O sistema de saúde cuida das mulheres negras?

Mulher negra, Elis, 38, passou anos até conseguir um diagnóstico sobre os problemas de saúde que afetaram sua vida pessoal e profissional. Ela se afastou do trabalho como advogada por falta de memória; desistiu do artesanato, uma das suas paixões, por coordenação motora debilitada; sentia dor na cabeça, fraqueza nas pernas e nos braços, fadiga, dificuldades na visão e espasmos musculares.

Em três anos, nenhum médico ouviu de fato todos os seus sintomas, e outros tentaram justificar o problema como algo psicológico, já que ela havia passado por um divórcio. “Nunca foi frescura, nunca foi histeria como já ouvi em tantos consultórios”, diz.

A história de Elis é relatada pela médica de família e colunista de Ecoa Júlia Rocha, que, após uma escuta qualificada e alguns exames, a diagnosticou com esclerose múltipla. “Quando se é uma mulher negra, as chances de ser deslegitimada e invalidada ao compartilhar suas dores dentro de um consultório aumentam muito”, explica a médica.

Estudos mostram que o racismo e a desigualdade social são barreiras que dificultam o acesso a tratamentos de qualidade e medicamentos, o que afeta diretamente as condições de saúde dos negros no Brasil. Implantada em 2009 com o intuito de combater o racismo institucional no SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra mostra que 11,9% dos negros já se sentiram discriminados em um serviço de saúde no país.

É preciso questionar os sistemas de saúde que permitem que algo assim aconteça. Ao redor do mundo a ciência já comprovou que a melhor porta de entrada para os sistemas públicos ou privados precisa ser a atenção primária e o trabalho da equipe multidisciplinar a qual o paciente deve se vincular

Júlia Rocha, médica e colunista de Ecoa

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