EUA condenam à prisão perpétua homens brancos que mataram Ahmaud Arbery

Jovem negro praticava corrida em bairro de maioria branca quando foi perseguido e morto

FONTEFolha de São Paulo
Ahmaud Arbery foi morto por um ex-policial enquanto se exercitava na rua/Arquivo Pessoal

A Justiça da Geórgia, nos Estados Unidos, condenou nesta sexta-feira (7) à prisão perpétua três homens brancos pelo assassinato de Ahmaud Arbery, homem negro que foi morto enquanto praticava corrida em um bairro de maioria branca no estado do sul dos EUA.

O caso aconteceu em fevereiro de 2020. Arbery, 25, estava desarmado e foi morto com um tiro de uma espingarda disparado por um morador, que o perseguia junto com o pai e um vizinho, na cidade de Brunswick.

Foram condenados Gregory McMichael, 65, seu filho Travis, 35, e o vizinho William “Roddie” Bryan, 52 — este, ao contrário dos dois primeiros, poderá pedir liberdade condicional depois de 30 anos, sentença mínima para homicídio segundo as leis do estado.

Travis McMichael, um dos condenados à prisão perpétua por matar jovem negro que praticava corrida em bairro branco nos EUA – Stephen B. Morton/Reuters

Na audiência em que a sentença foi dada, familiares de Arbery disseram que o jovem, que tinha 25 anos, foi morto por ser negro.

“Ele tinha a pele escura, que brilhava no sol como ouro. Tinha o cabelo encaracolado, que gostava de trançar. Tinha um nariz largo e a cor de seus olhos era cheia de melanina”, disse Jasmine, irmã da vítima. “Essas são as qualidades que fizeram esses homens presumirem que Ahmaud era um criminoso perigoso. Para mim, essas qualidades refletiam um jovem cheio de vida e energia que se parecia comigo e com as pessoas que amo.”

A defesa disse que vai recorrer.

O assassinato intensificou protestos nacionais contra o racismo e a violência policial no ano passado, depois que um vídeo do tiroteio, gravado com um celular, foi difundido. As imagens não deixavam dúvidas de que Travis McMichael havia disparado três vezes em Arbery à queima-roupa.

“Foi uma cena assustadora e realmente perturbadora”, disse o juiz Timothy Walmsley sobre o vídeo nesta sexta-feira. Segundo ele, Arbery foi “caçado, baleado e morto porque os indivíduos no tribunal fizeram justiça com as próprias mãos”.

É justamente por causa da falta de sensibilidade captada nas imagens, de acordo com a interpretação da Justiça, que os McMichaels não poderão pedir progressão de pena para a liberdade condicional em 30 anos, segundo o juiz.​

Os três homens brancos já haviam sido condenados em novembro, e agora receberam a sentença. Na ocasião, eles foram considerados culpados por homicídio, lesão corporal qualificada, cárcere privado e intenção criminosa de cometer um crime.

Os advogados dos McMichaels argumentaram que o assassinato se justificava por ter ocorrido depois que Arbery passou correndo pela garagem da família, em um bairro que havia sofrido uma onda de roubos recentes. Os acusados disseram que pensaram que o rapaz poderia estar por trás de roubos —não surgiram quaisquer evidências de crimes cometidos pela vítima durante suas frequentes corridas pelo bairro.

A argumentação da defesa se baseava em uma lei da Geórgia, agora revogada, que permitia que cidadãos prendessem suspeitos de cometer crimes. Esse argumento não foi aceito.

Pai e filho pegaram suas armas e perseguiram Arbery em uma caminhonete. Bryan, desarmado, juntou-se aos dois momentos depois. Foi ele quem gravou Travis McMichael disparando com uma espingarda à queima-roupa. Arbery não carregava nada além de suas roupas de corrida e tênis.

“Eles escolheram meu filho porque não o queriam em sua comunidade”, disse Wanda Cooper-Jones, mãe de Arbery, no tribunal nesta sexta-feira. “Quando não conseguiram assustá-lo ou intimidá-lo o suficiente, eles o mataram.”

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