Cinco formas de exercer o seu antirracismo – Parte 2

Há algumas semanas, aqui mesmo nesta coluna Negras Que Movem, eu publiquei um artigo contendo cinco formas de enfrentamento ao racismo. Elas foram elencadas a partir do Pequeno Manual Antirracista, de autoria de Djamila Ribeiro.

Como prometido no referido artigo, hoje eu trago a continuação do primeiro texto. Sem mais demora, vamos a mais cinco maneiras de exercer o antirracismo no nosso cotidiano. 

1. Transforme seu ambiente de trabalho

Esse tópico tem muito a ver com o meu primeiro livro, o Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho, com o qual tive a honra de me lançar oficialmente como escritora e ter alcançado conquistas que muito me orgulham e emocionam. Ao falarmos sobre ambiente de trabalho e sobre como podemos ser antirracistas nesse espaço, uma das primeiras perguntas que podemos fazer é: qual a proporção de pessoas brancas e negras na empresa em que você atua? E em quais cargos? Há pessoas negras em posições de gerência e chefia? É preciso racializar, também, esse questionamento. E é preciso, ainda, atentar-se ao perigo da história única. Não é porque há apenas uma pessoa negra nesses espaços, em um universo de inúmeras pessoas brancas, que a empresa cumpriu o seu papel. É necessário que haja representatividade de fato, que ela seja significativa e real.

2. Leia autores negros

Mais uma vez, esse é um tópico que reflete, e muito, a minha própria trajetória. Vira e mexe, falo sobre a importância de apoiarmos autoras e autores negras e negros. Inclusive, esse é o tema de um outro artigo que escrevi aqui na coluna Negras Que Movem, publicada coletiva e semanalmente no Portal Geledés – Instituto da Mulher Negra. Aliás, fica o convite para quem ainda não leu e espero que a leitura também seja significativa para vocês. Precisamos combater o apagamento da produção e dos saberes negros. Precisamos apoiar iniciativas lideradas e obras escritas por pessoas negras. E isso inclui adquirir nossas obras, refletir sobre o que escrevemos e divulgar o nosso trabalho. Já passamos tempo demais sob as hostes do silenciamento. Como já nos ensinou Conceição Evaristo: “para a mulher negra, escrever é um ato político”. Valorize nossas escritas, nossos saberes, nossa política e nossa intelectualidade.

 3. Questione a cultura que você consome

Quem são as pessoas escolhidas para representar a marca que você consome? Quais os papéis destinados a artistas negros em filmes, séries ou novelas? Esses questionamentos podem nortear as análises referentes à indústria cultural. São temas, inclusive, que costumo abordar nos eventos em que participo. Em outro artigo que escrevi aqui para a coluna, analisei os papéis destinados às personagens interpretadas por atrizes negras em uma novela das 19h da TV Globo. Os links diretos para os textos, aliás, também estão disponíveis nos meus perfis no Instagram (@jaquefraga_ e @livronegrasou) e será um prazer ter vocês como leitoras e leitores. Novamente, a representatividade precisa vir acompanhada de um compromisso real com características positivas. Não dá para achar normal que atores e atrizes negras representem, sempre, personagens subalternas, marginalizadas ou com falhas de caráter. 

4. Conheça seus desejos e afetos

Um dos danos que o racismo gerou está muito relacionado à autoestima e ao bem estar das pessoas negras. Ou, melhor, ligado a práticas que afetam a autoestima e o bem estar. Desde crianças somos ensinados que nossas características e nossos traços não são belos. Daí a importância de não atribuirmos características negativas ao fenótipo negro. Também é necessário combater a hipersexualização de pessoas negras. Há muito exemplos, inclusive midiáticos e que perduraram por anos, que atribuem sexualização excessiva a corpos negros – vide a Globeleza dos anos 1990 e 2000, por exemplo. Além disso, devemos lembrar que o afeto também é construído e que é essencial enxergarmos a nossa própria beleza.

5. Combata a violência racial

A população negra está mais exposta a violência no Brasil. Pessoas negras representam 71,5% dos assassinados no país. Um jovem negro morre a cada 23 minutos no Brasil. São dados que refletem como a vida negra parece importar menos, ou, muitas vezes, nem importa. Ao menos não aos olhos de uma branquitude que pouco faz diante desses números. É preciso políticas públicas que combatam, realmente, essa violência racial. Vidas negras precisam importar de fato, não podemos continuar perdendo histórias como se nada fossem e pouco valessem.

Sobre a autora

Jaqueline Fraga é escritora, jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco e administradora pela Universidade de Pernambuco, com MBA em Comunicação e Jornalismo Digital pela Universidade Cândido Mendes. Apaixonada pela escrita e pelo poder de transformação que o jornalismo carrega consigo, é autora do livro-reportagem “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”, finalista do Prêmio Jabuti, e do “Big Gatilho: um livro de poemas inspirado no BBB 21”. Também é coautora do livro “Cartas para Esperança”. Escreve por profissão, prazer e terapia. Escreve porque respira, respira porque escreve. Pode ser encontrada nas redes sociais nos perfis @jaquefraga_ (Instagram e Twitter) e @livronegrasou (Instagram). 

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.


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