Representatividade importa

por Ana Maria Gonçalves via Guest Post para o Portal Geledés 

Há alguns meses, em um evento sobre cinema negro no Rio de Janeiro, ouvi o cineasta Jeferson De (Brother) falar de seu novo filme, O Amuleto. Jeferson contou que, antes de gravá-lo, inscreveu-se em vários editais, sem ser contemplado. Até que, com uma simples mudança, ganhou o primeiro edital em que se inscreveu. A mudança: mantendo a mesmíssima história, mudou os personagens: todos eram negros; todos viraram brancos. Diante de tal revelação, deu-se uma discussão muito interessante, pontuada por outro diretor negro, o Luiz Antônio Pilar, sobre a falta de avaliadores negros nesses editais. Ou a falta de sensibilidade e educação racial dos atuais avaliadores: a mesma história, se contada com e por personagens/atores brancos ou negros é digna ou não de financiamento, com claro detrimento de uma em relação à outra. Por isso, representatividade importa; e por isso, a importância de elegermos a escritora e ativista negra Cidinha da Silva para uma vaga no Colegiado Setorial do Livro e Leitura do Conselho Nacional de Políticas Culturais, pelo estado da Bahia.

Cidinha da Silva tem experiência na elaboração de políticas públicas para a área de livro e leitura. Em 2014, como gestora cultural da Fundação Palmares, organizou a coletânea “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil” (FCP-MinC, 2014), importante ferramenta na construção e efetivação de políticas públicas em âmbitos municipais e estaduais. Antes, em 2003, publicou “Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras” (Ed. Summus), um dos dez primeiros livros publicados sobre o tema no Brasil, em um momento no qual era muito importante instruir e ampliar o debate. Cidinha da Silva também é autora de mais 8 livros (contos, crônicas e infantojuvenil), além de vários textos publicados em blogs e nos portais Geledés e Fórum. Viaja o Brasil inteiro conhecendo projetos inovadores e dando palestras, levando em sua fala, assim como em seus textos, uma visão sempre lúcida, entusiasmada e questionadora de temas e detalhes que, sem sua análise, nos passariam despercebidos ou estariam relegados ao lugar comum da análise superficial e conservadora.

Cidinha da Silva está mais do que preparada para representar a Bahia no Colegiado Setorial do Livro e Leitura do Conselho Nacional de Políticas Culturais. Ela tem conhecimento, experiência e sensibilidade para nos representar e lutar por uma política cultural mais inclusiva, mais representativa, mais variada e, consequentemente, mais atrativa para uma grande parcela da população que se encontra à margem, seja como produtora ou receptora.

Todos podem escolher a representante da Bahia através do link http://cultura.gov.br/votacultura/foruns/ba-literatura-livro-leitura/. Basta preencher um rápido cadastro e votar. Sua participação pode fazer muita diferença.

Ana Maria Gonçalves, escritora, autora de Um Defeito de Cor

 

+ sobre o tema

“Entre Margens” valoriza a literatura negra no Vale do São Francisco

Quinta edição do evento acontece com exposições, oficinas e...

Mostra exibe os primeiros trabalhos do cineasta mineiro Joel Zito

Por meio de site criado especialmente para o projeto,...

Chef Aline Chermoula lança livro infantil inspirado na Culinária da Diáspora Africana pelas Américas

Livro Cozinheirinhos da diáspora: saberes e sabores de nossa...

Serena vence Kerber e iguala Graf como recordista de Grand Slams

Após duas tentativas frustradas com derrotas nas finais do...

para lembrar

Diretores negros fazem história em lista de filmes mais lucrativos de 2018

O movimento de diversidade e inclusão em Hollywood deu resultados em...

APAN promove 2ª Mostra do Audiovisual Negro em São Paulo

Evento amplia número de salas e exibe mais que...

Livro faz mapeamento de graffiti no Estado de São Paulo

Com lançamentos em São Paulo e Goiânia, jornalista e...
spot_imgspot_img
-+=