Mulheres negras sofrem mais violência que brancas, diz pesquisa

Estudo aponta ainda que episódios de agressões severas também são mais comuns na população feminina negra

A proporção de mulheres negras vítimas de violência é maior do que entre as brancas, mostra a quarta edição da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil”.

O levantamento, divulgado nesta quinta-feira (2), foi realizado pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e aponta para um agravamento em todas as formas de violência contra a mulher.

Segundo a pesquisa, o percentual de vítimas de violência sexual é similar entre todos os grupos. Entre mulheres brancas, 21,9% afirmam que foram vítimas de ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual quando não queria por algum parceiro ou ex-parceiro —entre negras, o número é similar, de 20,1 %.

No caso de violência física, o cenário é outro. O levantamento mostra que 45% das mulheres negras afirmam que já sofreram alguma violência ou agressão ao longo da vida, número que cai para 36,9% entre brancas.

A diferença continua no caso de violência física severa. Enquanto 6,3% das negras afirmam que já foram vítimas de espancamento, 3,6% das brancas sofreram esse tipo de ataque . Algo similar acontece entre as vítimas de ameaça com faca ou arma de fogo —negras (6,2%) e brancas (3,8%).

A proporção de negras que tiveram negado o acesso negado a recursos básicos —como assistência médica, comida ou dinheiro por algum companheiro ou ex-companheiro— é de 10,9%, também maior do que entre mulheres brancas (7,1%).

Para Juliana Brandão, pesquisadora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a disparidade da violência física contra mulheres negras é mais uma evidência do racismo estrutural que assola o Brasil.

Entre as recomendações do Fórum diante deste cenário está a garantia do acolhimento e a ampliação da capacidade de abrigar mulheres em situação de violência e seus dependentes.

“O que chama atenção é que essas mulheres têm mecanismos que estão disponíveis, mas que não estão acessíveis”, diz Brandão. “Além de massacradas por essa violência, elas estão sendo completamente silenciadas de qualquer maneira de sair desse ciclo, que acaba se naturalizando.”

Para ela, a mulher negra é revitimizada pela sociedade. “Ela é vítima porque é mulher, negra e o corpo é objetificado. Além disso, muitas vezes, a sociedade tem a leitura equivocada que a mulher negra é aquela que ‘aguenta o tranco’. Ela não tem um espaço para ser respeitada como uma mulher com direitos a serem conservados e acaba sendo mais suscetível do ponto de vista de violação de direitos.”

A pesquisadora do Fórum diz ainda que as políticas públicas se mostram ineficazes com as mulheres negras, que estão na “ponta da lança”. “Por isso, é preciso que políticas estejam mais especificadas e conectadas para que essa população saia do topo da lista [de mais violentadas]”.

“No afã de se universalizar a questão da violência contra a mulher, muitas vezes se esquece que as pautas das mulheres negras diferem muito das questões do feminismo mais clássico e voltado para as mulheres que estão antenadas em outras questões”, completa a pesquisadora.

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