Hoje na História,1942, nascia Jorge Ben Jor

Jorge Ben Jor completa 70 anos nesta quinta, 22

Responsável por grandes clássicos da MPB, Ben Jor criou o samba-rock, incorporou ritmos africanos e temas esotéricos à sua música e influenciou diversos dos artistas brasileiros que viriam a seguir

Nesta quinta, 22, o cantor e compositor Jorge Ben Jor completa 70 anos. Um dos maiores expoentes que surgiram na música brasileira no início dos anos 60, Ben Jor celebra hoje uma carreira de mais de 50 anos e hits conhecidos em todo mundo, como “Mas Que Nada”, “Taj Mahal”, “Fio Maravilha” e tantas outras músicas que fazem parte da história cultural do Brasil.

Jorge Duílio Lima Meneses nasceu em 22 de março de 1942, no Rio de Janeiro. Desde pequeno, absorveu as influências culturais africanas que recebeu de sua mãe, Silvia Saint, de descendência etíope. Com o gosto mesclado ao amor pela bossa nova e pelo samba, desde os treze anos o menino Jorge já batucava seu pandeiro, e logo entrou para o coral da igreja.

Aos 18, comprou o primeiro violão e começou a tocar em bailes no início da década de 60, com o nome artístico Jorge Ben (ele acrescentou o Jor em 1989, após confusões de nome com o cantor George Benson). Mas foi no Beco das Garrafas, boêmia travessa do bairro de Copacabana, que ele começou a jornada rumo ao sucesso.

As primeiras execuções de “Mas Que Nada” foram ouvidas nas casas noturnas do local, antes mesmo que seu debute Samba Esquema Novo (1963) chegasse às lojas. Lá, um executivo da gravadora Philips o ouviu e o contratou, lançando em seguida um compacto com a música “Por Causa de Você”. Já no LP, estavam presentes outros clássicos do repertório de Ben, como “Chove Chuva”, “Balança Pema” e “Menina Bonita Não Chora”, que influenciariam muitos dos artistas brasileiros de MPB que viessem a seguir.

A batida inusitada de violão que Ben tocava – uma mistura entre o samba e o rock, gênero com o qual ele também trabalhou na sua época de bailes – gerou repercussão entre os críticos da época, que elogiavam a singularidade nas composições do carioca. Os álbuns seguintes trariam ainda músicas como “Anjo Azul” e “A Princesa e O Plebeu”, que começavam a exaltar a ligação de Ben com temas místicos e históricos, algo que seria melhor explorado em sua obra posteriomente.

Na segunda metade dos anos 60, vieram as primeiras parcerias de peso. “Menina Gata Augusta”, canção composta por Jorge Ben e Erasmo Carlos na época em que ambos moravam em São Paulo, foi incluída no álbum O Bidú: Silêncio No Brooklin (1967), em que Ben teve como banda de apoio o grupo carioca The Fevers, em atividade desde 1964. “A Minha Menina”, clássico do repertório dos Mutantes, foi cedida por Ben para o disco de estreia da banda, e “Queremos Guerra”, uma parceria com Gilberto Gil, lançada como compacto em 1968.

Em 1969, veio Jorge Ben, disco que marcaria o início da chamada “fase esotérica” do cantor, que é considerada uma de suas mais aclamadas musicalmente. “Take It Easy My Brother Charles”, “Bebete Vãobora” e uma de suas canções mais famosas, “País Tropical”, figuram no repertório do álbum arranjado pelo maestro Rogério Duprat. A capa do disco, desenhada pelo artista plástico Albery, também exibe uma das (muitas) demonstrações de amor que Ben viria a fazer pelo Flamengo – seu time do coração, no qual chegou, quando adolescente – na carreira.

