Histórias de Trancoso, contos de Carochinha e causos da tia Custódia – Um causo para Inácio: a arte de ser Mágico de Oz

Meu neto Inácio Oliveira Fernandes chegou aos pampas gaúchos no romper da madrugada de 4 de agosto. Filho da Débora e do Paulo, ainda infante, tem uma agenda com o Brasilzão, o cosmopolita e o profundo, para conhecer uma grande família no Nordeste, no Centro-Oeste e as delícias dos ares das montanhas de Minas, pois Belo Horizonte é parte do DNA de nossas vivências. Ele também terá de aprender e se conformar que nasceu numa família de mulheres falantes de nascença, então, que prepare as “oiças” para a bodejação

Por: Fátima Oliveira

Inácio é um mimo para nós e alegra nossas vidas, a exemplo do Mágico de Oz, que atendeu a todos: ao Espantalho, deu um cérebro de alfinetes – com o qual, o feliz boneco de palha julga-se o ser mais inteligente do mundo; ao Homem de Lata, um coração falso; ao Leão, uma beberagem de coragem; e, para Dorothy, construiu um outro balão para sair de Oz. Sonho que ele ame poesia e aprenda com Fernando Pessoa que “um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é”.

Tenho um repertório de lindas histórias de Trancoso, contos de Carochinha e causos da tia Custódia, que eu venerava, e que “não tinha onde morar e rodava as casas dos parentes, de uma casa para outra até a próxima briga. Fazia uma comida maravilhosa, contava belas histórias, fazia renda de bilro e fiava algodão. Mas era uma encrenqueira de marca maior quando decidia beber cachaça. Aprontava. Passava meses e até anos sem beber um gole, mas, quando bebia, adeus, censura, ficava nua na rua”, para mostrar o “delegado” quando a molecada dizia que ia chamar o delegado…

Ouvirá histórias da meninice da mãe: um “vestido de Luiz Gonzaga”, feito por exigência do bisavô Braulino para levá-la a um show do velho Lua no qual o pai velho a colocou nos braços de Gonzagão dizendo: “Mestre, eu trouxe a minha bisneta para lhe conhecer, pá, quando ficar grande, poder dizer que conheceu Luiz Gonzaga, o Rei do Baião”. Era 1983, show de Luiz Gonzaga no Clube Tocantins, em Imperatriz (MA). “O bisavô, que insistiu em ver antes com qual roupa ela iria, queria a bisneta bem bonita para conhecer o ídolo dele. Roupa de gala, disse-me ele. Exigência satisfeita, pois o vestido da Débora era de ‘broderi’ (brocado) com pequenas flores. Belíssimo e tão especial que ela o chamava de ‘meu vestido do Luiz Gonzaga'” (O TEMPO, 2.7.2003).

Assim sendo, Inácio, um gauchinho de raízes lá do sertão do Maranhão, vai transitar entre fandango e música do sertão nos maviosos acordes dos sanfoneiros do Sul e do Nordeste e aprenderá a cantar “É Disso que o Velho Gosta”: “…Meu pai era um gaúcho que nunca conheceu luxo/ Mas viveu folgado enfim, e quando alguém perguntava/ O que ele mais gostava, o velho dizia assim: churrasco e bom chimarrão/ Fandango, trago e mulher/ É disso que o velho gosta/ É isso que o velho quer…” (Berenice Azambuja e Gildo Campos).

Como a mãe, nosso guri adormecerá ao som de Vivaldi e gostará de “O Xote das Meninas”, de Gonzagão: “Mandacaru quando ‘fulora’ na seca/ é um sinal que a chuva chega no sertão/ Toda menina que enjoa da boneca/ é sinal de que o amor já chegou no coração (…) Vestido bem cintado, não quer mais vestir gibão/ Ela só quer, só pensa em namorar”. Ah, e como Clarinha apreciará passarinhos livres a pedir: “Quero ver boi, vovó!”. E nos perderemos na ilha de São Luís do Maranhão, atrás de seus mil e um bumba meu boi, degustando arroz de cuchá, torta de camarão, refresco de cajá, cambica de murici e creme de abricó, num mundo de poesia…

 

 

Fonte: O Tempo

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