso efetivo na sociedade brasileira”, disse ele.

Luta das Negras em ascensão

Um manifesto chamado “Mulheres Pretas Têm História” assinado por Movimento Mulheres em Luta, Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e setoriais da CSP-Conlutas foi distribuído em nome das mulheres trabalhadoras negras e não negras, indígenas, quilombolas, camponesas, trans, lésbicas, bissexuais, haitianas, africanas, cubanas e brasileiras. Uma representação que lembrava o I Seminário Mulheres em Luta, realizado no último final de semana, dias 23 e 24, e reforçando o momento de ascensão das lutas negras em todo o mundo.

A Marcha das Mulheres Negras 2016 prestou homenagem à Tereza de Benguela, que liderou o quilombo Quariterê, no Mato Grosso, em meados do século 18. “A resistência é a marca das mulheres negras. A história demonstra que, desde o início da colonização, nós lutamos contra o sistema opressor capitalista. Nossas lutas se dão na organização de fugas, na construção de quilombos, em movimentos emancipatórios etc. à frente dos quilombos estiveram lideranças como Aqualtune, Teresa de Quariterê, Dandara, Luisa Mahin. A raíz disso está na nossa ancestralidade africana onde as mulheres exerciam o poder na organização social política e religiosa, eram rainhas e sacerdotisas e guerreiras”, lembrou o manifesto reverenciando as grandes mulheres negras da história.

Este ano, as mulheres negras marcharam também pela insatisfação com o momento político atual e contra o genocídio do povo negro e a cultura do estupro instituída pelo sistema racista, onde a mulher negra ocupa infelizmente o lugar central. “Enquanto os casos de violência à mulher negra aumentaram 54%, entre as mulheres brancas diminuiu 10%. Por isso afirmamos que a cultura do estupro é resquício da escravidão e manutenção da cultura da classe dominante. O Brasil também é o país com maior número de assassinatos LGBTs e, dentro dessa estatística, também estão as mulheres negras”, afirma o MML.

A cultura do estupro também foi lembrada pelo movimento Marcha Mundial das Mulheres, que alertou sobre a relação com a organização dos Jogos Olímpicos, que a partir de 5 de agosto será realizado no Rio de Janeiro. Para elas, junto com a Copa do Mundo, são políticas baseadas no corte de gastos públicos, na precarização dos e das trabalhadoras, na violência da força policial e na exploração do corpo e do trabalho das mulheres. “O corpo das mulheres é tratado como mais uma das paisagens a serem exploradas por turistas”, afirmam.

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