Autora de ‘Um Defeito de Cor’, Ana Maria Gonçalves fala de adaptação da obra para TV

(Foto Leo Pinheiro / Divulgação/ Revista Cult)

A autora esteve no II Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura, que aconteceu nos dias 19, 20 e 21 de março, no Sesc Pinheiros, em São Paulo

Por Alexandre Pequeno, do Acritica.com
(Foto Leo Pinheiro / Divulgação/ Revista Cult)

A literatura e a linguagem servem para a criação de novos mundos, criação de novas possibilidades, por isso são tão importantes nos dias de hoje. A fala da autora brasileira Ana Maria Gonçalves sintetiza o que foi debate no II Seminário internacional Arte, palavra e leitura, ocorrido nos dias 19, 20 e 21 no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Ana Maria Gonçalves esteve presente na mesa “Direitos humanos e literatura”, ao lado de Bianca Santana e Sara Bertrand, e falou sobre feminismo negro e preconceito racial no Brasil. Autora de “Ao lado e à margem do que sentes por mim” e “Um defeito de cor”, se prepara para ver o segundo livro nas telinhas do país. A obra publicada em 2006, ganhadora do Prêmio Casa de las Américas, será transformada em supersérie para ser exibida na TV Globo.

Dez anos após a publicação da obra que conta a trajetória da personagem histórica Luísa Mahin, as discussões em torno do racismo no Brasil são atualizadas, segundo a autora. “Não estamos mais lidando com concessões. Quando entro num espaço e estou falando para um público branco, preto, militante ou não, não me interessa, não encaro aquilo como uma concessão do espaço, tenho direito de estar ali, de expor minhas ideias e de não amaciar”, afirma.

“A nossa meta é continuar falando, denunciando. Temos que ter esse diálogo que deve ser cultural, onde as pessoas não sintam culpa, e sim responsáveis. O Brasil tem uma tradição de que ‘foram os outros, meus antepassados, não sei’. Quando a pessoa chega pra mim e fala ‘não sou racista’, eu começo a duvidar. O que somos hoje em dia é ‘antirracista’, falando de preconceito de forma que não se manifeste mais”, completa.

Mulheres inspiradoras

Na infância, Ana Maria conta que sua mãe foi uma grande inspiração para sua inserção no universo literário. “Cresci numa casa onde minha mãe é uma das pessoas que mais leem que eu conheço. Lembro dela varrendo a casa com a vassoura numa mãe e o livro na outra, isso era parte do cotidiano. Quando a gente começava a encher o saco dela, ela ia lendo o que tivesse na mão de voz alta e eu lembro de trechos daqueles livros e ia criando histórias”, conta.

Atualmente, Ana Maria sorri ao tentar enumerar de mulheres fortes e presentes na literatura que admira, pois as possibilidades são infinitas.

“Minha primeira inspiração ao pensar em escrever foi a Toni Morrison, escritora estadunidense, tudo que ela pensa, tudo que escreve. No Brasil, comecei a ler Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, que não é uma literatura de ficção mas eu uso na minha literatura de ficção, chegando até Cidinha da Silva, Jarid Arraes, por exemplo. É tanta gente que é difícil listar”, brinca.

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Livro na TV

Para o ano que vem, a TV Globo prepara uma supersérie para o horário das 23h tendo seu livro “Um defeito de cor”, como ponto de partida. “Vai sair em 2020. Conversei com a Maria Camargo [roteirista], não quero acompanhar, não tenho desapego o suficiente. Uma das coisas que consegui conversar com eles foi de ter uma equipe feminina e negra, e isso tem. Temos dois homens negros, uma mulher negra e mais um homem e duas mulheres brancas”, se orgulha. A produção conta ainda com consultoria de Nei Lopes e pesquisa de Eduarda Azevedo.

PERFIL

Ana Maria Gonçalves nasceu em Ibiá (MG) em 1970. Trabalhou com publicidade até 2001, quando se mudou para Ilha de Itaparica e escreveu “Ao lado e à margem do que sentes por mim” e “Um defeito de cor” (Editora Record), ganhador do Prêmio Casa de las Américas (Cuba, 2007). Já publicou em Portugal, Itália e nos EUA, onde ministrou cursos e palestras sobre relações raciais e fez residência em universidades como Tulane, Stanford e Middlebury. Mora em São Paulo, onde escreve também para teatro, cinema e televisão.

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