Negros e mulheres ocupam menos de 20% dos cargos altos das empresas

Apenas 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas brasileiras são ocupados por negros. As mulheres também são minoria, com só 13,6% dos postos mais altos. Os números estão em estudo sobre o perfil social, racial e de gênero nas empresas brasileiras divulgado nesta quarta-feira pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Instituto Ethos. No atual ritmo de evolução das participações destas minorias nas companhias, o equilíbrio no quadro só ocorrerá em pelo menos 150 anos, segundo Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos.

Por Roberta Scrivano, do Extra

Segundo constatou a pesquisa, a grande maioria das empresas nem sequer têm ações afirmativas para incentivar a presença de mulheres e afrodescendentes. Das 500 companhias estudadas, apenas 3,9% têm alguma forma de ação afirmativa para aumentar a presença de afrodescendentes e 11% contam com este tipo de política para ampliar a presença de mulheres.

— O quadro de funcionários das empresas precisa refletir o que é a sociedade. Mas não vemos isso hoje — comentou Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos.

Para a americana Judith Morrison, da divisão de Gênero e Diversidade do BID, “as empresas não estão contemplando toda a sociedade.”

O material mostra que a proporção de afrodescendentes no mercado de trabalho como um todo também é muito inferior ao de brancos. Para se ter uma ideia, no quadro funcional, categoria superior apenas a de estagiários e trainees, o número de brancos é quase o dobro (62,8% de brancos e 35,7% de afrodescendentes). Em cargos de supervisão, os brancos são 72,2% contra 25,9% de afrodescendentes. Em cargos de gerencia, os negros são apenas 6,3% ante com 90,1% de brancos; no quadro executivo são 4,7%, comparados com 94,2% de brancos; e nos conselhos de administração são 4,9%, contra 95,1% de brancos.

As mulheres também são sub-representadas no ambiente profissional, de acordo com o estudo. No quadro funcional, o número de homens é quase o dobro do de mulheres (65,5% de homens e 35,5% de mulheres). A tendência se intensifica nos cargos mais altos. Em cargos de gerência, a proporção de homens é quase o dobro que a de mulheres (68,7% comparados com 31,3%); no quadro executivo, a proporção de homens é seis vezes maior que a de mulher (86,4% de homens, comparado com 13,6% de mulheres); e nos conselhos de administração, é oito vezes maior (89% comparados com 11%).

— Quando as empresas tiverem dentro de si o espelho da sociedade, vão conseguir tomar melhores decisões e agregar valor ao seu negócio — completou Abrahão.

A pesquisa também destaca as principais políticas de ação afirmativa empreendidas pelas empresas para a inclusão de diversos públicos vulneráveis, como afrodescendentes, mulheres, pessoas com deficiência e público LGBT. Entre as empresas que buscam promover a igualdade em seu quadro de funcionários, 43,1% têm políticas voltadas para pessoas com deficiência, 28,2% para mulheres, e apenas 8% para negros.

O objetivo da pesquisa, segundo explicou Judith, é ajudar as empresas a conhecer melhor o perfil dos executivos e funcionários para possibilitar a promoção da diversidade racial e de gênero.

— Não temos tempo para aguardar que esse problema se resolva sozinho — disse, para completar: — Precisamos de ações concretas e imediatas das empresas — disse Judith.

O material está sendo apresentado nesta manhã a gestores de recursos humanos de várias empresas, como Avon, Natura, Walmart, Serasa Experian, Sodexo, Carrefour, Shell, Bayer, Goldman Sachs e Ambev, nesta manhã em São Paulo.

Quando as empresas tiverem dentro de si esse espelho da sociedade, vão conseguir tomar melhores decisões e agregar valor ao seu negócio. As empresas não estão contemplando toda a cidade

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