Apesar de nunca ter se enquadrado em nenhum movimento musical da época, Ben Jor chegou a participar de programas de TV como Jovem Guarda e O Fino da Bossa, apresentados por Roberto Carlos e Elis Regina ao lado de Jair Rodrigues, respectivamente. Também foi associado ao movimento do Tropicalismo, apesar de nunca ter se assumido um tropicalista. “Jorge Ben, sem criar uma ‘fusão’ artificiosa e homogeneizante, apresentava um som de marca forte, original, pegando o corpo de questões que nos interessava atacar, pelo outro extremo, o do tratamento final, enquanto nós chegávamos a soluções variadas e tateantemente incompletas nesse campo”, escreveu Caetano Veloso sobre a diferença entre Ben e os tropicalistas, em seu livro Verdade Tropical (1997).

No começo da década de 70, vieram novas canções, como “Fio Maravilha”, “Oba, Lá Vem Ela”, “Que Maravilha”, “O Telefone Tocou Novamente”, “Porque É Proibido Pisar Na Grama” e a exaltação “Negro É Lindo”, músicas que seriam reinterpretadas no futuro por nomes como Wilson Simonal, Charlie Brown Jr. e Cidade Negra, entre tantos outros. “Taj Mahal”, um dos maiores clássicos de Ben, surgiu da paixão do cantor pela literatura. “A história do Taj Mahal é linda, na Índia”, disse ele em entrevista à revista Trip, em 2009. “O príncipe Xá-Jehan era persa, na época em que a Pérsia dominava. E ele casou com Nunts Mahal, devia gostar muito dela, porque tiveram 14 filhos e ele ainda contratou os melhores artesãos turcos e italianos para fazer aquele palácio maravilhoso de pedras preciosas, o Taj Mahal.”

A Tábua de Esmeralda, lançado em 1974, foi um disco que o próprio Ben classificou como “alquimia musical”. “Os Alquimistas Estão Chegando”, com versos como “executam segundo as regras herméticas/ desde a trituração, a fixação, a destilação e a coagulação”, acabou representando uma guinada no estilo lírico do cantor, que levava a influência de livros como Eram Os Deuses Astronautas? (1968) em canções como “Errare Humanum Est” e “Hermes Trismegisto e sua Celeste Tábua de Esmeralda”. “O Homem da Gravata Florida”, “Menina Mulher da Pele Preta” e “5 Minutos” eram outras grandes canções presentes no álbum, mas que não lidavam com temas semelhantes.

Em 1975, lançou Gil & Jorge: Ogum – Xangô, disco conjunto com o antigo parceiro Gilberto Gil. Um ano depois, veio outro trabalho aclamado pela crítica: África Brasil introduzia Jorge Ben à guitarra com misturas de samba-rock, funk e ritmos africanos que resultaram em músicas como “Ponta De Lança Africano (Umbabarauma)”, “Xica da Silva” e “Meus Filhos, Meu Tesouro”.

Nessa onda, veio a trilogia Tropical (1977), A Banda do Zé Pretinho (1978) e Salve Simpatia (1979), que traziam antigas canções repaginadas e visavam mais o mercado norte-americano, não sendo bem recebidos pela crítica. Nos anos 80, ele lançou canções como “Olha a Pipa”, “Santa Clara Clareou” e “Cowboy Jorge”, entre outras. A década de 90 foi pouco prolífica para Ben, que lançou apenas dois discos, 23 (1992) e Homo Sapiens (1995). “Engenho de Dentro” e “Gostosa” estão entre os maiores sucessos dessa fase.

Em 2002, Ben Jor voltou a lançar novos trabalhos com Acústico MTV, que trazia novas versões para antigos clássico. O ano de 2004 marcou o retorno das composições inéditas em Reactivus Amor Est – Turba Philosophorum, quase dez anos após seu último disco. Três anos depois, ele lançou Recuerdos de Asunción 443, um apanhado geral de canções não lançadas e uma composta especialmente para o álbum, “Emo”.

