Ato no Rio critica governador e lembra mortes no Jacarezinho

FONTEPor Luís Costa, da Folha de S.Paulo
Diante de pôster de Marielle, manifestante participa de protesto contra violência policial e racismo no Rio - Ricardo Moraes/Reuters

Um ato contra o racismo e a violência policial contra pessoas negras marcou as manifestações pelo 13 de Maio na noite desta quinta-feira (13), no Rio.

Com pedidos pelo fim da Polícia Militar e palavras de ordem contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador Cláudio Castro (PSC), os manifestantes percorreram o trajeto de aproximadamente 1 km entre a Igreja da Candelária e a Cinelândia, no centro.

A manifestação acontece uma semana após a operação policial que matou 28 pessoas, entre elas um policial civil, na favela do Jacarezinho, na zona norte.

Organizado pela Coalizão Negra por Direitos, movimento que reúne cerca de 200 organizações do movimento negro em todo o país, o ato foi marcado pelo depoimento de mães de vítimas de ações policiais em favelas cariocas. Houve protestos em várias outras capitais do país, entre elas São Paulo.

Moradora da favela do Chapadão, na zona norte, Jaqueline Fernando, 43, foi uma das mulheres que subiram ao carro de som para discursar.

Ela conta que perdeu o filho, Heverton, 23, atingido por um tiro durante uma ação policial, em junho de 2019. Ele saía para ir ao mercado.

“Meu filho foi alvejado pelas costas. Me trataram como lixo na delegacia, zombando da minha cara, dizendo que lá que não tinha só meu filho morto, tinham mais seis”, afirma. Heverton deixou deixou dois filhos, de 1 e 2 anos.

Ana Paula Oliveira era mãe de Jonathan, morto em 2014, aos 19 anos, por um policial da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da favela de Manguinhos.

“Esse policial tem as mãos sujas com o nome do meu filho, mas todo o sistema judicial nos mata com canetadas. São sete anos na busca por memória, por verdade e justiça. Não irão nos calar. Os nossos mortos têm voz, os nossos filhos têm mãe”, disse.

Wesley Teixeira, 25, integrante da Coalizão, diz que o grupo tem feito mobilizações por vacina, por auxílio emergencial e contra a fome. “No meio disso, tentam nos matar e precisamos fazer atos como o do 13 de Maio para lembrar que a Abolição não foi concluída”, disse.

“Essas mulheres representam a gestação de todo mundo que é ceifado todos os dias. Elas representam a dor dos seus filhos que não estão aqui para falar por eles”, disse.

Ao longo do ato, parlamentares e integrantes de organizações do movimento negro também discursaram contra a violência policial.

“No Brasil não tem pena de morte, mas tem na favela. Sempre foi assim”, disse o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ).

A deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) criticou a politica de segurança pública dos governos federal e estadual, que classificou como genocida. “O povo negro foi obrigado a ir pra rua para lutar por sua vida. Quem está na favela está sendo assassinado, massacrado por uma política de segurança que aposta na guerra, no confronto, na morte”, disse.

Durante o ato, um manifesto foi lido do alto-falante. “Nem bala, nem fome, nem Covid. O povo negro quer viver”, dizia o texto.

O manifesto fez críticas à falta de políticas para a proteção de pessoas negras durante a pandemia de Covid-19 e exigiu investigação independente sobre a operação do Jacarezinho.​

“Ainda não há outro nome para o que ocorre nas periferias, senão uma verdadeiro genocídio contra o povo negro.”

 

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