Olhar para o futuro

Este ano chegamos aos 26 anos da instituição do dia 25 de julho como o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Uma data que passa despercebida por boa parte de nós, mulheres negras, em todo este território. Um dia de luta, e de muita reflexão – principalmente para quem, como eu, é mulher, negra, periférica e mãe.

Não é fácil ser negra e mãe no Brasil, não é fácil ter este papel, de preparar seus filhos para o futuro, em um país onde a cada 23 minutos morre um jovem negro e onde uma jovem negra tem duas vezes mais chance de ser assassinada, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas. Não é fácil ser mãe e negra num país onde 63,7% dos desempregados são pretos e pardos, onde as portas se fecham para as mulheres negras. Um país onde somente em 2079 poderemos chegar a ter equiparação salarial entre negros e brancos, de acordo com a ONG britânica Oxfam.

Como desejar um futuro melhor para nossos filhos? Como protegê-los de um futuro como este? Como olhar por eles já, agora, neste presente tão desigual?

Por isso esta data é fundamental para nós, mulheres negras e mães. Precisamos refletir sobre nosso papel de existência e de luta neste cenário. Precisamos pensar em como poderemos protagonizar a construção de um futuro mais promissor, com mulheres e homens, negros e negras, potentes e capacitados, prontos para assumir seu posto de direito, em pé de igualdade na sociedade. Uma sociedade onde não precisemos mais batalhar por visibilidade e equidade de direitos, porque negros e negras terão suas vozes ouvidas.

Nossos filhos e filhas precisam crescer tendo orgulho da sua história, que foi construída a partir de uma diversidade rica e universal. Precisam cultivar a memória de nossas lutas, para impedir que haja qualquer retrocesso. Precisam ter em mente que não devem favor a ninguém, que podem ser quem são e ocupar os espaços que quiserem. E pra isso acontecer, é preciso que nós, mulheres negras e mães, cuidemos para que a sua educação seja libertadora, com base no afeto, na autonomia e no pertencimento.

Neste Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha convido você que, como eu, é mulher, negra, periférica e mãe a olhar para a sua cria e firmar o compromisso de não desistir da construção deste futuro, de manter-se firme, qualquer que seja a sua luta. Estamos todas, em comum unidade, batalhando pela restituição de identidade de todo um povo.

Somos os melhores sonhos dos nossos ancestrais e juntas construiremos ainda mais para os nossos descendentes.

É por eles que lutamos. É por eles que acreditamos. E será, a partir deles que re-existiremos em plena liberdade!


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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