Embora seus últimos trabalhos não tenham tido a mesma aclamação de seus clássicos, Jorge Ben Jor é detentor de tantas músicas eternas que não precisaria compor outra canção sequer: ele já tem cravado o nome na “tábua de esmeralda” da música brasileira, e sempre será visto como um artista único, precursor e visionário. Se você for hoje a um show de Ben Jor, verá um público jovem, que dança maravilhado ao ritmo singular criado pelo músico. A obra dele passa de geração em geração, sem envelhecer nem um minuto. E isso é para os mestres.

 

 

“Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)” – Lançada em 1976, é a primeira faixa do álbum África Brasil. Na canção é contada a história de um jogador de futebol africano chamado Umbabarauma. Em 2010, Jorge Ben regravou a canção com Mano Brown.

“Fio Maravilha” – Lançada no álbum Ben, em 1972. Seu título é uma homenagem ao jogador de futebol João Batista de Sales, conhecido pelo apelido. A música chegou a ser cantada pela torcida do Flamengo em partidas no estádio do Maracanã. Anos mais tarde, após uma série de questões jurídicas sobre os seus direitos autorais, Jorge precisou mudar a letra para “Filho Maravilha”.

“Spyro Gyro” – Criada em homenagem ao plâncton, “Spyro Gyro” é uma grande brincadeira. “Spyro Gyro é Spyro Gyro / É Spyro Gyro / É um bichinho bonito verdinho/ que dá na água”, diz a letra. Nos shows mais recentes, a canção costuma ser executada em um medley com “País Tropical”.

 

“Salve Simpatia” – A música deu nome ao disco de 1979, embora tenha se tornado conhecida por muitos como “Para Animar a Festa”. O álbum em questão, o décimo oitavo da carreira de Ben Jor, veio logo após Tropical e A Banda do Zé Pretinho, feitos com o mercado internacional em vista. A animada faixa é garantia de sucesso em shows, mas também em casamentos, formaturas e aniversários. 

 

“Por Causa de Você Menina” – A faixa, embora seja do primeiro disco do artista,Samba Esquema Novo, é uma das mais lembradas até hoje. Ganhou dois covers bem famosos: de Leila Pinheiro (em 1993, no disco Coisas do Brasil) e de Ivete Sangalo (que saiu em 2002 no Multishow – Ao Vivo).

 

“Menina Mulher da Pele Preta” – Foi uma das canções “peixe fora d’água” do disco A Tábua de Esmeralda, que representa a fase em que Ben Jor se interessou pela alquimia – e passou a fazer “alquimia musical”. Esta canção de sucesso, porém, fala somente do sorriso, da pele, dos olhos e do corpo da menina que tira o sono do eu lírico. 

“Que Pena” – Da época quando ele ainda assinava como Jorge Ben, em 1969, a canção se tornaria uma das mais regravadas da carreira do músico. Fizeram covers dela Gal Costa (em Gal Costa, 1969, tornando-se uma das intérpretes mais famosas da faixa), César Camargo Mariano (em Som 3, 1969), Joanna (em Alma, Coração e Vida, 1993), Paulo Ricardo (em O Amor me Escolheu, 1997), entre outros.

“Alcohol” – Também regravada por Gal Costa, a faixa é um dos sucesso mais recentes da carreira do cantor. Gravada no disco 23, de 1993, foi o primeiro single do trabalho. 

“Take it Easy My Brother Charles” – Canção do aclamado do disco Jorge Ben, que iniciou a chamada “fase esotérica” de Jorge Ben Jor. Ganhou um cover d’ O Rappa, em 1994.

“Nascimento de Um Príncipe Africano” – Ao lado do The Fevers, grupo da Jovem Guarda, Jorge Ben gravou o discoO Bidú/Silêncio no Brooklin, em 1967. Foi nessa ocasião, trabalhando com o famoso grupo da época, que começou a se envolver mais com o rock. Esta faixa, que tem um quê de iê iê iê, é a segunda do disco.

“Balança Pema” – Amplamente divulgada na voz de Marisa Monte, a música foi o primeiro hit de Jorge Ben Jor, colocando no mapa o disco de estreia dele, Samba Esquema Novo, em 1963.

