bell hooks deixa uma obra extensa, afetuosa e de um valor inestimável

Trabalhos da intelectual têm um amor que propicia o desdobramento das ideias antirracistas e antissexistas

A escritora e ativista bell hooks (Foto: Divulgação)

Um vazio se alastrou nas redes sociais entre pessoas e grupos do campo de estudos e ativismos que interseccionam raça, gênero e classe com a notícia da morte da crítica cultural bell hooks aos 69 anos nesta quarta-feira. Alguns pontos explicam as miríades de postagens.

Nascida no sul dos Estados Unidos, em Hopkinsville, no estado de Kentucky, no longo período de segregação racial e espacial, sua formação em literatura inglesa se ampliou para os estudos que articulam raça, gênero e classe enfocando mulheres negras. Esse espaço primordial de vivência, da mesma forma que outros pontos de sua trajetória, eram bastante acionados nos ensaios e capítulos relativamente curtos —para o padrão acadêmico brasileiro.

A entrada de seus textos no Brasil, no final dos anos 1990, foi lenta e esparsa, mas firme, via publicações feministas e, posteriormente, no horizonte da educação crítica. O processo atual de pesquisa, tradução e publicação de parte significativa de sua obra se justapõe à circulação dos trabalhos de autoras negras dos Estados Unidos e do Brasil.

Dois conjuntos temáticos podem ser ressaltados na sua obra. A primeira é a interseccionalidade, antes do conceito ter sido formulado, que foi tecida na sua produção e também nas de Angela DavisAudre Lorde, Lélia GonzalezBeatriz Nascimento.

Com todas as diferenças e desigualdades no que concerne a nação, raça e gênero, surge dessas intelectuais ativistas uma categoria analítica e metodológica feminista negra que passa a ter leituras variadas. Além disso, bell hooks elabora a noção de sistemas interligados de dominação —racismo, sexismo, classismo, ou elitismo— aos quais podemos acrescentar a segregação espacial.

A outra sequência temática de bell hooks diz respeito à educação crítica, na qual ela demarca sua aproximação com o pensamento de Paulo Freire, apontando a lacuna das questões de gênero na obra do pedagogo.

Três livros concentram suas ideias nesse campo, agregando a dimensão racial, pouco presente em debates acerca da educação –”Ensinando a Transgredir: A Educação como Prática da Liberdade”, “Ensinando Comunidade: Uma Pedagogia da Esperança” e “Ensinando Pensamento Crítico: Sabedoria Prática”.

Há outras proposições de hooks que reverberam na sociedade brasileira. Uma delas é a crítica da indústria cultural —cinema, televisão, música— em que a trama interseccional se reconfigura —seja na abordagem dos estereótipos ou das performances de artistas pop.

A outra é o amor, delineado como afeto político (uma proteção comunitária), por sua vez, suprimido a alguns segmentos desde o longo processo colonial e escravista. Literalmente, o afeto se tornou comum em seus ensaios, na verdade, em livros inteiros. Nesse bojo, cabe inserir os livros destinados a um público infantil.

-+=
Sair da versão mobile
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.

Strictly Necessary Cookies

Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.

If you disable this cookie, we will not be able to save your preferences. This means that every time you visit this website you will need to enable or disable cookies again.