Governo da BA afirma haver ‘racismo e ódio aos pobres’ em morte de tio e sobrinho que furtaram carne

O secretário da Segurança da Bahia, Ricardo Mandarino, reconheceu que há componentes de racismo e de ódio aos pobres na morte de Bruno Barros da Silva, 29, e Ian Barros da Silva, 19, assassinados na última semana em Salvador após furtarem carne em um supermercado.

Tio e sobrinho, Bruno e Yan foram flagrados por seguranças furtando pacotes de carne no supermercado Atakadão Atakarejo, em Amaralina. No mesmo dia, ambos foram encontrados mortos no porta-malas de um carro com tiros e sinais de tortura, no bairro da Brotas.

O supermercado Atakarejo não registrou boletim de ocorrência do furto, segundo informou a Polícia Civil. Familiares das vítimas dizem acreditar que tio e sobrinho foram entregues pelos seguranças do supermercado a traficantes.

“Trata-se de um delito resultado desse conceito vil, tosco, desumano, deturpado de que ‘bandido bom é bandido morto’. Há, nessa ação abjeta, um componente forte de racismo estrutural e ódio aos pobres. Na cabeça dessa gente torpe todo pobre e preto é bandido”, afirmou o secretário de segurança da Bahia.

Mandarino não deu detalhes sobre as investigações em andamento, mas adiantou que, “se alguém se valeu de milicianos, de integrantes do crime organizado” para matar tio e sobrinho, será considerado coautor do delito.

“Uma vez identificado, será indiciado. Esteja a sociedade certa disso”, informou o secretário.

A Polícia Civil da Bahia informou que já tem indicativo de autoria do crime, mas não deu detalhes para não prejudicar as investigações. Os investigadores colheram depoimentos de ao menos dez pessoas e coletaram imagens das câmeras de vigilância do Atakadão Atakarejo, que estão passando por perícia.

A delegada-geral Heloísa Campos de Brito, que acompanha as investigações, prometeu rigor na apuração do caso: “Todos os envolvidos com este crime serão responsabilizados, sejam eles quem forem, no rigor da lei”.

Em nota, o supermercado Atakadão Atakarejo informou que “é cumpridor da legislação vigente e atua rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais. Não compactua com qualquer ato em desacordo com a lei”.

O advogado Andrey Sudsilowsky, que acompanha o caso, informou que ainda não teve acesso ao inquérito policial. Mas adiantou que a família buscará reparação caso seja constatada a participação de funcionários do supermercado no desfecho do crime.

O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Estado da Bahia, pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da Bahia e pela seccional local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Entidades do movimento negro de Salvador têm realizado protestos cobrando apuração do crime e punição para os culpados.

“Foi um ato brutal, uma barbárie que não tem justificativa. É um caso que acontece em um contexto de pandemia, no qual as pessoas estão passando fome. E os autores do suposto furto foram julgados em um tribunal paralelo”, disse Eldon Neves, presidente da Unegro na Bahia.

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Quem tem fome quer comida, não a morte!

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