 “Engenho de Dentro” – Talvez a canção mais carioca de Jorge Ben Jor. Segundo o compositor, retrata situações da cidade e do subúrbio. É uma canção essencialmente urbana.

“W/Brasil (Chama o Síndico)” – Lançada em 1990, em formato compacto, a canção trouxe Jorge novamente para as rádios brasileiras. O “síndico” mencionado na canção é uma alusão ao cantor Tim Maia.

“Charles Anjo 45” – Gravada em 1969, faz parte do álbum Jorge Ben. A canção é uma homenagem a um famoso bicheiro do bairro da Tijuca. De acordo com Jorge, na época de sua infância, Charles protegia o pessoal de seu bairro.  

“Minha Menina” – A canção tornou-se famosa na versão dos Mutantes, lançada no álbum homônimo da banda, em 1968. Dois anos depois, no disco Technicolor, Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista gravaram uma versão em inglês com o nome de “She’s My Shoo Shoo”. 

“Os Alquimistas Estão Chegando” – Lançada em 1974, a canção faz parte de A Tábua de Esmeralda, um dos álbuns mais representativos da discografia de Jorge. A música é uma das mais simbólicas da fase esotérica do cantor carioca.

“Jorge da Capadócia” – Lançada em 1975, faz parte do álbum Solta o Pavão. A canção ganhou versões de nomes como Caetano Veloso, Fernanda Abreu, Racionais MC’s e Alcione. A base é conhecida: lembra “Ike’s Rap II”, da lenda do soul Isaac Hayes (ela é sampleada na versão dos Racionais e foi usada pelo trio de trip-hop Portishead em um de se seus maiores hits, “Glory Box”).

“Ive Brussel” – Lançada em 1979, “Ive Brussel” integrou o álbum Salve Simpatia, com a participação especial de Caetano Veloso. De acordo com Jorge, Ive Brussel é o nome de uma fã belga por quem ele se apaixonou em uma de suas viagens.

“Chove Chuva” – Composição de Jorge que também faz parte de seu primeiro disco. Ganhou versões de nomes como Elza Soares e Jair Rodrigues. Em sua passagem pelo Brasil em 2010, o Black Eyed Peãs chamou Jorge ao palco para cantar a música – uma prova do alcance global da estrela brasileira.

“Mas que Nada” – Gravada em 1963, para seu primeiro álbum, Samba Esquema Novo, “Mas que Nada” é o primeiro grande sucesso de Jorge Ben. É também é uma das canções brasileiras mais conhecidas nos Estados Unidos, após ser gravada por Sérgio Mendes. Recentemente, “Mas Que Nada” foi remixada e regravada pelo grupo Black Eyed Peas.

“A Banda do Zé Pretinho” – A canção faz parte de seu décimo sétimo álbum e dá nome ao disco. O trabalho marca a mudança de sua banda: “Admiral Jorge V” dá lugar à “A Banda do Zé Pretinho”

“Zazueira” – Gravada em 1963 e lançada em compacto simples, é outra composição de Jorge com inúmeras versões. Nomes como Elis Regina, Wilson Simonal e Golden Boys regravaram a canção.

“País Tropical” – Lançada em 1969, “País Tropical” fechou o ano como a canção mais tocada no Brasil. Com o passar do tempo, se tornou um dos maiores sucessos da carreira de Jorge Ben Jor.

 “Taj Mahal” – Lançada em 1972, é um dos maiores sucessos do artista. Em 1978, o compositor acusou Rod Stewart de ter plagiado o refrão de Taj Mahal (“Tê-Tê-Teteretê”) em “Da Ya Think I’m Sexy?”, grande sucesso do cantor escocês. Jorge Ben encaminhou processo contra Stewart, que culpou seu parceiro Carmine Appice pelo ocorrido.

“Cadê Tereza” – A faixa de 1969, de Jorge Ben, ganhou no mesmo ano um cover bastante difundido, também, do Os Originais do Samba. Em 2001, ganhou uma versão do Farufyno. 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Rolling Stones

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