Qual é o seu feminismo? Conheça as principais vertentes do movimento

O que é feminismo? Essa é uma daquelas perguntas que não têm resposta definitiva.

por  no Brasil Post

“Hoje vivemos os ‘feminismos’. Sempre temos que falar no plural, pois este é um movimento marcado por uma dinâmica horizontal”, disse a pesquisadora Carolina Branco de Castro Ferreira, em entrevista ao Brasil Post.

O feminismo ganhou força no Brasil a partir dos anos 60, de braços dados com a luta pela redemocratização. “São mulheres letradas, de classe alta, que foram entrando em contato com feministas de fora do País”, comentou Carolina, que é pós-doutoranda do núcleo de estudos de gênero Pagu, da Unicamp.

Hoje, meio século depois, ele se amplificou e se dividiu em vários movimentos. Seu sujeito já não se resume à mulher branca, de classe média, que luta por direitos civis: é também a mulher negra, a mulher mãe, a mulher da periferia, a mulher jovem, a mulher lésbica… Fundadora do site “Think Olga”, a jornalista Juliana de Faria diz acreditar que as redes sociais são muito importantes para essa remodelação. “O feminismo pode ser o que quer que as pessoas façam dele, desde que condizente com suas bases”, disse ao jornal O Globo.

Carolina diz identificar três tendências mais populares no feminismo brasileiro hoje: o feminismo negro, o feminismo interseccional, e o feminismo radical. A estas, podemos acrescentar o feminismo liberal, que estamos “importando” dos Estados Unidos por meio da cultura pop.

É claro que há diversos matizes entre essas grandes vertentes. Mas compreendê-las pode ajudar a responder aquela pergunta do início do texto.

1. Feminismo negro

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Angela Davis, teórica feminista negra norte-americana
“O feminismo negro chega nos anos 80, concomitantemente com o fortalecimento do movimento negro no Brasil, e depois as mulheres vão fazendo seus próprios grupos”, explica Carolina.

Ele surge da ideia de que a mulher negra, por sofrer de uma dupla opressão, não é representada por outros “feminismos”.

“O profundo debate de raça e gênero é o que diferencia o feminismo negro de outros feminismos”, explicam Nênis Vieira, Xan Ravelli, Larissa Santiago, Maria Rita Casagrande e Charô Nunes, do site Blogueiras Negras

“Ele inclui pautas como, no caso brasileiro, o genocídio da juventude negra e como isso tem impactado as mulheres negras. Questões como a intolerância religiosa e a valorização das religiões de matriz africana são também parte do debate feminista negro que, acreditamos, não sejam pautas nem prioridades em outros feminismos”.

Audre Lorde, Sueli Carneiro e Angela Day são algumas das formuladoras desta corrente do feminismo.

2. Feminismo interseccional (pós-moderno)

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Fists Hands Raised

O feminismo interseccional é uma colcha de retalhos.

Ele procura conciliar as demandas de gênero com as de outras minorias, considerando classe social, raça, orientação sexual, deficiência física… São exemplos de feminismo interseccional o transfeminismo, o feminismo lésbico e o feminismo negro.

Mas como tanta diversidade consegue caminhar na mesma direção? “É uma tentativa de grupos de costurarem demandas, o que não é fácil. Algumas vezes, na prática, é difícil operar politicamente”, comenta Carolina.

Entre suas principais autoras estão Avtar Brah, Anne McClinton e Kimberly Cranshaw.

Este também é o feminismo mais receptivo à participação dos homens no movimento. “As radicais, nos anos 70 e mesmo hoje são completamente contra, porque para elas homens são opressores por natureza”, explica Carolina, que se considera uma feminista interseccional.

3. Feminismo radical 

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O feminismo radical nasceu entre os anos 60 e 70, a partir das obras de Shulamith Firestone e Judith Brown.

Ao contrário do feminismo liberal, popular nos Estados Unidos, que vê o machismo como fruto de leis desiguais, ou o feminismo socialista, que vê no capitalismo a fonte da desigualdade entre gêneros, o feminismo radical acredita que a raiz da opressão feminina são aos papéis sociais inerentes aos gêneros.

A partir dos anos 2010, com o boom do feminismo na internet, a vertente radical foi retomada por garotas jovens, autodenominadas “radfem”.

“São mulheres jovens, que reivindicam uma espécie de volta de um determinismo quase que biológico: mulheres são aquelas que têm vagina, que têm filhos, que têm ovário”, comenta Carolina.

O feminismo radical se desdobra em muitas vertentes. Uma delas são as TERF, sigla para “Trans-Exclusionary Radical Feminists”, ou seja, feministas radicais que excluem transexuais.

“As radfem recuperam esse argumento dos anos 60 e 70 e adaptam a questões atuais. Por exemplo: parte delas acha um absurdo que mulheres transsexuais se auto-identifiquem como feministas, porque elas nasceram biologicamente como homens“, diz Carolina.

4. Feminismo liberal

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Mary Wollstonecraft, feminista liberal, em retrato pintado por John Opie

O objetivo das feministas liberais é assegurar a igualdade entre homens e mulheres na sociedade por meio de reformas políticas e legais.

O feminismo liberal prega que as mulheres podem vencer a desigualdade das leis e dos costumes gradativamente, combatendo situações injustas pela via institucional e conquistando cada vez mais representatividade política e econômica por meio das ações individuais.

Por isso, a ascensão de mulheres a posições em instituições como o congresso, os meios de comunicação e as lideranças de empresas são vitais para esta visão do feminismo.

O discurso de Patricia Arquette sobre igualdade salarial no Oscar, o fenômeno Beyoncé e a campanha #HeForShe, de Emma Watson, que visa incorporar os homens à luta das mulheres por igualdade, são exemplos de feminismo liberal.

Mary Wollstonecraft, Betty Friedan, Gloria Steinem e o filósofo John Stuart Mill são alguns de seus formuladores.

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