Guardas civis reagiram à ação de assaltantes em Itaquaquecetuba e mataram outros dois rapazes sem envolvimento com o crime; namorada de um dos agentes também morreu na troca de tiros
Por Suzana Correa, do O Globo
Uma investigação a respeito de um assalto que deixou três mortes em um posto de gasolina no último sábado em Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, teve uma reviravolta na quarta-feira. Câmeras de segurança do local mostraram que Kauê Oliveira Francisco, detido desde sábado como suspeito do roubo, e Rodinei Alves dos Reis e Bruno Nascimento de Souza, mortos durante troca de tiros no local, não tinham envolvimento com o crime.
O crime
Eram 14h15 do último sábado quando dois funcionários da Guarda Civil Municipal (GCM) de Itapecerica da Serra retornavam de moto com suas namoradas de uma visita ao santuário em Aparecida do Norte (SP) e pararam para abastecer em posto de gasolina na rodovia Ayrton Senna, em Itaquaquecetuba. Abordados por dois sujeitos armados a pé, os guardas e suas namoradas foram rendidos.
Quando os assaltantes se preparavam para fugir numa das motos, os guardas reagiram atirando contra os criminosos. Na troca de tiros, a namorada de um deles, a enfermeira Roberta Maria de Franca, de 36 anos, foi baleada no peito, morrendo pouco depois. Os dois assaltantes fugiram. Na troca de tiros, os guardas acertaram também um carro parado no local, matando dois dos passageiros. Era o carro de Kauê, Rodinei e Bruno, três amigos que também voltavam do Santuário de Aparecida, onde foram trabalhar vendendo água e sorvete na celebração do dia de Nossa Senhora Aparecida.
Ferido com um tiro na mão, Kauê saiu do carro e pediu ajuda para um dos guardas, explicando que era um sorveteiro sem envolvimento com o caso. O vídeo mostra que o guarda espancou o jovem e o rendeu com ajuda de outros presentes. Kauê teve a prisão em flagrante decretada e foi indiciado por latrocínio.
Ainda no sábado (12), Caio Jorge Marques, suspeito de ser um dos assaltantes que fugiu durante a troca de tiros, procurou a Santa Casa de Suzano, cidade próxima, buscando atendimento para ferimento por tiro no pé. Caio foi preso e indiciado após o atendimento médico. A moto foi encontrada dias depois na zona leste da capital. O segundo assaltante continua foragido.
A liberação de Kauê
Preso desde sábado, Kauê foi liberado na tarde de quarta quando o Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Mogi das Cruzes, que investiga o caso, concluiu a análise das câmeras de segurança que captaram o crime. No domingo, a prisão em flagrante de Kauê foi alterada para prisão preventiva.
O vídeo, disponibilizado online, contraria a versão prestada pelos guardas à polícia no último sábado. Segundo eles, os dois assaltantes teriam saído do carro de Kauê – um Fiat Siena prata com 5 pessoas. Mas as imagens mostram Caio e o segundo assaltante chegando a pé e anunciando o assalto para os guardas municipais instantes antes do momento em que o carro com Kauê, Bruno e Rodinei parava para abastecer na bomba de combustíveis entre os guardas e os assaltantes. Bruno dormia no banco de trás. Ele e Rodinei morreram em meio à troca de tiros entre os guardas e os verdadeiros assaltantes. No carro, foram encontrados seus celulares, cerca de R$300 e caixas com sorvetes e copos de água.
Protestos de familiares
Indignados, cerca de 50 familiares e amigos do trio protestaram na última quarta-feira em frente ao SHPP de Mogi das Cruzes pela morte de Bruno e Rodinei e prisão de Kauê. O jovem foi liberado do Centro Detenção Provisória de Suzano no mesmo dia após ser ouvido novamente pelo delegado do caso e considerado inocente.
— Quero justiça pela vida dos meus amigos. Eles eram inocentes. Nada vai trazer a vida deles de volta agora — afirmou Kauê em entrevista após sua soltura.
O segundo assaltante continua foragido. Segundo o G1, os dois agentes envolvidos continuam na Guarda Municipal, realizando atividades internas.