e os pretos o faziam por obrigação, por ordem expressa e debaixo de vara.
aliás, a tortura está na origem da palavra trabalho, tripalium.
na entrada do campo de concentração e extermínio de Auschwitz, lia-se: a libertação pelo trabalho.
o trabalho ali, ao contrário do que possa parecer, era uma punição; a única libertação era a morte.
todos os povos do mundo que foram escravizados: eslavos (origem da palavra slave), hebreus, africanos, ucranianos, poloneses, russos, finlandeses… o foram como mão de obra a ser explorada.
o trabalhador é aquele que, com o suor do seu trabalho, lubrifica a máquina que o estrangula.
o trabalho danifica o homem.
em 1957, camponeses arruinados pela seca deixaram o semiárido nordestino e foram para o planalto central, com a promessa feita por aliciadores de que na proto-Brasília eles encontrariam trabalho remunerado.
promessa de uma vida melhor com a qual eles sonhavam, enquanto sacolejavam nos paus-de-arara que os transportavam.
trabalharam, esses infelizes, de dez a doze horas por dia, debaixo de um sol inclemente e sob um clima mais seco que o do deserto do Saara.
muitos se lembram do cafezinho batizado que vinha, sempre, no final da tarde quando todos já estavam exaustos.
tomavam drogas no café e despertavam como um Hércules.
esses pobres trabalhadores rurais que nunca haviam visto máquinas, erigiram em tempo recorde a cidade mais moderna do Brasil.
e, veja que curioso, eles não tiveram nenhum treinamento, aprenderam a fazer fazendo.
por conta da pressa e das péssimas condições de trabalho e segurança – veja as fotos da época e verás operários sem luvas, de chinelo de dedo e chapéu de palha – muitos morreram e tantos outros ficaram mutilados.
moravam, em barracos minúsculos, dentro de uma cratera onde mais tarde se inundaria um lago.
estavam ali a construir palácios e residências e seriam jogados fora, expelidos como restos de construção.
durante o último carnaval, antes da inauguração de Brasília, os trabalhadores explorados por empreiteiras reclamaram mais uma vez da comida ruim e pouca.
por essa insubordinação, centenas deles foram metralhados pelo exército dentro do refeitório da construtora.
esses construtores aprenderam com a cidade que fizeram nascer que o nome do trabalho é exploração.
até hoje se diz que foram JK, Niemeyer e Lúcio Costa que construíram Brasília, embora nenhum destes sujeitos tenham dado uma única martelada em um prego.
não há registros na história das pessoas que construíram as pirâmides egípcias, as cidades astecas e incas ou a capital do Brasil.
porque o trabalhador é apenas uma ferramenta.
e toda vez que ele luta por melhores condições de trabalho, descanso remunerado e paz no final da vida, sempre virão os exploradores privilegiados a gritar que eles já têm direitos demais.
querem lhe tirar até a aposentadoria e escrever em sua carteira de trabalho a frase da fachada de Auschwitz, o trabalho liberta.
desde que o sujeito trabalhe até a morte.
palavra da salvação.
** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.
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