A comédia alemã e a violência nas favelas

As favelas cariocas vêm passando por uma nova transformação. Não se tem mais  tanta certeza da “paz” alardeada já há alguns anos. Paz essa que, com todas as ressalvas possíveis, só era dita existente pela ausência dos tiroteios e mortes sistemáticas.

Por Mônica Francisco, do Jornal do Brasil 

Estamos assistindo a um crescente número de conflitos e mortes, que nos fazem refletir sobre todas as advertências feitas ao longo destes oito anos. Muito se falou. Inclusive o próprio longevo secretário de Segurança do estado do Rio de Janeiro em várias ocasiões foi enfático em dizer que a segurança pública não se resume ao aparato policial.

Não podemos depositar todas as fichas em um estado policial, isso não dá certo. E no caso do Rio de Janeiro, os números da violência anunciam o tamanho dessa tragédia cotidiana que vitimiza, segundo o Mapa da Violência 2016, elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública(FPSP), jovens negros que vivem nas áreas mais vulnerabilizadas, áreas de pobreza e com escolaridade baixa.

É lastimável se perpetrar contra toda uma população, ação tão assustadora e um contingente tão violento. Trata-se sem meias palavras de uma forma cruel e tragicamente naturalizada por grande parte da sociedade, de controle e punição dos pobres.

É necessário repensar com a máxima urgência a forma de se fazer a segurança pública no Brasil, de se levar a cabo uma guerra completamente ineficaz contra as drogas e que nos brinda com a macabra contabilidade de mais de 59 mil jovens mortos, e que entre os de pele negra os índices só fizeram aumentar em 18,2%, contra a diminuição de 14,6% para aqueles que não são negros.

Há duas semanas assisti a um filme alemão, o já comentado “Ele está de volta”, baseado no livro homônimo de Timur Vermes. O filme do diretor David Wnendt, classificado como comédia, está mais para a terminologia original do gênero. Um Hitler que retorna à Alemanha de 2011 e que encontra a simpatia de seus compatriotas.

Nas cenas finais, o líder nazista diz que é impossível extinguir sua presença, porque ela está dentro de cada um dos seus compatriotas, e arrisco dizer muitos cidadãos espalhados pelo globo (as cenas dos refugiados que nos chegam a cada dia mostram isso). Talvez essa reflexão sirva para nós. Alardeamos que tais momentos jamais devem se repetir, mas por aqui promovemos nosso genocídio anual.

Como convive em paz uma sociedade onde os seus jovens negros tem 147% de chances de morrer, e na maioria dos casos de arma letal e maneira violenta? Talvez só uma comédia alemã para nos dar o caminho para essa resposta.

* Mônica Santos Francisco – Consultora na ONG ASPLANDE, Colunista no Jornal do Brasil. Coordenadora do Grupo Arteiras

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