Terreiro de candomblé é depredado em Valparaíso, Goiás

A Fundação Cultural Palmares recebeu mais uma denúncia de barbárie e intolerância religiosa nesta quarta-feira (9). O ato de ódio foi praticado contra o Centro Espírita Afro-Brasileiro Ilé Axé Iemanjá Ogum Té, localizado em Valparaíso, Goiás. O terreiro de candomblé foi invadido e completamente depredado.

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Segundo Noêmia Ferreira, responsável pelo terreiro, o ataque foi realizado na sua ausência, possivelmente entre os dias 7 e 8 março. Isso porque um quebra-quebra durante esta madrugada foi ouvido e relatado por vizinhos posteriormente.

Mãe Noêmia, como é conhecida, estava viajando e, ao chegar ao local na noite do dia 8, encontrou seu portão acorrentado. Com esforço e ajuda de seu marido, conseguiu rompê-lo. Por trás dele, deparou-se com o caos. Sua casa e o barracão que abrigava os objetos sagrados e os altares foram completamente destruídos. As paredes estavam todas no chão.

“Moramos em um país que oficialmente nos dá o direito de sermos o que bem quisermos. Portanto, ninguém tem o direito de invadir e destruir a casa alheia, principalmente quando se trata de uma casa religiosa. Essas pessoas destruíram algo que era sagrado para mim, algo intimamente ligado com os meus ancestrais, minhas raízes e crenças. A dor que senti no momento em que me deparei com aquela destruição foi profunda”, relata.

Acompanhados pela Fundação Cultural Palmares, os denunciantes registraram o Boletim de Ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia de Valparaíso (GO). Os responsáveis pelo crime, entretanto, ainda não foram identificados.

“Ainda estou profundamente abalada com esse ataque. Só espero que a justiça seja feita. Estou reunindo forças para me reerguer e reerguer minha casa. Tenho que dar a volta por cima”, diz Mãe Noêmia, que vive no local há mais de 15 anos.

Desde agosto de 2015, casas, barracões e terreiros de matriz africana vêm sendo sistematicamente atacados no Entorno de Brasília, no Estado de Goiás. O ataque ao terreiro Ilé Axé Iemanjá Ogum Té foi o sétimo atentado caracterizado como crime de intolerância religiosa na região no período de oito meses.

Mapeamento e institucionalização

No início deste mês, representantes do Ministério da Cultura, Fundação Palmares e Governo do Distrito Federal reuniram-se para a articulação e planejamento de um mapeamento cultural das casas de candomblé e umbanda do DF. A iniciativa tem como intuito registrar casas e terreiros de matriz africana e afro-brasileira da região, a fim de, tal qual um levantamento censitário, identificar quem são, quantos são e onde se encontram os espaços e as pessoas adeptas dessas religiões.

“Efetivando-se o trabalho de mapeamento das casas de umbanda e candomblé do DF, pode-se estar dando início a uma política pública que se torne referência para outras unidades federativas”, lembrou na ocasião Cida Abreu, presidenta da Fundação Palmares.

De acordo com a Fundação Palmares, o mapeamento cultural deverá aprofundar e ampliar os trabalhos iniciados pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR) de Lugares de Culto de Matrizes Africanas e Afro-brasileiras no Distrito Federal e Entorno, desenvolvidos pelas Superintendências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Distrito Federal e em Goiás. O inventário em questão teve apenas caráter amostral.

Para Mãe Baiana, coordenadora de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Palmares, ataques como o denunciado nesta terça-feira explicitam ainda mais a urgência de um mapeamento desses centros. “Não podemos mais tolerar ataques como esses, que já vêm acontecendo há muito tempo. O mapeamento desses terreiros trará uma institucionalização fundamental para a segurança desses espaços. Esse registro vai empoderar esse povo”, afirma ela, que já foi vítima de atentado semelhante.

Para a realização desse mapeamento, os envolvidos criarão ainda uma portaria que formalizará o grupo de trabalho responsável pelos procedimentos e metodologias que deverão ser adotados para a sua efetivação.
Denuncie

A Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, pune com pena de reclusão de dois a cinco anos quem cometer crime de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pode-se fazer denúncias em delegacias comuns ou nas especializadas em Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

por MinC

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