Instituições ligadas ao mercado financeiro firmaram um compromisso coletivo com o combate à desigualdade racial.
Na tarde desta terça (9), a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a B3 (Bolsa de Valores do Brasil), a Febraban e a Fecomercio tornaram-se apoiadoras do Pacto de Promoção da Equidade Racial, iniciativa que busca estimular o mundo corporativo a adotar ações para enfrentar o problema.
A adesão ao Pacto ocorre no mês da Consciência Negra, e sinaliza que a questão racial precisa ser trazida para o centro do debate econômico brasileiro.
“No mês em que a sociedade nos convida a refletir sobre equidade racial, falar de avanços é importante, mas trabalhar para que eles não se esgotem é ainda mais significativo”, disse Ana Buchaim, diretora executiva de Pessoas, Marketing, Comunicação e Sustentabilidade da B3.
Durante o evento de assinatura da adesão, Buchaim disse que um dos papéis da B3 enquanto infraestrutura do mercado de capitais é incentivar boas práticas ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês).
“Queremos contribuir com a questão racial no debate econômico brasileiro e incentivar a adoção de boas práticas por parte das companhias listadas e do mercado financeiro como um todo”, afirmou.
O Pacto de Promoção da Equidade Racial foi criado em julho de 2021 e envolve entidades da sociedade civil, representantes da comunidade negra, especialistas e investidores.
O objetivo da iniciativa é fornecer um roteiro às empresas sobre como avançar nas questões raciais, de modo que elas sejam não apenas antirracistas, mas protagonistas nessa causa.
Quem apoia o Pacto se compromete com um protocolo racial, que propõe que as organizações trabalhem o tema internamente —por meio de ações afirmativas, como cotas e processos seletivos exclusivos para negros—, e externamente, com investimentos em educação pública e na formação de profissionais.
“Resolver a desigualdade racial na nossa sociedade passa pelo investimento social privado em equidade, investimento em educação pública, formação técnica e em empreendedorismo negro. Esses quatro fatores formam um novo protocolo ESG racial”, afirmou Gilberto Costa, diretor-executivo do Pacto.
Também participou do evento Helio Santos, presidente do conselho deliberativo do Pacto e cujo ativismo em prol dos direitos da população negra data dos anos 1970. Para ele, a desigualdade racial no mercado de trabalho tem desdobramentos relevantes para a economia.
“Quando os macroeconomistas calcularem o custo de oportunidade que o Brasil paga por desperdiçar talentos, nós teremos uma comoção, porque ninguém pode, impunemente, desperdiçar talentos”, disse.
Contudo, Santos diz que o setor corporativo está, hoje, bem mais permeável à discussão sobre desigualdade racial do que há alguns anos. “Em 2005, 2010, 2015 nós tínhamos uma dificuldade maior para trabalhar no campo corporativo. Não adianta só o Estado [agir], o setor corporativo é fundamental, ele é decisivo”, afirmou.
Marcelo Billi, superintendente de comunicação, educação e certificação da Anbima, disse que a importância do tema já é percebida no mercado. Segundo ele, uma pesquisa feita com os associados da instituição avaliou quais eram as principais demandas no mercado financeiro e de capitais.
“80% dos nossos associados, ou seja quase um consenso, nos disseram que a pauta de equidade racial é uma prioridade no mercado hoje”, disse.
Ao aderir à iniciativa, as instituições também poderão calcular o seu IEER (Índice ESG de Equidade Racial) para ver o quão equilibrada racialmente estão. O índice foi criado pelo Pacto e funciona como um rating (classificação), medido a partir da quantidade de pessoas negras em cada cargo e da massa salarial que elas representam.
A nota pode ser melhorada com a adoção de ações afirmativas e o compromisso de realizar investimentos em equidade racial.
“Quando a gente consegue avaliar em que estado estamos, a gente ganha uma sobriedade e condição de agir em direção à equidade racial”, disse Buchaim.