Marielle presente na eleição

A presença de Marielle Franco nas eleições de 2018 foi nacional. Candidatas de outros estados disseram ao JORNAL DO BRASIL que a vereadora do PSOL — morta a tiros em março, assim como seu motorista Anderson Gomes — inspirou fortemente a participação delas no pleito. No post em que comemora sua eleição, a vereadora Aúrea Carolina (PSOL), deputada federal com o maior número de eleitores em Minas Gerais, com 162.740 votos, escreveu “#MarielleVive;ElasSim”. “Marielle lutava pela presença de mais mulheres negras na política, para que mandatos feministas e antirracistas e periféricos pudessem se multiplicar”, disse Áurea Carolina ao JB.

Em São Paulo, Mônica Seixas, eleita deputada estadual, disse que sua candidatura foi construída com Marielle. “Ela nos deixou uma responsabilidade e abriu alas para milhares de negras passarem. A luta antirracista e por direitos humanos se reforçou em um momento de grande retrocesso nos legislativos do país”, disse a parlamentar, que passou a ser a terceira mulher negra a chegar à Assembleia Legislativa de São Paulo — Leci Brandão do PCdo B se reelegeu.

Amiga de Marielle desde que dava aulas no vestibular da Favela da Maré, a vereadora de Niterói Talíria Petrone agora é deputada federal. Ela e Marielle fizeram uma dobradinha forte nas eleições de municipais de 2016, quando algumas vezes Marielle foi a Niterói fazer campanha ao lado da amiga, e Talíria também ia ao Rio panfletar com ela. “A decisão da minha candidatura ao Congresso Nacional foi construída sob inspiração de Marielle.

A morte dela não nos dá uma imensa responsabilidade de manter suas pautas cada vez mais presentes no debate. Precisamos lutar contra o homicídio dos jovens negros, por um novo modelo de segurança pública nas favelas e na periferia por cidades mais dignas às mulheres, como fazia Mari”, afirmou Talíria, que obteve mais de cem mil votos. “Renata Souza, Dani Monteiro e Mônica Francisco foram a maior bancada de mulheres na Alerj”, ressaltou Talíria, citando candidatas que integravam o gabinete de Marielle.

A comemoração de Áurea Carolina, em Belo Horizonte (Foto: Reprodução Facebook)

Renata Souza, que como Marielle nasceu na Favela da Maré, passa a frequentar a Alerj com um lastro de ativismo em comunidades. Mônica Francisco, por sua vez, é uma forte liderança da Favela do Borel. Também integrante do mandato de Marielle, ela lembra que recebeu um recado bem direto em relação à sua candidatura: “Eu disse a ela que ainda não estava pensando em ser parlamentar, e ela me olhou e disse: ‘É bom você ir pensando’”.

O cartaz que viralizou pelas redes sociais com mulheres negras eleitas ou reeleitas (Foto: Reprodução Facebook)

Dani Monteiro, por sua vez, recorda que Marielle insistia que mulheres negras e favelas eram eleitas rarissimamente, como Jurema Batista e Benedita da Silva e que isso deveria mudar urgentemente: “Isso incomodava muito a Mari. Ela liderou encontros históricos com mulheres aqui no Rio e em outros estados para mudar isso. E não há dúvida de que Marielle realizou essa transformação”.

Para Mônica Freitas, essa transformação vai se solidificar ainda mais nas eleições municipais em 2020: “Nós estamos nos comunicando com frequência. Mulheres negras e periféricas de diferentes estados estão cada vez mais unidas. Esse é o legado que ela nos deixou”. Marielle fazia um tipo de política que trazia os problemas reais à Assembleia Legislativa. “Sua proposta de um transporte sem assédio a mulheres é de quem sabia a realidade do transporte público. Era a vida real de que ela tratava”, disse Mônica Francisco.

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Geledés Instituto da Mulher Negra
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