Mais que mil palavras

Em um mundo no qual lutamos diariamente para combater a discriminação racial e nos cansamos por ter que debater, discutir e argumentar contra pessoas que parecem não ouvir, alimentadas por um discurso cego e de ódio, uma imagem, muitas vezes, fala por si, e por nós.

Por Mauricio Pestana , do Vermelho 

Na semana passada, uma foto percorreu o mundo quando uma mulher, de punho em riste, se posicionou em frente a uma passeata de militantes neonazistas na Suécia. Aquela figura feminina e negra, sozinha em meio a centenas de homens brancos, diz muito sem precisar falar nada.

Diz muito sobre o crescimento da xenofobia em países europeus, sobre o emponderamento feminino que vem fortalecendo a figura da mulher em meio a um universo machista e conservador, sobre a violência que assombra jovens negros todos os dias e sobre a necessidade de se impor e lutar, seja com palavras, com denúncias ou com atitudes. Não por acaso, o mesmo gesto era usado pelos Panteras Negras e por Nelson Mandela, símbolos conhecidos da resistência negra.

O ato de enfrentamento também pode ser visto como um gesto de coragem ou de cansaço. Não é fácil acordar todos os dias e saber que a violência contra mulher é três vezes maior do que as sofridas pelos homens; que a cada 7 minutos uma nova denúncia é feita e mais da metade são contra mulheres negras; ou que dos assassinatos cometidos pela PM, quase um terço são menores de idade e a maioria, pobres e negros. Não é fácil ser negro no Brasil, ou no mundo.

Momentos como este servem para refletir e para nos lembramos que não podemos nos acomodar diante das adversidades ou aceitar calados uma sociedade que ainda reserva espaço para manifestações como esta.

A existência de pessoas como Tess Asplund, dispostas a lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, conseguem fazer uma imagem valer mais do que mil palavras.

 

* Jornalista, escritor e cartunista Atualmente ocupa o cargo de secretario de promoção da igualdade Racial da cidade de São Paulo.

+ sobre o tema

Supermercado paga R$ 260 mil a criança que sofreu racismo

Garoto de 10 anos diz que seguranças do Extra...

Cotas raciais até durarem as desigualdades

No ano que vem, a popular lei de cotas,...

O inoportuno, sempre ele

Falar de racismo, e de seu enfrentamento, é sempre...

Corpos desimportantes

Não é metáfora e muito menos eufemismo. É corpo...

para lembrar

Padre é vítima de racismo em Serra Preta

Os internautas de Serra Preta ficaram perplexos com um...

O Fantasma do Estado: Genocídio e Necropolítica

Em “The Signature of the Sate”, Veena Das discute...

País tem “dever de reparação histórica”, diz Barroso sobre lei de cotas para negros

Cinco ministros já consideraram constitucional a lei de reserva...
spot_imgspot_img

Violência política mais que dobra na eleição de 2024

Foi surpreendente a votação obtida em São Paulo por um candidato a prefeito que explicitou a violência física em debates televisionados. Provocações que resultaram...

Carandiru impune é zombaria à Justiça

É um acinte contra qualquer noção de justiça que 74 agentes policiais condenados pelo massacre do Carandiru caminharão livres a partir de hoje. Justamente na efeméride de...

Doutorando negro da USP denuncia racismo em ponto do ônibus da universidade; testemunhas gravaram gesto racista

Um aluno de doutorado da Universidade de São Paulo (USP) denunciou ter sofrido racismo em um ponto de ônibus no Conjunto Residencial Universitário (CRUSP), na Cidade...
-+=