Sesc RJ realiza “O Corpo Negro”, um dos maiores festivais de dança do país

  • Grupos com protagonismo negro na cena da dança se apresentarão em sete cidades até 28 de maio – a maioria dos espetáculos são inéditos no Rio;
  • Todas as atividades são gratuitas, com retirada de ingressos antecipada nos espaços com lotação limitada.

RIO DE JANEIRO – Um dos maiores festivais de dança do país, “O Corpo Negro” segue até dia 28 deste mês, com apresentações gratuitas de espetáculos criados e executados exclusivamente por artistas negros e negras. Realizado pelo Sesc RJ, o evento chega a sua terceira edição com mais de 90 apresentações, shows, mostra audiovisual, oficinas e debates, ao longo de um mês, selecionados por meio de um edital público. 

“É a primeira vez que realizamos um edital orientado para artistas negros da dança. Mais do que uma ação afirmativa, que contribui para um ambiente justo e socialmente igualitário, o festival busca celebrar a contribuição desses artistas, em todo o país, para a dança. Durante um mês inteiro vamos parar unidades do Sesc no estado e mobilizar cidades para discutir dança e a urgência do combate ao racismo estrutural no setor cultural”, explica André Gracindo, analista técnico de Artes Cênicas do Sesc RJ.

Pedreira! – Foto: Felipe Sales

A seleção dos artistas por meio de um edital afirmativo e inédito de dança para todo o Brasil tem o objetivo fortalecer o segmento, gerar empregabilidade e proporcionar um espaço de visibilidade para os seus trabalhos. Foram destinados R$ 690 mil às produções, selecionadas no ano passado. De acordo com Gracindo, o projeto quer ser o ponto de partida para mais protagonismo negro na cultura brasileira.

“Temos artistas de uma geração com grande relevância para a cena como Elísio Pitta, Mestre Manoel Dionísio, Carmen Luz, bem como jovens e outros profissionais de todo o país que produzem arte para os nossos tempos, com trabalhos completamente sintonizados com as questões dos nossos dias. Que essas experiências produzam novas consciências sobre os processos históricos e as nossas responsabilidades pessoais e coletivas com a transformação da sociedade contra o racismo nas suas manifestações cotidianas”, diz Gracindo.

Imalè – Foto: Leonardo Lin

O projeto colabora com as discussões sobre como o racismo estrutural passa pela e com a necessária implementação de ações coletivas de outros setores da sociedade. “Desde a reelaboração dos livros de história que não podem mais representar como heróis os algozes de todas as etnias escravizadas; até as ações no campo simbólico, como a representação positiva da imagem da pessoa negra na cultura e na sociedade de forma geral”, acrescenta o analista técnico de Artes Cênicas do Sesc RJ.

Espetáculos em sete cidades do estado durante um mês

A programação se estende até 28 de maio nas cidades de Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Petrópolis e Volta Redonda. Os espetáculos serão apresentados em cerca de 18 espaços desses municípios, entre unidades do Sesc, escolas e universidades e praças públicas. As obras são de nove grupos do Rio e de mais 3 estados: Bahia, Ceará e São Paulo.

A maioria dos espetáculos são inéditos no Rio, exceto Motiró, da Cia Favela, e o Manifesto Elekô, da Cia de Dança Clanm, que já se apresentaram em unidades do Sesc no estado. Todas as atividades são gratuitas, com a retirada antecipada dos ingressos nos espaços com lotação limitada. Confira a programação detalhada e as sinopses abaixo ou no site www.ocorponegro.com.br

O festival terá ainda performance de Elísio Pitta, numa homenagem a Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo negro, morto em 2021, e que se notabilizou atuando por mais de três décadas na Europa, além de ter dirigido o Balé da Cidade de São Paulo. A programação traz ainda a estreia do espetáculo Iyamesan, de Luna Leal, numa performance só com mulheres. Outro destaque é Repertório Nº 2, com Davi Pontes e Wallace Ferreira, que vem circulando mundo afora com esse trabalho.

Embora a ênfase seja na dança, o festival também terá uma programação paralela com outras linguagens. Pela primeira vez, tem shows de música, com Awurê, na abertura, e Xande de Pilares, no encerramento.

Uma mostra audiovisual robusta também compõe a programação do evento, com 10 filmes de longas e curtas metragem, de cinco estados brasileiros: Rio, São Paulo, Minas, Bahia, Alagoas e Ceará. Ao todo serão mais de 40 exibições ao longo do evento.

Durante a mostra, será feito o lançamento do documentário Congar, produzido pelo Sesc RJ, e que registrou a viagem do Reinado de Nossa Senhora do Jatobá, de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, para apresentação no festival, no ano passado. O filme mostra diferentes gerações da irmandade, que levam consigo os seus ritos e celebram juntos a fé, a memória e o tempo.

Também serão oferecidas, durante a programação, oito oficinas de dança em espaços escolares. Destaque para as oficinas com o Mestre Manoel Dionísio, um dos maiores nomes do samba carioca, que vai ministrar aulas de mestre-sala e porta-bandeira nas unidades do Sesc em Ramos, Nova Iguaçu e Nova Friburgo. Também haverá cinco palestras com artistas e convidados, que vão discutir nas mesas pautas referentes à temática negra e a dança.

Encerramento – No 28 de maio, a partir das 14h, a Praça Mauá, no Centro do Rio, será palco do encerramento do festival com apresentação Sambando, com Minas do Samba, e O corpo que habita o terno, com Jefferson Bilisco. Haverá ainda a Feira de Empreendedores, que dará ênfase a empreendedores negros. O evento termina com show de Xande de Pilares, às 19h.

Por que “O Corpo Negro”?

Por meio das obras, o elenco do festival quer provocar na plateia o valor dos atos culturais brasileiros, elucidando as etnias e credos em diferentes âmbitos. Com força e expressões, “O Corpo Negro” verbaliza as fragilidades e emoções para além da discriminação racial, tendo o palco como ponto de fuga e resistência. O corpo é o ponto central de ataque dos mecanismos de racismo que coagem a sociedade, além de ser o espaço no qual estão as formas de construção das performances apresentadas no projeto.

“O corpo negro é, portanto, o lugar que apresenta todas as marcas históricas e todas as potências de transformação necessárias. O mesmo que se vê todos os dias, nas ruas, no trabalho, no cotidiano, queremos que seja visto de novas formas”, conclui André Gracindo.

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