Quem tem fome quer comida, não a morte!

Enviado por / FonteCoalizão Negra Por Direitos

A Coalizão Negra por Direitos, articulação composta por mais de 200 organizações do Movimento Negro Brasileiro, repudia veementemente os cruéis assassinatos de Bruno e Yan Barros, na cidade de Salvador, na Bahia. O depoimento de familiares e testemunhas, amplamente noticiado local e nacionalmente, atestam que a segurança privada do supermercado Atakadão Atakarejo, localizado no bairro de Amaralina, reteve Bruno e Yan e, na sequência dos acontecimentos, ambos foram entregues a um grupo de traficantes da região e, finalmente, assassinados.

Os dois jovens acusados de furto de carne foram retidos no pátio do supermercado, como demonstram as fotos divulgadas, arrastados pelas ruas do bairro, espancados, torturados e executados, com imagens divulgadas nas redes sociais.

Essa prática sugere um nítido conluio que se consolida também em outras regiões do país, entre supermercados e outros estabelecimentos comerciais com  facções criminosas, milicianos e narcotraficantes, que prendem, torturam, decidem pôr fim à vida de cidadãos negros e permanecem impunes, sob o amparo da necropolítica do estado e do poder econômico.

Depois das denúncias e da repercussão midiática, é comum a gerência da empresa divulgar uma nota negando compactuar com práticas criminosas – o que fora feito, mas evidências de amplo domínio público e a desenvoltura dos seguranças, que não se deixam intimidar nem por gravações de vídeo, demonstram exatamente o contrário do que afirmam gerentes e demais gestores das empresas envolvidas.

Numa conjuntura de fome, desemprego e pandemia os esquadrões da morte seguem diversificando suas práticas assassinas e a mesma articulação criminosa, que parece ter tomado de assalto a política brasileira, associa-se de forma assustadora aos supermercados e faz vítimas preferencialmente negras.

A mãe do jovem Yan, desesperada, gritava que seu filho morreu com fome. Se tem gente com fome, dá de comer, como afirmam os versos de Solano Trindade, que sintetizam a campanha humanitária da Coalizão Negra por Direitos. Quem tem fome, quer comida, quer comer, quer viver.

Infelizmente, com o avanço da fome no país, situações de pessoas famintas buscando alimentos tendem a se repetir. Supermercados e empresas contratadas para o exercício do serviço de segurança privada devem ser controladas e fiscalizadas no uso extremo da força, para que sejam evitados acontecimentos como esse de Salvador ou mesmo como o de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, quando Beto Freitas foi morto por seguranças do Carrefour em novembro de 2020.

É fundamental que o Poder Público atue para o enfrentamento dessa violência que amplia ainda mais o processo de extermínio negro. Não só aqueles que praticaram atos tão atrozes precisam ser responsabilizados por suas práticas criminosas, mas também, as empresas que legitimam o racismo nas suas organizações, resultando em violência física contra os corpos negros. O duplo assassinato é o ato final de barbárie explicita e racismo sistêmico que se abate sobre a população negra brasileira.

Externamos nossa mais profunda solidariedade à Mãe e familiares de Bruno e Yan. Práticas autoritárias e assassinas não conseguirão calar!

EXIGIMOS RIGOROSA APURAÇÃO DOS ASSASSINATOS.

Este é mais um caso que demanda empenho máximo e celeridade nas investigações por parte dos órgãos de controle e do sistema de justiça, além de publicidade, pela garantia do direito à informação e para acompanhamento da sociedade, até a efetiva responsabilização de todas/os as/os envolvidas/os.

Coalizão Negra por Direitos acompanhará o caso.

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