Mortes precoces

O Brasil é o sexto país em mortes de jovens no mundo. Aqui eles são mortos pela polícia, por balas “perdidas”, pela guerra entre traficantes e por acidentes de moto ou carro. O dado é da UNICEF. Em números absolutos, o Brasil teve, em 2012, mais de 11 mil homicídios de pessoas entre 0 e 19 anos de idade, atrás apenas da Nigéria, que teve 13 mil.

por Frei Betto

Aqui ocorrem 17 assassinatos em cada 100 mil jovens. E 10% das meninas com menos de 19 anos já fizeram sexo forçado. Em geral, a pedofilia ocorre no próprio âmbito familiar.

A UNICEF pesquisou 190 países. À frente do Brasil em assassinatos de jovens, estão El Salvador (27/100 mil), Guatemala (22), Venezuela (20), Haiti (19) e Lesoto (18).

Jovens negros sofrem o risco três vezes maior de serem assassinados que brancos da mesma faixa etária. Nossa polícia, com raras exceções, não é treinada para agir sem preconceito racial e com respeito à cidadania dos mais jovens.

Segundo o UNICEF, a violência cresceu “dramaticamente” nas grandes cidades brasileiras nos últimos anos. Isso se deve à desigualdade social, ao acesso facilitado às armas de fogo, ao alto consumo de drogas e ao crescimento da população jovem.

“O homicídio é a primeira causa de morte entre homens de 10 a 19 anos no Brasil, no Panamá, na Venezuela, na Guatemala,  na Colômbia, em El Salvador e Trinidad y Tobago”, afirma o relatório.

Em 1/5 dos assassinatos no mundo as vítimas têm menos de 20 anos. Em 2012, essas vítimas precoces somaram 95 mil!

Uma em cada 10 meninas em todo o mundo já sofreu algum tipo de ato sexual forçado. Os abusos costumam ser praticados por pais e parentes. E 6, em cada 10 crianças entre 2 e 14 anos, são regularmente agredidas por seus pais. Estes ignoram que criança surrada tende a ser adulto revoltado, capaz inclusive de crimes hediondos.

Entre cada dez adultos, três acreditam que castigos físicos são necessários para criar os filhos. Em 58 países, 17% dos menores sofrem “graves formas de castigos físicos”, índice que sobe para 40% em países como Egito e Iêmen.

É urgente os governos adotarem políticas em relação à violência infantil, que não é normal nem tolerável. Em junho, a presidente Dilma Rousseff sancionou o projeto que criou a Lei da Palmada, para punir adultos que submetam menores a castigos que resultem em sofrimento físico. A lei determina que as crianças sejam educadas sem castigos físicos ou “tratamento cruel ou degradante como forma de correção ou educação”.

O relatório do UNICEF, de 206 páginas, indica que cerca de 120 milhões de meninas e adolescentes de menos de 20 anos (ou uma em cada dez) já sofreram violência sexual.

Metade das jovens entre 15 e 19 anos consideram justificável que o marido bata na mulher “em determinadas circunstâncias”. A proporção chega a 80% em países como Afeganistão, Jordânia e Timor Leste. A violência doméstica é encoberta pelo medo das vítimas de denunciarem o agressor, o que agrava o problema.

 

Quem bate não ama. Quem abusa é tarado. Quem mata merece cadeia.

 

Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – autobiografia infantil” (Ática), entre outros livros.

 

 

Fonte: Correio da Cidadania

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...