“Mary Thomas”, a primeira estátua pública de uma mulher negra, na Dinamarca

“É preciso uma estátua como esta para tornar o esquecimento menos fácil. É preciso um monumento como este para lutar contra o silêncio, a negligência, a repressão e o ódio”.

por Wilds Gomes no Bantumen
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Não é fácil encontrar estátuas que representem África ou que representem negros que fizeram algo para tentar mudar o mundo, ou, pelo menos, a sociedade onde estavam inseridos.

Mas essa realidade, aos poucos, tem vindo a mudar. Na Copenhaga, Dinamarca, duas artistas, Jeannette Ehlers (à esquerda) e La Vaughn Belle (à direita), juntaram-se homenagear o legado de Mary Thomas, conhecida como “Queen Mary”.

Mary Thomas era conhecida como uma das “três rainhas” que desencadearam uma revolta em 1878, nos EUA, chamada “Fireburn”. Cinquenta plantações e a maior parte da cidade de Frederiksted em St. Croix, atualmente território nas Ilhas Virgens dos EUA, foram queimados, no que foi chamado de a maior revolta de trabalhadores da história colonial dinamarquesa.

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De frente para a estátua, vê-se a cabeça que está envolta de um turbante, sentada e descalça com um olhar forte. A cadeira é majestosa e alta, numa das mãos, Queen Mary segura uma tocha e na outra uma foice (ferramenta usada para cortar cana).

Num comunicado, La Vaughn Belle, que é uma das principais forças por trás da estátua, afirmou que “este projeto é um desafio à memória coletiva da Dinamarca. Noventa e oito por cento das estátuas na Dinamarca representam homens brancos”.

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Após a proibição do tráfico de escravos no transatlântico em 1792, a Dinamarca não se apressou em impor a proibição que só foi validada 11 anos depois.

“Era necessário terem dinheiro nos bolsos. E garantir que tinham escravos suficientes para manter as plantações em funcionamento”, ressalta Niels Brimnes, professor associado da Universidade de Aarhus e especialista em colonialismo na Dinamarca.

Mary Thomas foi julgada pelo seu papel na rebelião e viajou pelo Atlântico até à prisão de uma mulher em Copenhaga, Dinamarca. “Eu Sou a Rainha Maria” é o nome dado à estátua criada em sua homenagem, que fica em frente ao que antes foi um depósito de açúcar e rum do Caribe, a mais ou menos um quilómetro de onde Mary estava presa.

A estátua tem vários significados. A tocha e a foice simbolizam as estratégias de resistência dos colonizados. De acordo com as artistas, a posição em que Mary Thomas está, remete-nos para a “icónica fotografia de 1967, de Huey P. Newton, fundador do Partido dos Panteras Negras. A cadeira em si simboliza o coral cortado do oceano por africanos escravizados reunidos das ruínas das fundações de edifícios históricos em St. Croix”.

Henrik Holm, curador sénior de pesquisa da Galeria Nacional de Arte da Dinamarca, disse que “é preciso uma estátua como esta para tornar o esquecimento menos fácil. É preciso um monumento como este para lutar contra o silêncio, a negligência, a repressão e o ódio”.

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E ainda acrescentou que “nunca antes uma escultura como esta foi erguida em solo dinamarquês. Agora, a Dinamarca oferece uma escultura que aborda o passado, que  também é uma obra de arte para o futuro”.

Segundo estudos e historiadores, a Dinamarca ao longo dos séculos, não fez uma avaliação nacional sobre os milhares de africanos forçados a entrar em navios dinamarqueses para trabalhar nas plantações das suas colónias no Caribe. O professor Brimnes afirma que isso tem a ver com o fato da Dinamarca passar uma narrativa “não fomos tão maus quantos os outros”. Mas o professor não se deixa contagiar por essa forma de contar os factos. “Nós éramos tão maus quanto os outros. Não consigo identificar um colonialismo dinamarquês humano e particular”.

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