Racismo e misoginia na USP-RP: Basta!

Mais uma vez mulheres negras e pessoas negras são objetificadas na Universidade de São Paulo, desta vez, no campus Ribeirão Preto, pela Bateria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, a Batesão. Comportaram-se e divertiram-se às custas da sujeição, dos discursos violentos e sexistas contra mulheres e sobretudo, contra as mulheres negras na USP.

 

Por: Fernando Vieira no, Me Representa 

 

A música que eles entoam é imensamente problemática. Além da misoginia, objetificação e machismo explícitos há imensa dose de heteronormatividade, ao determinar a afirmação da masculinidade como processo inerente a coisificação da mulher, a ser do gozo falocrático do homem. Eis a música:

Segue abaixo a nota de Repúdio emitida pelo Coletivo Negro da USP de Ribeirão Preto.

Nota de Repúdio do Coletivo Negro da USP-RP à Batesão.

O Coletivo Negro da USP-RP vem a público manifestar seu repúdio e indignação a respeito do cancioneiro da Batesão (Bateria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP) que apresenta letras misóginas e racistas.Mais uma vez a FMRP protagoniza um episódio lamentável de discriminação. Lamentável pra dizer o mínimo. O que está exposto no cancioneiro é um ataque, uma falta de respeito, um crime. Misoginia e racismo que se misturam de tal forma a agredir e desumanizar a mulher negra, reafirmando todo um histórico de inferiorização da mulher negra, por ser mulher e ainda negra ou negra e ainda mulher.

A Batesão assume seu lugar de senhor de escravos, pega o chicote e violenta mais uma vez as mulheres negras, se não pelo estupro que nossas avós, bisavós sofreram por parte dos senhores e seus filhos, pela subjugação do nosso corpo negro.

Em primeiro lugar, o corpo de mulher nenhuma está aí a disposição do prazer masculino, essas mulheres devem ter a autonomia de seus corpos e não serem coagidas ao sexo, acabando por sofrer abuso sexual. O machismo sempre presente nas letras das canções entoadas a plenos pulmões pelas baterias e atléticas das faculdades, manifesta-se em versos de conotação sexual extremamente agressivos, que chegam a incitar a violência sexual.


As mulheres negras sempre foram alvo das mais diversas formas de discriminação, considerada pelo sociedade como um não ser. Completamente invísivel ao olhos da sociedade, a não ser quando nossos corpos são vendidos na vitrine do carnaval ao título de exóticos e à alcunha de mulata. Afora isso nosso corpo é ridicularizado, caricaturizado pela mídia e desprezado no imaginário torto dessa gente dita brasileira, como diria Ellen Oléria. 


Nosso corpo negro não é objeto de consumo sexual ou mercadoria de carnaval, como querem afirmar alguns. Também não é abjeção como querem outros. É símbolo e instrumento de nossa luta e resistência.


A Batesão se antecipou e logo soltou sua retratação. Como se racismo se resolvesse com carta de retratação. Como se o massacre que a mulher negra sofre nesse sistema fosse aliviado com algumas palavras alegando desconhecimento do conteúdo do cancioneiro. Ainda temos que nos sujeitar a ler na tal carta onde os integrantes tem a cara de dizer que são engajados na luta contra discriminações, justificando que o mestre da bateria é negro e que eles adoram samba. Pois bem, o velho àlibi do amigo negro e do samba. Nossa, ter um mestre de bateria negro, realmente faz de vocês menos racistas e gostar de samba, aí sim, faz de vocês praticamente negros! Não venham com essa! Além de ser racista usar as poucas pessoas negras que vocês conhecem pra justificar o injustificável, ainda se utilizam de uma apropriação cultural como símbolo de boa convivência. 


Não Batesão! Nós não queremos esclarecer a questão, queremos enegrece-la, queremos torná-la preta e forte, como nossos corpos. Corpos combativos que estão aqui para questionar esse padrão vigente, que estão aqui pra destruir essa misoginia e esse racismo tão presente e tão massacrante.

Nós, mulheres pretas, existimos e resistimos!

Racistas e machistas serão atropelados pelos nossos corpos negros!

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