Maternidade: tudo bem ser o que você quiser

Estava assistindo Grey`s Anatomy e me veio a cabeça falar de maternidade. Tudo isso porque assisti o clássico episódio onde Christina descobre que está grávida do Owen e decide abortar, enquanto Meredith está em processo de adoção de uma menina junto com Derek. Vejo nesse episódio e nos seguintes uma questão que muito me assusta: a.decisão de ser mãe vai muito além apenas da vontade da mulher.

Texto de Sara Joker.

Já foi conversado sobre esse episódio por aqui: Aborto, de quem é a decisão final? Me lembro de como foi que me senti com todo o incomodo de Owen, não por ele querer ser pai, mas por ele não conseguir entender que uma mulher não desejar uma gravidez não significa privar seu companheiro de decidir ser pai.

Sim, na maioria das vezes, a decisão de ter ou não filhos é feita pelo casal, mas engravidar deveria (já que o aborto não é legalizado em muitos países e aí as mulheres não tem plenos direitos reprodutivos) ser uma decisão que só a mulher pode tomar. Conjugês não deveriam escolher se uma pessoa mantém ou não uma gravidez. Só quem terá a gestação poderia dizer se é de sua vontade mesmo prosseguir. Seja porque não é o momento certo, porque não deseja uma gravidez ou por qualquer motivo que não nos cabe julgar.

Sim, existem mulheres que, como Christina, não desejam engravidar. E precisamos esquecer o clichê de que toda mulher só será completa após gerar uma criança. Isso não é só machista, é também muito cissexista. Reduz mulheres a uma encubadora, excluindo mulheres cis que são estéreis e mulheres trans do conceito de “mulher”.

Não deveríamos reduzir pessoas a estereótipos, colocando todas em caixas de “feminino” ou “masculino”. Uma mulher pode se realizar como bem entender, sendo mãe, sendo uma profissional exemplar, sendo as duas coisas ou sendo o que quiser! Somos muito maiores que características, somos pessoas complexas demais para se rotular e ser encaixadas em grupos.

Então, se você não pode gerar uma criança, quer ser mãe e vai recorrer a outros métodos, tudo bem! Se você pode gerar uma criança, mas prefere adotar, tudo bem! Se você pode gerar e quer gerar, tudo bem! E se você não gostar de nenhuma dessas opções e quiser qualquer outra coisa, tudo bem!

Sara Joker

Artista visual, quadrinista, atriz e cantora. Formada em licenciatura e bacharelado em Artes Visuais, pós graduada em Psicanálise. Nerd de humanas, adora RPG, quadrinhos, filmes cabeça, rock e livros. Se interessa por questões relacionadas as lutas pelos direitos das mulheres, negros e LGBTTs.

 

Fonte: Blogueiras Feministas

+ sobre o tema

Thânisia Cruz e a militância que profissionaliza

“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre...

Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados da maior pesquisa sobre parto e nascimento no...

Cidinha da Silva: ‘Autores brancos são superestimados na cena literária’

Quando Cidinha da Silva empunha a palavra, o mundo se desnuda...

para lembrar

Thânisia Cruz e a militância que profissionaliza

“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre...

Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados da maior pesquisa sobre parto e nascimento no...

Cidinha da Silva: ‘Autores brancos são superestimados na cena literária’

Quando Cidinha da Silva empunha a palavra, o mundo se desnuda...
spot_imgspot_img

Thânisia Cruz e a militância que profissionaliza

“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre o ativismo como uma forma de trabalho, no sentido de me profissionalizar para ser uma...

Assistência ao parto avança no Brasil, mas pré-natal ainda preocupa

Dados da maior pesquisa sobre parto e nascimento no Brasil mostram avanços expressivos na prática hospitalar. A realização de episiotomia, o corte do canal vaginal com...

Cidinha da Silva: ‘Autores brancos são superestimados na cena literária’

Quando Cidinha da Silva empunha a palavra, o mundo se desnuda de máscaras e armaduras: toda hierarquia prontamente se dissolve sob sua inexorável escrita. Ao revelar...