Primeiro caso tipificado como racismo é registrado no Distrito Federal

Primeiro caso tipificado como racismo é registrado no Distrito Federal

Uma mulher de 39 anos foi a primeira vítima a registrar ocorrência após a nova tipificação criminal que equipara o crime de injúria racial ao de racismo no Brasil. Na noite de sexta-feira (13/1), Marlla Santos foi agredida verbalmente e fisicamente por dois suspeitos, em Águas Claras, um dia após a sanção da lei.

“Macaca”, “preta nojenta” e “vagabunda” foram as ofensas que a conselheira tutelar ouviu minutos antes de chegar em casa. Ao descer do carro para abrir o portão de casa, Marlla se deparou com dois homens atravessando a calçada, que aos berros, perguntaram se ela não estava vendo a dupla. Em meio aos xingamentos proferidos, Marlla não conseguiu se defender imediatamente.

Porém, seu filho, de 17 anos, ouviu a discussão e questionou o que estava acontecendo e porque os homens xingavam sua mãe. Nesse momento, um dos criminosos, identificado como Gustavo, desferiu um soco no rosto do adolescente. Ao tentar ajudar o filho, Marlla foi puxada pelos cabelos e jogada no chão pelo outro homem, chamado de Bruno.

“Como se não bastasse a injúria, o racismo e a agressão, ainda fomos ameaçados. Porém, ele achou que estava lidando com uma pessoa que possivelmente se calaria. Eu sou formada, informada e consciente dos meus direitos, e, por isso, chamei a polícia e decidi registrar o boletim de ocorrência”, falou Marlla.

Quando a corporação chegou ao local do crime, os suspeitos estavam sentados em um bar, ingerindo bebida alcoólica. “Neste momento, a sensação de impunidade me tomou. Já vivi todas as situações imagináveis porque morei na rua e fui usuária de drogas, mas eu nunca passei por uma situação dessas de medo, onde eu nem posso voltar para minha casa”, completou a vítima. O caso está a cargo da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), e o caso de Marlla foi o primeiro de Injúria Racial tipificado como Racismo do Distrito Federal.

Mudança na lei

Em entrevista ao Correio, o advogado e especialista em direito constitucional Thiago Pádua explicou que a questão racial no Brasil é grave e urgente. “Temos uma questão não resolvida relacionada a escravidão. Antes da alteração do crime de injúria, tínhamos uma pena muito branda, o que dificultava a punição de pessoas que eram racistas na prática, mas que acabavam não recebendo nenhuma punição. A injúria tem uma ofensa pessoal contra a honra de uma pessoa. Com essa alteração recente, isso acaba sendo motivo de celebração. Temos uma composição importante na atual legislação”, ressaltou o advogado.

Leia também:

Lula sanciona lei que equipara o crime de injúria racial ao de racismo

Entenda o que muda com a equiparação de injúria racial ao crime de racismo

Ativista Raull Santiago registra queixa por ameaça, calúnia e injúria racial no Rio após ser vítima de fake news

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...