5 perguntas para Cidinha da Silva

Uma das referências para o pensamento sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil, a escritora bate um papo com a Hysteria na véspera do I Festival Casa Sueli Carneiro, realizado em junho

Cidinha da Silva é puro poder. Autora de 19 livros, entre eles, os premiados “Um Exu em Nova York” e “Os nove pentes d’África”, ela também é curadora do I Festival Casa Sueli Carneiro, que começa nesta quarta (1/6) e ao longo de todo o mês de junho realiza mais de 20 atividades culturais, como leituras, debates, lançamentos, shows e homenagens, para iluminar a produção intelectual das mulheres negras.

O evento também é uma celebração a uma das mais importantes intelectuais do Brasil, Sueli Carneiro, que tem dedicado a própria vida para que a população negra tenha uma vida mais digna. “Isso é motivo de festa, sermos honradas com uma vida justa e frutífera dedicada a uma causa nobre”, diz Cidinha em entrevista à Hysteria.

No “Baú de Miudezas, Sol e Chuva” você diz que Sueli Carneiro a fez nascer pela segunda vez. Poderia falar brevemente dessa segunda vida e da importância da Sueli na sua trajetória?

Sueli Caneiro é uma mulher muito generosa e tem tomado várias mulheres, jovens ou não, como filhas ao longo da vida. Sou da primeira leva dessas filhas, composta por Solimar, uma de suas irmãs; Luanda, a mais amada, a filha que ela gerou, e eu, a caçula das três por ordem de chegada na vida dela. Meu pai é a pessoa que mais acreditou em mim desde que me entendo por gente e Sueli é a segunda pessoa nesse lugar, o de achar que o projeto que fiz de mim era possível. Ela, além de acreditar nele, tratou de prover condições para que ele se concretizasse. Por isso digo que Sueli Carneiro me deu minha segunda vida.

Num ano tão desafiador, o que este evento festeja?

Festeja as 72 idades de Sueli Carneiro, que tem dedicado sua própria vida, diuturnamente, para que a população negra desse país tenha uma vida mais digna. Isso é motivo de festa, sermos honradas com uma vida justa e frutífera dedicada a uma causa nobre.

Vocês construíram uma agenda recheada de homenagens, leituras, atividades… No mergulho para construir este programa, qual foi a sua descoberta mais revolucionária, considerando especialmente a nova produção intelectual de mulheres negras? 

Não sei se tive uma descoberta revolucionária… talvez possa dizer que uma leitura inicial das propostas de atividades feitas pelo público para o Festival, destaca a admiração e reverência das pessoas e grupos por Sueli e todas destacam o papel transformador que Sueli teve na vida delas em diferentes momentos, da infância à vida adulta. Essa, talvez seja a grande revolução, a transformação cotidiana que Sueli Carneiro, seu ativismo político, seu pensamento e seu legado provocaram e provocam em pessoas e organizações.

Em uma entrevista você diz que seu desejo de escrever veio da infância ao descobrir grandes cronistas. No entanto, você começou a publicar de fato aos 39 anos. Por que demorou? 

Demorei porque esse foi o meu tempo de maturação do desejo de ser escritora e de transformá-lo em ação. Quanto ao compartilhamento, em 2005 eu publicava crônicas em um boletim eletrônico e as pessoas começaram a me perguntar quando leriam um livro meu com aqueles textos. Achei que era a hora e resolvi organizar meu primeiro livro.

Quais diálogos entre tradição e contemporaneidade estão no seu horizonte?

Esse é o líquido amniótico que me nutre e me gesta, incessantemente. Se você quiser uma resposta objetiva, estou trabalhando em livro de crônicas que sairá este ano pela editora Martelo, o “Tecnologias ancestrais de produção de infinitos”, mais um volume de crônicas.

Qual o recado ou incentivo você daria para meninas, mulheres que estão querendo escrever, mas estão presas no plano só da ideia? 

Quem quer escrever precisa ler muito, selecionar e organizar leituras. Precisa escrever e reescrever. Precisa submeter o que escreve à crítica e ter ouvidos abertos para considera-la. Precisa reescrever e quando pensar em publicar, é bom pensar nos porquês de desejar fazer um livro.

E para finalizar, também gosto de fechar com: qual a pergunta que você adoraria que tivessem feito a você, mas nunca aconteceu? 

Deve ser comum que as pessoas te respondam que, assim, de supetão, não saberiam dizer. É a minha resposta. Se você me perguntasse qual o ponto alto do nosso Festival, diria que serão as atividades dedicadas a discutir o pensamento de Sueli Carneiro.

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