Em 23 de agosto celebrou-se mundialmente o Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição. Essa data foi instituída em 1998 pela UNESCO em memória do aniversário da Revolução Haitiana, iniciada em 1791, quando a luta dos escravizados haitianos pôs fim à escravidão negra naquela ilha. Essa data também chama a atenção aos debates pela memória da escravidão e da liberdade em diferentes partes das Américas.
Essa discussão ganhou novos holofotes em 2020, quando estátuas de traficantes de africanos escravizados e agentes do Colonialismo na África foram derrubadas em diferentes partes do mundo. Esse movimento também alcançou o Brasil, o país que mais importou africanos escravizados durante a era do tráfico negreiro. Foram quase cinco milhões de homens, mulheres e crianças trazidos à força para o Brasil ao longo de 300 anos de tráfico.
Em vista da importância desse debate, a Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros e o Projeto Salvador Escravista realizarão nos dias 05 e 06 de setembro a Jornada “Memórias da Escravidão e da Liberdade: patrimônio e antirracismo”.
Esta Jornada foi idealizada após o recente incêndio na estátua de Borba Gato, em São Paulo. A comoção causada pelo ato e as respostas do Estado à ação dos manifestantes, com as prisões arbitrárias de Géssica Barbosa e Paulo Galo, reacendeu o debate sobre a relação entre monumentos, memória e patrimonialização do racismo e de homenagens a personagens racistas.
As ruas das principais cidades brasileiras continuam a homenagear personagens que participaram de diferentes maneiras do processo de escravização de populações indígenas e africanas. A constituição dessas homenagens como patrimônio cultural dos centros urbanos revela como os poderes públicos lidam com as memórias da escravidão e como o racismo está arraigado no interior da sociedade brasileira. Convocados pela urgência do debate, historiadores/as têm um papel importante para nos ajudar a pensar as formas variadas pelas quais o passado é utilizado, significado e simbolizado, e as modalidades segundo as quais ele funciona no presente e para o presente.
Sendo a temática relacionada às memórias da escravidão, historiadorxs negrxs, que vivenciam a experiência de serem negras e negros numa sociedade marcadamente racista, tem algo a dizer sobre o assunto. Assim, cabe perguntar: como são lembrados o tráfico transatlântico de africanos, a escravidão e sua abolição e as experiências de liberdade da população negra no Brasil?
A necessidade de uma memória que remonte, o mais amplamente possível, o enigma do passado, sem que partes continuem a serem ignoradas ou silenciadas, não é uma demanda própria de um país ou de uma coletividade específica; pelo contrário, essa demanda atravessa diversos países que compartilham os impactos da longa história de escravidão, racismo e outras formas de opressão. No caso da população negra do Brasil, as políticas de memórias podem e devem converter-se em estratégias para reconhecimento, afirmação, combate ao racismo e às profundas desigualdades da sociedade brasileira.
Em sintonia com esse propósito, o evento reunirá historiadoras negras e historiadores negros que comunicarão suas pesquisas e percepções sobre o tema.
Por meio desta Jornada, as/os historiadorxs negrxs reafirmam sua existência frente a premissas epistêmicas balizadas pelo racismo que ignoram a intelectualidade negra nos debates sobre o passado colonial, as memórias da escravidão e da liberdade.
“Escrevemos nossas histórias a punho próprio, contrariando narrativas que tentam ocultar nossos protagonismos, nossas histórias, lutas, vozes e produções. Existimos e Resistiremos.”
A transmissão da Jornada ocorrerá simultaneamente no perfil do Facebook no canal do Youtube da Rede de Historiadorxs Negrxs. Confira a Programação abaixo.
Sobre a Rede de Historiadoras e Historiadores Negras/os
A Rede Nacional de Historiadas e Historiadores Negras/os é integrada por pesquisadoras/es de diversas regiões do país. Formada há 06 anos, protagoniza ações coletivas de divulgação de pesquisas e práticas de ensino antirracista de História.
Contatos:
Rede de Historiadorxs Negxs
E-mail: [email protected] / Instagram: @historiadorxsnegrxs
Organização do Evento
Historiadorxs: Carlos Silva Jr (71 99414-7291), Josemeire Alves (31 98602 9592) Francisco Phelipe Cunha Paz (61 99939-9219)
::SERVIÇO::
Jornada MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO E DA LIBERDADE: PATRIMÔNIO E ANTIRRACISMO | Rede de Historiadoras e Historiadores Negrxs/ Salvador Escravista
Quando: 05 e 06/09/2021, mesas às 17h e às 19h (veja Programação abaixo)
Link para inscrições (haverá emissão de Certificados para Ouvintes que obtiverem o mínimo de 75% de presença): https://forms.gle/tkGfw5PCR7CtmJMu6
Transmissão: YouTube/Historiadorxs Negrxs
Domingo, 05/09/21, 19h
MESA 1 – Memórias da escravidão e da liberdade: história pública e patrimonialização
O objetivo desta mesa é apresentar as formas pelas quais o tráfico transatlântico de africanos, a escravidão e a liberdade são lembrados no Brasil. Além disso, pretende-se abordar os processos de patrimonialização e as disputas públicas em torno dessas memórias e de como as populações negras e os movimentos sociais negros têm construído, ao longo tempo, uma relação com esse passado na luta por reconhecimento, afirmação e combate ao racismo e à desigualdade.
CONVIDADES:
Profa. Mônica Lima (UFRJ)
Profa. Giovana de Carvalho Castro (UFJF)
Prof. Francisco Phelipe Cunha Paz (ABE-África)
MEDIAÇÃO: Prof. Carlos da Silva Jr (UEFS)
Link: https://www.youtube.com/watch?v=geL6TbyHc9Q
Segunda-feira, 06/09/21, 17h
MESA 2 – Memórias da Escravidão: as disputas de narrativa e os usos do passado
O propósito desta mesa é trazer ao debate elementos que contribuam para aprofundar a compreensão sobre a produção e usos de memórias, em especial sobre as memórias da escravidão, tendo por foco perspectivas afro centradas de pesquisa e a atuação pública dos movimentos sociais e da intelectualidade negra.
CONVIDADES:
Profa. Nila Rodrigues Barbosa (Patrimônio e Etnicidade)
Prof. Mairton Celestino (UFPI)
Prof. Antonio Evaldo Almeida Barros (UFMA/UEMA)
MEDIAÇÃO: Prof. Francisco Phelipe Cunha Paz (ABE-África)
Link: https://www.youtube.com/watch?v=Z_gPhwYPP3g
Segunda-feira, 06/09/21,19h
MESA 3 – Cidades Negras, História Pública, Memória e Antirracismo
Nesta mesa serão apresentadas experiências que articulam pesquisa e história pública, tendo por foco as experiências negras nas cidades bem como a produção de silenciamentos por meio de processos de patrimonialização. Os mesmos processos que, em diferentes regiões do país, elegem homenagear personagens que protagonizaram a perpetuação da experiência escravista e no passado e cuja valorização unívoca, no presente, segue alimentando e representando as bases do racismo estrutural.
CONVIDADES:
Profa. Josemeire Alves Pereira (FLACSO)
Prof. Carlos da Silva Jr (UEFS)
Jornalista Guilherme Soares Dias (Projeto Caminhada São Paulo Cidade Negra)
MEDIAÇÃO: Profa. Maria Emília Vasconcelos (UFRPE)Link: https://www.youtube.com/watch?v=UsPof_yp5kk
** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.