“Se Deus vier que venha armado”: entre a arte e a realidade

Primeiro longa-metragem do diretor Luis Dantas retrata violência que atingiu o Estado de São Paulo, em 2012

Por Karla Dunder Do Ponte

Se Deus vier que venha armado é o título do filme de estreia do diretor Luis Dantas, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (12/11). Premiado no 23º Festival Iberoamericano CineCeará e no FestAruanda 2013, em João Pessoa (PB), o longa tem um roteiro bem elaborado, impactante e consegue ser acessível sem cair no didatismo.

O enredo tem como pano de fundo a segunda onda de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo, em 2012, que deixou um saldo de mais de uma centena de policiais mortos. Do outro lado, com o revide da Polícia Militar, os números não são claros e é possível supor que muitos inocentes estejam nessa conta.

A ideia do filme surgiu em 2006, após os primeiros ataques do PCC e Dantas escreveu o argumento de “A Caça”, para sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo, onde leciona. O roteiro foi adaptado por ele juntamente com a jornalista e produtora Beatriz Carolina Gonçalves para chegar no texto final de Se Deus vier que venha armado. A dupla também realizou uma série de entrevistas com especialistas em segurança pública e com psicólogos que trabalhavam com a Polícia Militar. O livro “Cobras e Lagartos”, do jornalista Josmar Jozino também foi uma das referências usadas para a pesquisa.

O longa começa com o protagonista, Damião (Vinícius de Oliveira – de “Central do Brasil, de Walter Salles), um presidiário de 23 anos recebendo o benefício da saída temporária pelo Dia das Mães. O jovem sai com uma missão a cumprir para o crime organizado. Ao chegar em casa, é recebido pelo irmão, Josué, um mecânico que está prestes a se casar. Surge, paralelamente, na trama Jeferson (Leonardo Santiago) um soldado recém-chegado ao batalhão que é escalado para a patrulha do truculento sargento Mauro (Giulio Lopes) para circular pela periferia.

Damião vai ao encontro daqueles responsáveis por passar sua tarefa: levar explosivos para o litoral. Com a mochila carregada, segue para o campinho onde está o amigo Palito (Ariclenes Barroso), um jovem simpático e manco. A atuação de Ariclenes merece destaque. Revelação do cinema nacional, o jovem cearense começou sua carreira aos 9 anos de idade no teatro com o diretor José Celso Martinez Corrêa. Como Palito conquista o expectador por sua expressividade, principalmente nas cenas de silêncio.

Após o reencontro com o amigo de infância, Palito leva Damião para conhecer a turma do hip hop num espaço coordenado por Cléo (Sara Antunes), uma jovem atriz. E aqui começa o triângulo amoroso.

Palito-na-dança

O roteiro segue no jogo entre o social e o pessoal: a brutalidade da execução de Josué e o envolvimento amoroso com Cléo. Nesse roteiro bem trabalhado, há espaço para que Damião se recorde de sua mãe, uma mulher que ele mal conheceu, andando de bicicleta. A história continua e o trio segue para o litoral em uma viagem regada a álcool e drogas. Damião muda o foco. Agora não segue as ordens de uma organização, quer vingança.

Um belo momento do filme são as cenas gravadas em Mongaguá. O olhar de Hélcio ‘Alemão’ Nagamine, diretor de fotografia, oferece ao expectador imagens intensas e ao mesmo tempo delicadas.

Outro elemento importante é a cultura hip hop, presente em todo o filme – a começar pelo título emprestado de uma música do Pavilhão 9. Outro clássico que compõem a trilha é O Oitavo Anjo, de Dexter, na cena final. Músicos como Hugo Brek, Sandrão RZO, Fernando Macário e Paula Pretta fazem participações especiais. E o grafite que pode ser visto tanto nas paredes das ONGs como também nas paisagens da periferia. 

O fim surpreende e aponta para uma alternativa em meio a tragédia.

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