Em participação no Entre Vistas desta semana, programa da TVT comandado por Juca Kfouri, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, defendeu a política de cotas raciais, tanto nas universidades, como no serviço público. Ao mesmo tempo, ela aposta na “transversalidade” da questão racial, trabalhando em parceria com outros ministérios para combater o preconceito, a desigualdade e a violência que afetam essa parcela, que é maioria da população brasileira.
Nesse sentido, Anielle defendeu políticas de inclusão para o povo negro como “reparação histórica”. Não apenas pelos mais de três séculos de escravidão, mas também pela falta de oportunidades iguais, que ainda persiste.
“Os brancos estão aí, desde que o mundo é mundo, tendo privilégios. Então é importante dizer que é reparação histórica. A gente pode citar Sueli Carneiro – filósofa, escritora e ativista antirracismo –, que fala que os brancos sempre tiveram cotas”, afirmou a ministra. “Nós somos 56% da população. E o que falta de verdade são oportunidades. Para que isso aconteça, a gente está dando um empurrãozinho”.
Nesse sentido, ela afirmou que “impossível” tratar das chamadas “pautas identitárias”, num país marcado pelo racismo. E lamentou que setores progressistas relativizem a importância da questão racial. “Temos muito o que caminhar, trocar, evoluir coletivamente”. Citando novamente Sueli Carneiro, Anielle afirmou que, “entre esquerda e direita, continuo preta”.
Marielle: democracia fragilizada
Anielle é irmã da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), executada com 18 tiros, no Rio de Janeiro, em março de 2018. O motorista Anderson Gomes também morreu na emboscada. Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz foram presos e são acusados como autores dos assassinatos. Mas, passados cinco anos, não se sabe quem foi o verdadeiro mandante.
Para a ministra, enquanto a morte da sua irmã não for devidamente solucionada, a democracia brasileira estará ameaçada. Ela relatou que, para a família e pessoas próximas, a perda de Marielle ainda representa um “buraco” muito grande.
“Toda vez que paro e penso por que a Mari, vêm muitas coisas na minha cabeça, muitas especulações. Mas o que eu sei é que, enquanto a gente não conseguir responder minimamente quem mandou matar Marielle e por que, a gente segue tendo violência política, segue tendo a nossa democracia fragilizada”. No mês passado, por ordem do Ministério da Justiça, a Polícia Federal (PF) abriu novo inquérito para auxiliar nas investigações.
Filhas da Maré
Anielle disse que a irmã “tinha uma missão”, e hoje serve de exemplo a muitas pessoas que lutam pelos direitos humanos. E conta que se emocionou quando presenciou uma multidão gritando o nome de Marielle, quando participou de um ato de campanha de Lula no Complexo do Alemão, em outubro passado.
“Fiquei muito emocionada, porque depois de tudo o que nós passamos, ver o Lula ali, numa favela do Rio de Janeiro, com aquelas pessoas, muitas mulheres negras faveladas, me deu esperança de dias melhores. Falei: ‘essa eleição é nossa’”.
Nesse sentido, Anielle afirma ter orgulho das suas raízes, fincadas noutro complexo de favelas do Rio de Janeiro, o da Maré. “A Maré forma gente, ensina a ter a sagacidade de viver, num país onde, infelizmente, ainda tem muitos jovens negros que morrem diariamente”.