A viúva de Samuel Machel, primeiro Presidente moçambicano, Graça Machel, disse esta segunda-feira ser responsabilidade dos governos de Moçambique e da África do Sul descobrir as causas do desastre aéreo que vitimou o estadista há trinta anos.
Do Sic Noticias
“É responsabilidade dos dois governos, de Moçambique em primeira mão, porque ele era Presidente de Moçambique, e da África do Sul, porque o avião caiu neste país, demonstrarem que de facto estão a trabalhar incansavelmente para trazer a verdade ao de cima”, afirmou Graça Machel, em declarações aos jornalistas, à margem de uma cerimónia alusiva aos trinta anos da morte de Samora Machel em Mbuzini, África do Sul, local da tragédia.
Graça Machel lembrou que todas as investigações ao desastre, ocorrido a 19 de outubro de 1986, foram inconclusivas e que a família continua à espera.
Na cerimónia, que juntou centenas de convidados no memorial erguido em memória de Machel em Mbuzini, o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, assegurou que o estadista foi vítima de um assassínio e que o “dossier” da sua morte “continua a ser uma prioridade nacional e um imperativo patriótico”.
Aos jornalistas, Graça Machel, primeira ministra da Educação de Moçambique, disse que preferia não tocar no assunto, alegando que já várias vezes foram assumidos compromissos nesse sentido.
“Já foram vários Presidentes: [os sul-africanos] Nelson Mandela, Thabo Mbeki, Jacob Zuma, os Presidentes de Moçambique Joaquim Chissano, Armando Guebuza, todo o mundo já disse isso. Portanto, Só vou acreditar quando vir o resultado”, declarou.
A viúva de Samora Machel, que voltou a casar-se em 1998 com o então Presidente sul-africano, Nelson Mandela, afastou, por outro lado, que a aeronave se tenha despenhado devido a erro humano.
“Mesmo que tenha havido erros, os erros não justificam que o avião tivesse caído. Por isso é que eu digo que as investigações são inconclusivas até hoje”, observou.
Malengane Machel, filho do casal, também sublinhou que “definitivamente” quer saber como morreu o seu pai, observando que os sul-africanos nunca se devem esquecer o que Moçambique fez pela libertação do regime do “apartheid”.
“Nunca se esqueçam de que Moçambique foi bombardeado só porque tínhamos sul-africanos que estavam a lutar pela sua independência”, disse o filho de Machel, que destacou o legado do antigo chefe de Estado em valores como “respeito pelo outro, honestidade e integridade”.
No topo da montanha onde se despenhou o avião presidencial, ergue-se desde 2009 um museu e um memorial, património nacional na África do Sul, que foi hoje o cenário das celebrações, dirigidas pelo vice-Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, e pelo primeiro-ministro moçambicano, perante outros membros dos respetivos governos, líderes locais, religiosos e tradicionais, familiares das vítimas, sobreviventes do desastre e apoiantes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e Congresso Nacional Africano (ANC), ambos no poder.
A cerimónia começou com a deposição de coroas de flores no local da queda do avião, onde 35 tubos metálicos na vertical invocam o número de vidas que se perderam, junto de destroços do Tupolev 134, de fabrico russo, em que viajava Machel e sua delegação, no regresso de uma viagem à Zâmbia e já na aproximação a Maputo.
Para Graça Machel, que hoje cumpre o seu 71.º aniversário, visitar Mbuzini é “um misto de sentimentos” entre feridas reabertas e alento.
“A dor é muito grande. Mas ao mesmo tempo, estes trinta anos reivindicaram a palavra de ordem de que Samora vive”, comentou, salientando o facto de haver jovens a ler e ouvir discursos de Samora e de a figura do primeiro Presidente permanecer no quotidiano do povo moçambicano.
“Choramos um grande soldado, um filho corajoso e nobre homem de Estado”, escreveu Mandela em 1986, ainda na prisão, à sua futura mulher, numa passagem da carta reproduzida à entrada do museu de Mbuzini, e que também lembrava que a luta de Moçambique e da África do Sul esteve sempre ligada e seria vitoriosa.
Lusa