Livro mostra dores e lutas da juventude negra no Brasil

Jovens negros estão em situação de vulnerabilidade e enfrentam violência com luta e engajamento

Por Cristina Camargo, do Fundo Direitos Humanos 

O livro “Juventudes Negras do Brasil – trajetórias e lutas” reúne contribuições de diversos ativistas do processo de organização das juventudes negras no país. Registros históricos, análises e denúncias permitem que os leitores conheçam uma parte das dores e das lutas desses jovens.

As dores

De acordo com o relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os jovens negros são as principais vítimas e estão em situação de maior vulnerabilidade à violência no Brasil.

Segundo o levantamento, em todos os estados brasileiros, à exceção do Paraná, os negros com idade entre 12 e 29 anos correm mais risco de exposição à violência que os brancos na mesma faixa etária.

Um exemplo recente – e trágico – foi a morte de cinco jovens negros em Costa Barros, subúrbio do Rio de Janeiro, quando voltavam da comemoração pelo primeiro salário de um deles.

O risco de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é, em média, 2,5 vezes maior do que uma pessoa branca.

“Quando a polícia mata cinco negros na periferia, mesmo que sejam inocentes, há a presunção de que eles são culpados e mereciam aquilo”, analisa o antropólogo Osmundo Pinho, professor da Universidade do Recôncavo da Bahia.

As lutas

Por meio de campanhas, marchas e publicações, ativistas denunciam cada vez mais o genocídio da juventude negra e cobram ações urgentes do poder público e da sociedade de uma forma geral.

Não estão calados e contam com o apoio do Fundo Brasil em várias ações.

Realizada pelo Fejunes (Fórum Estadual de Juventude Negra do Espírito Santo), a Campanha Estadual contra o Extermínio da Juventude Negra foi apoiada pelo Fundo Brasil em 2008, 2009 e 2014, com o objetivo de mobilizar a juventude negra e a sociedade para a consolidação dos processos políticos de resistência.

A campanha “Racismo Mata”, organizada pela rede “Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra”, também teve o apoio da fundação e conseguiu repercussão internacional.

Mais recentemente, o Fundo Brasil deu apoio emergencial para ajudar no lançamento do livro “Juventudes Negras do Brasil – trajetórias e lutas” durante a 3ª Conferência Nacional de Juventudes, realizada em Brasília.

Para Jorge Eduardo Durão, diretor presidente do Fundo Brasil, a sociedade brasileira tem a obrigação de se erguer contra o extermínio da juventude negra.

Ele lembra que desde o Império a polícia é treinada para identificar o jovem negro como inimigo. E isso precisa acabar.

Edital

O Fundo Brasil de Direitos Humanos acaba de lançar o edital “Juntos/as contra a violência que mata a juventude brasileira”, com inscrições abertas até o dia 26 de fevereiro.

A fundação vai doar até R$ 560 mil a projetos que tenham como foco a juventude no enfrentamento à violência, principalmente a juventude negra. Cada grupo selecionado receberá uma doação de até R$ 40 mil para o período máximo de um ano.

Lançado em formato de história em quadrinhos, o edital tem como foco o fato de ser fundamental criar condições para que os jovens sejam os principais sujeitos no enfrentamento à violência que os atinge.

Fundo Brasil

O objetivo do Fundo Brasil é promover os direitos humanos e sensibilizar a sociedade para que apoie iniciativas capazes de gerar novos caminhos e mudanças significativas para o país.

A fundação disponibiliza recursos para o apoio institucional e para atividades de organizações da sociedade civil e de defensores de direitos humanos em todo o território nacional.

Em quase dez anos, já destinou R$ 11,7 milhões a cerca de 300 projetos em todas as regiões do país.

Além da doação de recursos, os projetos selecionados são apoiados por meio de atividades de formação e visitas de monitoramento.

Saiba mais

Facebook: www.facebook.com/fundobrasil

Twitter: @fundobrasil

Diga Sim: digasim.org.br

+ sobre o tema

Por que mandaram matar Marielle Franco? Essa agora, é a pergunta que não se cala…

Seis anos depois e finalmente o assassinato de Marielle...

Mulheres sambistas lançam livro-disco infantil com protagonista negra

Uma menina de 4 anos, chamada de Flor de...

Poesia: Ela gritou Mu-lamb-boooo!

Eita pombagira que riscaseu ponto no chãoJoga o corpo...

para lembrar

Observatório de Favelas propõe protocolo de atuação de polícia nas comunidades

A organização Observatório de Favelas apresentou hoje proposta...

“O grande medo dos alunos era o caveirão”

Como a lógica de guerra operada pelo Estado...
spot_imgspot_img

Negros são maioria entre presos por tráfico de drogas em rondas policiais, diz Ipea

Nota do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que negros são mais alvos de prisões por tráfico de drogas em caso flagrantes feitos...

Um guia para entender o Holocausto e por que ele é lembrado em 27 de janeiro

O Holocausto foi um período da história na época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando milhões de judeus foram assassinados por serem quem eram. Os assassinatos foram...

Caso Marielle: mandante da morte de vereadora teria foro privilegiado; entenda

O acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos contra a vereadora Marielle Franco (PSOL), não ocorreu do dia...
-+=