Em São Paulo, ato contra racismo lembra vítimas de violência policial

No dia que marca a assinatura da Lei Áurea, nesta quinta-feira (13), movimentos negros por todo o país convocaram atos em protesto contra a morte de 28 pessoas na favela do Jacarezinho. Em São Paulo, a manifestação teve início na Av. Paulista e lembrou o nome de vítimas de violência policial.

A operação da última quinta-feira (6) foi a ação policial mais letal da história do estado do Rio de Janeiro. Um policial civil também morreu. Na ocasião, moradores relataram tiroteios, uso de helicópteros da polícia e blindados. Vídeos e fotos mostram manchas de sangue dentro de residências, além de corpos sendo carregados por agentes.

Na primeira versão, a polícia disse que o objetivo da operação era apurar aliciamento de menores. Um novo relatório elaborado no último domingo mostrou, no entanto, que a incursão tinha como objetivo o cumprimento de 21 mandados de prisão.

Organizados pela Coalizão Negra por Direitos em parceria com outras lideranças negras, os protestos ocorreram em diversas outras capitais, como Rio de Janeiro, Rio Branco, Fortaleza, Salvador, Goiânia, Teresina, Maceió, João Pessoa, Macapá, Natal, Belo Horizonte, Porto Alegre, Vitória, São Luís, Belém, Cuiabá e Brasília.

Na capital paulista, sob o mote “Nem bala, nem fome, nem Covid, o povo negro quer viver”, os nomes de Marielle Franco, Amarildo de Souza, Beto de Freitas e de diversas vítimas de violência policial foram lembrados. Episódios como a Chacina da Candelária e os Crimes de Maio também foram citados.

De acordo com a organização, havia cerca de 7.000 pessoas presentes. Devido à pandemia, os manifestantes usavam máscaras, mas não mantinham distanciamento. Do carro de som, as lideranças pediam para que as regras fossem respeitadas.

Os organizadores fizeram arrecadações de máscaras PFF2 (N95) para serem distribuídos nos atos. No Rio de Janeiro, 3.300 máscaras foram distribuídas, enquanto na cidade de São Paulo foram cerca de 1.000.

“Sem justiça, sem paz”, “Eu quero o fim da Polícia Militar” e “Chega de chacina” foram algumas das falas mais repetidas. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi um dos poucos políticos lembrados na manifestação, aos gritos de “Fora Bolsonaro Genocida”.

Três dias após o massacre no Jacarezinho, o presidente fez uma postagem nas redes sociais declarando que as pessoas mortas pela polícia eram “traficantes que roubam, matam e destroem famílias”. Na mesma publicação parabenizou a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Além de pedir justiça pelos mortos no Jacarezinho, as lideranças do movimento negro também reivindicam o fim da violência policial, a aceleração da vacinação no país e a melhora do auxílio emergencial. Também citaram a melhora na educação, principalmente em ambientes vulnerabilizados como as favelas.

A manifestação desceu a rua da Consolação e seguiu rumo à praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Desde o início, a Polícia Militar contava com grande efetivo de agentes e cavalaria. Agentes com armas de bala de borracha e câmeras corporais, um projeto piloto da Secretaria de Segurança Pública de SP, estavam presentes.

Douglas Belchior, uma das lideranças da Coalizão Negra por Direitos e organizador do ato, lembrou que o 13 de maio não é uma data de comemoração, mas de denúncia contra o racismo.

“O racismo é um sistema de dominação que o Brasil está assentado historicamente. O Jacarezinho semana passada o que nós vimos foi mais um capítulo do genocídio histórico”, disse. “Apesar do avanço da consciência racial no Brasil a sociedade brasileira não se comove. Não é possível imaginar aquela chacina num bairro de branco ou em um bairro de classe média, só é possível imaginar nos bairros negros.”

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