Toni Blackman, rapper e ativista:‘O rap faz até a Matemática ser popular’

Além de cantar e compor, americana, que veio ao Rio para a Flupp, tornou-se embaixadora da cultura hip-hop e lidera programas de ensino através do gênero

 

POR RENAN FRANÇA, no, O Globo 

“Tenho 46 anos, nasci na Califórnia, mas moro em Nova York. Fui a primeira artista ligada ao hip-hop escolhida para ser embaixadora cultural dos Estados Unidos. Faço rap desde os meus 11 anos, quando comecei a compor no ônibus escolar e, de uma hora para outra, virei líder rapper de torcida”

Conte algo que não sei.

Vou contar duas: a primeira é que sou uma grande cozinheira. Por ser vegetariana, aprendi muitas receitas de saladas com as quais chefes renomados ficariam surpresos. A outra coisa que você não sabe é que só 2% das músicas de rap produzidas chegam às rádios ou à TV. Não é um gênero fácil para se tornar um cantor.

Mas você conseguiu.

Comecei a cantar rap nos ônibus da escola. Ouvia os meninos compondo letras sobre os amigos, sobre o motorista, a escola e achava incrível. Um dia comecei a pensar e mostrar as canções, e as pessoas começaram a gostar tanto que fiquei popular, virei líder de torcida.

Que tal a experiência?

Além de aprender muito sobre os limites do meu corpo, compus muitas letras para apoiar o time de basquete do colégio. As escolas sempre possuem músicas ensaiadas, mas cantar rap para provocar o time adversário era novidade. Quando nossa equipe vencia e cantávamos minhas músicas, eu me sentia tão vitoriosa quanto os jogadores. Se hoje sou embaixadora da cultura do hip-hop, posso dizer que ter sido líder de torcida ajudou muito.

Qual é exatamente o seu papel como embaixadora?

Meu principal objetivo é mostrar que o hip-hop pode ajudar na educação. Viajo pelo mundo inteiro divulgando a cultura do rap, mostrando que pode ser uma maneira de inclusão do jovem na escola. É um gênero de música que está muito nas periferias, mas que deveria ganhar mais espaço.
Como a educação e o rap estão conectados?

No Bronx, em Nova York, conheci um professor que passou a ensinar Ciências através de batalhas de rap. Funcionava assim: ele ensinava os alunos, que, por sua vez, tinham que compor músicas com o conteúdo que haviam aprendido. Mais tarde, em grupo, disputavam entre si quem havia criado a melhor canção. Soube que na Colômbia um professor fez o mesmo com as aulas de Matemática e foi um sucesso. É um milagre: o rap faz até a Matemática ser uma matéria popular na escola (risos).

O rap feito de improviso é treinamento ou dom?

É difícil responder. É possível aprender, mas algumas pessoas já nasceram sabendo que conseguem misturar ideias e pensamentos muito mais rápido do que outras. Eu, por exemplo, componho 24 horas por dia.

Até quando está dormindo?

Minhas melhores canções, eu fiz quando estava sonhando.

Os homens que fazem rap compõem sobre dinheiro, mulheres e carros de luxo. Qual o tema preferido das mulheres?

Muitas coisas: sobre ser mãe, a relação com os filhos, os preconceitos que elas sofrem. Tal como os homens, elas tentam se comunicar através da música. É um rap mais sentimental, mas muito bom de ser ouvido.

E isso agrada a você?

Eu gosto muito. Acho ainda que poderia ser expandido. Por que não fazer um rap que peça aos homens que ajudem as esposas nas tarefas de casa ou que troquem as fraldas dos bebês? (risos)

Você esteve no Rio em 2008. Seis anos depois, acha que a cidade está diferente?

O Rio de Janeiro está sempre o mesmo. Como diz uma música muito conhecida de vocês, “continua lindo”…

 

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