4 aprendizados fundamentais para lideranças a partir do legado de Tereza de Benguela

Você sabe quem foi a rainha Tereza de Benguela e como podemos aprender com essa grande matriarca africana sobre liderança?

Tereza de Benguela foi líder do Quilombo Quariterê, localizado em Mato Grosso no Brasil. Passou a ser mais conhecida nacionalmente após a Lei 12.987 de 2 de junho de 2014, que instituiu o dia 25 de julho como dia internacional de Tereza de Benguela e da Mulher negra.

Os quilombos africanos renascem no Brasil da exigência vital de uma sociedade livre organizada, a fim de resgatar a liberdade e dignidade dos povos escravizados, defender sua sobrevivência e assegurar a sua existência, se tornando assim, um sistema social alternativo, onde a liberdade era praticada e os laços étnicos e ancestrais eram revigorados. 

Dessa forma, destacamos a seguir, 4 lições importantes extraídas a partir do legado da rainha Tereza de Benguela construído com o quilombo Quariterê.

  1. Acolha a diversidade 

O quilombo Quariterê foi liderado pela rainha Tereza de Benguela e seu companheiro José Piolho, no qual conviviam e trabalhavam juntos povos de origem africana e indígena.

 Embora Tereza de Benguela viesse de Angola, costa atlântica do sul de África, liderava pessoas de diversas origens de civilizações africanas e ainda pessoas originárias pertencentes a povos majoritariamente filhos daquela terra.

Ou seja, tratava-se de um quilombo multiétnico com diferentes costumes, no qual a diversidade era integrada e acolhidas para o objetivo principal da comunidade: resistir e lutar pelo bem-viver.

  1. Aprenda com quem veio antes e enfrente os novos desafios

Após o falecimento de José, a matriarca Tereza de Benguela foi quem assumiu a liderança política, econômica e administrativa do quilombo, sendo sua mais alta gestão dos anos 1750 a 1770

A prova de que a rainha estava encorajada a enfrentar os novos desafios é que em sua gestão, houve superação de resultados evidentes, como o aumento na produção, a qual, além de alimentar cerca de 200 pessoas na comunidade, ainda servia para estabelecer relações comerciais.

  1. Inove colaborativamente

Tereza de Benguela foi se tornando uma hábil líder e negociante em favor da defesa de sua comunidade. Um diferencial na gestão da rainha bastante estudado é que manteve sua governança a modo de parlamento.  Era destinada uma casa específica para as discussões com o Conselho, onde as decisões eram tomadas coletivamente.

Criar ambientes colaborativos para tornar possível a participação das pessoas é propício para que grandes ideias surjam sem medo, melhorando processos e resultados.

  1. Prepare seus sucessores e deixe sementes

A rainha Tereza governou o quilombo Quariterê por cerca de 20 anos. Em 1970, há registros de que 79 pessoas do quilombo foram sequestradas, inclusive sua matriarca, que chega a se envenenar para não ser assassinada pelos escravistas.

Mas Tereza havia deixado sucessores, que conseguiram reconstruir e manter o quilombo até 1795, quando foram vítimas de outro ataque mais duro. Apesar de sua morte, a nossa rainha Tereza de Benguela deixou sementes e ainda hoje influencia gerações através de seu legado sobre liderança, estratégia e diversidade.


REFFERÊNCIAS

LACERDA, Thais de Campos. Tereza de Benguela: identidade e representividade negra. Revista de Estudos Acadêmicos de Letras,UNEMAT, v. 12, n. 2, 2019: https://periodicos.unemat.br/index.php/reacl/article/view/4113

MBEMBE, A. Crítica da Razão Negra. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 Edições, 2018a.

NASCIMENTO, Abdias. O Quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. 3ª ed. rev. São Paulo: Editora Perspectiva; Rio de Janeiro: Ipeafro, 2019.

NASCIMENTO, Beatriz. Uma história feita por mãos negras: relações raciais, quilombos e movimentos. Rio de Janeiro: Editora Schwarcz S.A., 2021. Organização: Alex Ratts.


** Luane Macedo é quilombola da 5a geração do quilombo Conceição (Bequimão-MA), quilombista, psicóloga CRP 22-04404, mestranda em psicologia/UFPE, possui MBA em Gestão de Pessoas/USP, é afroempreendedora e fundadora da Odú Psicologia – Consultoria Afrorreferenciada & Inclusiva (instagram: @odu.psicologia).


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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