A violência doméstica está perto de você e independe de renda ou escolaridade

Fabiane Boldrini, confeiteira, casada por 16 anos.

Luiza Brunet, atriz, em relação estável por 5 anos.

por Diego Iraheta no HuffPost Brasil

Na semana passada, essas duas mulheres romperam o silêncio da violência doméstica.

Fabiane, um nariz quebrado, o rosto ensanguentado

As imagens postadas no perfil do filho de 11 anos no Facebook.

Luiza, quatro costelas quebradas, hematoma no olho

A revelação na coluna de Ancelmo Gois, do Globo.

As sequelas da violência física, verbal e psicológica, imensuráveis.

As narrativas de Fabiane e Luiza nos sacodem para esta incômoda realidade que ainda persiste.

Homens que batem nas esposas, namoradas, companheiras.

Eles habitam este século.

Eles podem ser próximos a você, amigos, vizinhos.

Seu pai, seu irmão, seu avô.

A denúncia do filho de Fabiane pelo Facebook cruzou a intimidade dilacerante daquela família.

O pedido de socorro foi feito para o mundo, a fim de evitar um desfecho trágico:

“[quote font=”times” font_size=”25″ font_style=”italic” bgcolor=”#” color=”#000000″ bcolor=”#” arrow=”yes”]Não é possível tratar da mesma maneira um delito que é praticado por um estranho e o mesmo delito praticado por alguém de convivência muito próxima, como é o caso dos maridos, companheiros ou namorados. A violência praticada por estranhos em poucos casos voltará a acontecer. Na que é praticada por pessoa próxima, a violência tende a se repetir, podendo acabar em agressões de maior gravidade, como é o caso dos homicídios das mulheres que foram inúmeras vezes ameaçadas ou espancadas antes de morrer.”[/quote]

(Violência cometida contra a mulher compreendida como violência de gênero, por Caroline Ritt, Cláudia Cagliari e Marli Marlene da Costa)

No Brasil, foi a partir do fim dos anos 70 que a sociedade começou a tomar consciência sobre o significado das “brigas” dos maridos com as esposas, que envolviam tapas, socos e insultos.

Até então, o assunto era restrito às quatro paredes. O dito popular “em briga de marido e mulher não se mete a colher” buscava legitimar as agressões dos homens dentro de casa.

Graças ao feminismo, o problema saiu do armário das famílias e foi para o centro da esfera pública.

“A maior parte das inovações legislativas e institucionais no Brasil resultou de fortes movimentos feministas que propugnaram o combate à violência contra a mulher”, escreveu a professora da UnB Lia Zanotta, doutora em Sociologia.

Os anos 80 e 90 viram o florescer de iniciativas de acolhimento às vítimas de violência doméstica e a criação das primeiras delegacias especializadas.

A legislação foi se tornando mais rigorosa nos anos 2000, com a Lei Maria da Penha, mas ainda hoje milhares de mulheres sofrem com ameaças, ofensas e surras dos homens com quem convivem.

Um lar violento, uma relação abusiva não depende de renda nem nível de escolaridade.

O ex de Luiza Brunet, um empresário bilionário e suplente de senador, podia ser esclarecido.

Mas a psicóloga Juliana Paim, referência no atendimento às mulheres que sofrem esse tipo de trauma, já desmontou diversos mitos a respeito:

[quote font=”times” font_size=”32″ font_style=”italic” bgcolor=”#” color=”#000000″ bcolor=”#” arrow=”yes”]A violência doméstica não acontece só em famílias de baixa renda. É o fenômeno mais democrático que existe, não fazendo distinções de classe econômica, raça ou cultura.[/quote]

 Por isso, mulheres pobres ou ricas, anônimas ou famosas, como Fabiane ou Luiza, devem recorrer à Justiça, ao Ministério Público, à Polícia Civil.

Denunciar o crime é o primeiro passo para a libertação, como fez Luiza Brunet:

[quote font=”times” font_size=”21″ bgcolor=”#” color=”#000000″ bcolor=”#” arrow=”no”]”É doloroso aos 54 anos ter que me expor dessa maneira. Mas eu criei coragem, perdi o medo e a vergonha por causa da situação que nós, mulheres, vivemos no Brasil. É um desrespeito em relação à gente. O que mais nos inibe é a vergonha. (…) Não tenha medo de fazer denúncia no 180. Esta é uma campanha que vou abraçar: ajudar mulheres a perder o medo.”[/quote]

+ sobre o tema

Dia Internacional da Mulher Indígena

Hoje, 05 de setembro, é Dia Internacional da Mulher...

Coisa de vagabunda – Por: Clara Averbuck

Isso é coisa de vagabunda. Mulher que se dá...

Eles não estão doentes, e nós não estamos loucas

Ontem, uma menina foi estuprada por 30 homens no...

para lembrar

spot_imgspot_img

Coisa de mulherzinha

Uma sensação crescente de indignação sobre o significado de ser mulher num país como o nosso tomou conta de mim ao longo de março. No chamado "mês...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...

Dois terços das mulheres assassinadas com armas de fogo são negras

São negras 68,3% das mulheres assassinadas com armas de fogo no Brasil, segundo a pesquisa O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra...
-+=