Crítica: Kendrick Lamar mira alto e acerta nos alvos em ‘DAMN.’

Rapper critica racismo e fama em seu disco mais ambicioso, lançado em plena Sexta-Feira Santa

Do O Globo

Disputar com a Paixão de Cristo as atenções nesta sexta-feira pode ter sido uma grande petulância da parte do americano Kendrick Lamar — o mais importante artista de hip-hop da atualidade — no lançamento de seu quarto álbum, “DAMN.” (e ainda maior caso se confirmem as desconfianças de que ele soltará um outro álbum, inteiro, no domingo de Páscoa).

Mas o muito aguardado sucessor de “To pimp a butterfly” (2015), disco que pôs o MC nascido há 29 anos em Compton, violenta cidade no condado de Los Angeles, entre os grandes nomes do rap de todos os tempos, é uma inspirada coleção de 14 canções interligadas, que podem ser ouvidas como se lê os melhores romances: na expectativa por emoções, mistérios e reflexões que só a arte pode proporcionar.

Referências à Bíblia e aos ataques equivocados que sofreu da Fox News desde que sua “Alright” virou uma espécie de hino daqueles que se revoltaram contra o racismo nos EUA foram a base para que Kendrick construísse “DAMN.” — um disco que não é pregação, não é jorro niilista de raiva, mas bem mais do que tudo, uma grande e matizada narrativa sobre danação e redenção, com participações de estrelas como Rihanna e Bono Vox, do U2.

Os raps — uma aula de fraseado e ritmo — e as demais falas incluídas são elementos centrais do disco desse artista que é a grande atração este domingo do festival californiano Coachella. Desta vez, não estão lá os elementos jazzísticos de “To pimp” (que teriam inspirado David Bowie em seu derradeiro álbum, “Blackstar”), mas bases bem mais ortodoxas, que ajudam a construir as histórias.

“DAMN.” começa com “BLOOD.”, vinheta na qual Kendrick relata ter sido atingido por um tiro dado por uma senhorinha cega que tentava ajudar. Seguindo-se a ela, está “DNA.”, de caudalosa letra e desesperado tom, que invetaria o destino do negro na América (“Sexo, dinheiro, assassinato — o nosso DNA”) e que reproduz, em sample, o infeliz comentário de Gerardo Rivera, da Fox News (motivado pelo sucesso de Kendrick), de que “o hip-hop causou mais dano aos jovens negros nos Estados Unidos do que o racismo”. Em “YAH.”, mais ralentada, o rapper volta ao apresentador, com suas rimas cortantes: “Alguém diga a Gerardo que esse crioulo tem alguma ambição.”

O disco estabelece curiosos jogos de correspondência entre faixas próximas. Se na introspectiva “PRIDE.”, Kendrick diz “não posso fingir humildade só porque você é inseguro”, logo em seguida vem “HUMBLE.”, contraponto musical e temático, em que recomenda a rappers e ouvintes que baixem um pouco a bola na vida. Mesma coisa acontece com “LUST.” (assustador retrato do vazio que é a vida sexual promíscua de um astro do rap) e a faixa seguinte, a desvergonhadamente romântica “LOVE.”.

No meio de tudo, “DAMN.” apresenta algumas faixas individualmente fortes, como “ELEMENT.” (sobre o estado de coisas no rap), “FEEL.” (mais uma falando do vazio que decorre da fama), “FEAR.” (em que o rapper conta sobre o medo que teve de morrer aos 7, 17 e 27 anos), “LOYALTY.” (o candidato a hit do disco, com participação de Rihanna) e a seca “XXX.”, com Bono, em que Kendrick conversa com um amigo que teve seu filho assassinado.

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