A uma semana das eleições para presidente, governador, senadores e deputados federais e estaduais, mulheres de todos os segmentos sociais, idades, gêneros, raças e posicionamentos políticos transformaram sua indignação virtual contra a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL) à presidência da República em um grande movimento de rua nas principais cidades do Brasil. Em Porto Alegre, neste sábado, 29, o Parque da Redenção abrigou milhares de pessoas que apresentavam os mais diversos motivos para afirmar “#ele não”. Manifestações foram realizadas também em mais de 40 cidades do interior do estado, dentre elas, Santa Cruz do Sul, Osório, Santo Ângelo, Cerro Largo, Santa Rosa e Passo Fundo.
Convocado pela internet, por grupos de mulheres independentes, movimento social, sindical e de trabalhadores e partidos políticos de esquerda, protesto #elenão reuniu milhares de pessoas em 200 cidades do país e 60 de outros países, como Portugal, Espanha e Alemanha.
A reação à candidatura de Bolsonaro, segundo os manifestantes, é resultado de suas posições preconceituosas e discriminatórias em relação às mulheres, os negros, os índios, os direitos humanos, os movimentos sociais e de trabalhadores. São declarações como a de que sua única filha mulher é resultado de uma “fraquejada”; de que se tivesse um filho gay, daria uma surra; de que nenhum de seus herdeiros se casaria com uma negra porque são bem-educados; e de que indígenas são raça inferior.
A jornalista Bruna Boeira, 30 anos, se sentia duas vezes vítima do discurso agressivo de Bolsonaro. “Sou mulher e negra. Esta pregação machista e racista é um retrocesso e uma violência”, destaca. Para ela, ao longo da história brasileira, as mulheres foram negligenciadas, mas a candidatura do deputado, carregada de preconceito, levou as mulheres a liderar um movimento contra.
Ativista histórica, a comunista Jussara Cony, ex-vereadora de Porto Alegre e ex-deputada estadual, com seus 75 anos era uma das mais entusiasmadas na manifestação. “Tenho 60 anos de militância, posso afirmar que as mulheres serão as responsáveis pela vitória das forças progressistas contra o retrocesso que é esta candidatura fascista”. Ela acrescentou serem as mulheres as mais agredidas pelo projeto do candidato, razão de elas estarem liderando um movimento de proporções nacionais e que ganha simpatia internacional. “Somos as mães, avós, filhas, irmãs que irão derrotar o fascismo”.
Tiago Garcia, 30 anos, estava com um grupo de amigos de uma comunidade LGBT. Para ele, é fundamental estar nas ruas e se posicionar contra todo tipo de discriminação e os discursos de ódio. “Hoje, pelas redes sociais, vemos fake newsinfluenciando as novas gerações, vemos jovens que não respeitam seus professores, especialmente professores de história. A comunidade LGBT é atacada diretamente por este candidato e muitos acham isso certo”.
Aos 73 anos de idade, Nilce Azevedo Cardoso, professora aposentada, passeava entre a multidão que se comprimia na Redenção, estimada em mais de 50 mil pessoas, segundo os organizadores. Feliz, ela conta ser militante dede 1964. “Passei por dois golpes e permaneço firme na luta”. Foi presa e torturada em 1972. Primeiro, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em Porto Alegre e, depois, na Operação Bandeirantes (Oban), em São Paulo. “Sei da importância de lutar contra o fascismo e hoje, vendo as mulheres, que somam mais de 50% da população, liderando este movimento que foi para as ruas, só me dá ânimo”. Para ela, já é uma vitória mulheres de todos os segmentos se unirem contra uma candidatura que “significa um grande retrocesso para a sociedade”. Nilce considera que o Brasil vive um período triste de sua história, com a disseminação do fascismo e do ódio. “Como professora, acredito que falhamos ao não contar direito a história do Brasil para as gerações. Deveríamos ter criado uma cultura de indignação contra a tortura e todos os tipos de discriminação”.
Pelo caminhão de som que animou a atividade, passaram várias lideranças com seus discursos contra o a candidatura Bolsonaro. “Esta luta nos uniu, ele não, elas sim”, resumiu a candidata a senadora Abigail Pereira. Luciano Victorino, do Movimento LGBT, disse ser necessário tomar as ruas e delas não sair “para derrotar Bolsonaro”.
Homens soma-se ao movimento
Muitos homens também estiveram no parque. Concentrados em frente ao caminhão de som, os estudantes Gustavo Kafruni, 19 anos, Fred Gonçalves, 18, e Alberto Martins, 21, traziam nas camisas adesivos do candidato a presidente Ciro Gomes (PDT). Integrantes do Movimento Nova Pátria, eles defendem democracia e nacionalismo. “Bolsonaro se diz patriota, mas ataca nossa soberania e posa ao lado da bandeira dos Estados Unidos. Ele é um entreguista”, diz Gustavo. Os estudantes mostraram que não faltam motivos para combater a candidatura do ex-militar.
Wolney Prattes, aposentado, estava com a mulher e a filha. “Meu apoio é total ao movimento e não é uma questão de gênero, é contra o fascismo. Mas sei que serão as mulheres a derrotar Bolsonaro”.