Pokémon GO e racismo: para a comunidade negra, jogar nos EUA pode colocar suas vidas em risco

Nem tudo são flores para a comunidade de jogadores de Pokémon GO – ou melhor, para parte da comunidade. Ativistas do movimento Black Lives Metter (BLM) apontam problemas e riscos de vida para negros que querem caçar os monstrinhos em realidade aumentada nos Estados Unidos.

Do Todo Celular 

BLM é um movimento ativista, originário da comunidade afro-americana, que luta contra a violência contra os negros. Eles organizam regularmente protestos sobre mortes de pessoas negras cometidas por policiais, e questões mais amplas de discriminação racial, brutalidade policial, e a desigualdade racial no sistema de justiça criminal dos Estados Unidos.

As críticas ao aplicativo são diversas. Em termos gerais, os ativistas pedem que as empresas por trás do jogo pensem com mais cuidado com questões raciais, o que não é tão necessário em um país como o Japão, onde não existe muita miscigenação. Porém, em lugares como os EUA, para crianças e adolescentes negros, sair de sua área habitacional pode ser um risco de vida.

Essa polêmica foi levantada através de publicações na internet, que questionam desde os avatares do jogo até as regiões onde ficam os Pokéstops, nos EUA.

Racismo em Pokémon GO

De acordo com o Observer, ativistas do movimento negro acusam o jogo de racismo inerente. Há três aspectos em que Pokemon Go é considerado como racista por aqueles que o conhecem no movimento BLM.

O primeiro aspecto, que diz respeito mais ao jogo em si, do que aos problemas onde o jogador mora (falaremos dessa questão mais adiante) é que se você começar a jogar vai configurar um avatar branco. Além disso, pessoas negras não se sentem confortáveis em ter avatares brancos para caçar, recolher ou atacar monstros negros em sua própria vizinhança.

Essas questões podem parecer exagero para alguns, mas vieram em tempos difíceis para a comunidade negra norte-americana, que protesta nas ruas contra o assassinato de negros, como Alton Sterling e Philando Castela, que foram mortos por policiais no intervalo de 24 horas, sem nenhum crime cometido que justificasse o ato. Em protestos, os integrantes do BLM são presos e transmitem os ocorridos ao vivo pela internet.

Então, voltando ao Pokémon GO, além de não encontrarem muita representatividade positiva no jogo para os negros, eles estão principalmente preocupados com a segurança das crianças que desejam se divertir com os pokémons.

Pokémon GO em áreas perigosas – ou segura só para alguns

Omar Akil publicou um texto que tem repercutido em alguns sites, como o Kotaku. Para ele, jogar Pokémon GO pode ser uma sentença de morte. Este é o segundo aspecto levantado pelos ativistas.

Eles defendem que é muito mais seguro jogar Pokemon Go, que exige que você ande pelo seu próprio bairro ou cidade, se você for branco ou estiver em sua própria vizinhança. O terceiro aspecto, semelhante a este, é que se você é negro e jogar Pokémon GO em Beverly Hills, é provável que a polícia vai impedir, abordar, e ver o que você está realmente fazendo.

Um post no Tumblr, em tom de crítica, explica como caminhar para jogar Pokémon GO sendo uma pessoa negra, incluindo dicas como vestir roupas bonitas, levar um amigo branco com você, evitar bairros brancos, levar um cão, entrar em lojas e comprar algo. “Basicamente, você tem que deixar as pessoas brancas à vontade, parecendo tão infantil e/ou estudioso quanto possível”.

Akil relata sua primeira experiência com Pokémon GO e, após caminhar pela cidade, conclui:

Quando meu cérebro começou a combinar a complexidade de ser negro nos Estados Unidos com a proposta de vagar no mundo real e explorar, que é a proposta de gameplay do Pokémon Go, só havia uma conclusão. Eu poderia morrer se eu continuar jogando.

Ele lista os motivos:

  • Há uma chance estatisticamente desproporcional que alguém poderia chamar a polícia para me investigar por andar em círculos no complexo.
  • Há uma chance estatisticamente desproporcional que eu iria ser abordado por agentes da lei por medo, mesmo quando não há leis quebradas.
  • Há uma chance estatisticamente desproporcional que eu vou ser baleado enquanto procuro a minha identificação, que eu sempre tenho no meu bolso traseiro.
  • Há uma chance estatisticamente desproporcional de que mais tiros serão dados e eu vou estar morto antes de qualquer assistência médica disponível.

A premissa do Pokémon Go, conclui Akil, pede que ele coloque a vida em perigo “se eu escolher jogar como ele foi projetado e com entusiasmo”.

Vamos apenas em frente e adicionar Pokémon GO em uma longa lista de coisas que as pessoas brancas podem fazer sem medo de serem mortas, enquanto os negros têm que ser realmente cautelosos.

A principal crítica aqui, que se mistura com as questões raciais da sociedade em si, é que os desenvolvedores do jogo adicionem locais mais seguros para a comunidade negra, que ainda é marginalizada e “empurrada” em seus próprios bairros nos EUA, para que não se misturem muito com os brancos. E essa marginalização inclui latinos e muitos daqueles que nós, brasileiros, consideramos “brancos”.

Sem Pokéstops para eles

A discussão em redes sociais ganhou grandes proporções, tratando do direito de crianças negras e não-privilegiadas jogarem tranquilamente. Quando questionados e tidos como exagerados, os ativistas pediram que jogadores procurassem pokéstops e gyms nos bairros e áreas habitados por negros. O resultado foi preocupante.

O site de notícias BND também questionou a ausência de pokéstops nesses locais.

Em algumas áreas […] não há pokéstops. Alguns usuários de mídias sociais observaram que em sua pequena cidade e bairros rurais não tinham nenhum pokéstops, embora as áreas urbanas tinham muitos.

Em algumas áreas onde grande parte dos moradores [pertencem a] minorias, os usuários do Twitter observaram que pokéstops são difíceis de encontrar. Kendra James, uma escritora do Racialicious, observou que a cidade principalmente negra de Irvington, New Jersey “não tem pokéstop em todas as suas principais estradas”. Em comparação com Maplewood, que tem a maioria de moradores brancos, ela percebeu haver muitos mais.

O caso mais gritante é Detroit, que tem 83% de moradores negros, segundo o último censo, em 2010. Ali há bem poucos portais (que é onde aparecem os pokéstops), exceto no centro. O mesmo é verdade para a área em que a maioria é de negros, no noroeste da cidade. A maioria dos subúrbios brancos, por outro lado, tem a abundância de portais.

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