Cuidados comunitários evitam mortes por Covid-19

Enviado por / FonteECOA, por Bianca Santana

Como já contei em textos anteriores, o projeto Agentes Populares de Saúde oferece monitoramento a pessoas com sintomas de Covid-19 em cinco territórios onde a UNEafro atua. Com o apoio de médicas e médicos voluntários, a utilização de termômetros, oxímetros e a distribuição de materiais informativos, agentes populares contribuem com o SUS e desafogam o sistema de saúde ao apoiarem cuidados domésticos, ao mesmo tempo que salvam vidas ao identificar casos de agravamento no momento exato em que o hospital se torna necessário.

A baixíssima taxa de letalidade do projeto é um dos indicadores que permitem afirmar sua eficácia: de 387 pessoas com sintomas de Covid-19 monitoradas até 10 de novembro de 2020, data do último relatório produzido, apenas 23 precisaram de internação hospitalar e uma morreu. Apesar do luto pela morte de Jorge Luiz Neves Pereira, aos 67 anos, vibramos a cada pessoa que se recupera sem precisar de internação e também a cada alta hospitalar.

Diante da ação criminosa do presidente da república em insistentemente recomendar o uso de um medicamento sem eficácia para tratamento da Covid-19; e das denúncias recentes da plataforma TrateCov, do Ministério da Saúde, que recomendava ainda mais medicamentos sem comprovação científica de eficácia no tratamento do coronavírus, mas com a possibilidade de graves efeitos colaterais, cabe cobrar a responsabilidade de inúmeras médicas e médicos que abriram mão da ciência para seguir os desmandos de um governo que promove a morte.

Além dos 23 casos de agravamento acompanhados pela UNEafro, outras 164 pessoas monitoradas pelo projeto passaram pelo sistema de saúde. Deste total de 187, que estiveram em um posto de saúde, AMA, UPA ou hospital, 131 receberam a prescrição de um dos medicamentos erroneamente indicados para “tratamento precoce de covid”. Na nossa pequena amostra, 53% de quem chegou ao sistema de saúde saiu com um remédio que não auxiliaria em nada sua recuperação, criando riscos desnecessários e gerando novos sintomas.

“As pessoas monitoradas por mim que fizeram uso da Azitromicina, relataram imensa fraqueza e sensação de desmaio, além de todo o mal-estar gerado pela própria Covid-19”, afirmou a agente popular de saúde Letícia dos Santos. “Dois casos, de um casal, foram especialmente graves: a mulher que já sabia ser alérgica ao medicamento foi orientada a tomá-lo assim mesmo. E o marido, que já havia feito um transplante renal, com necessidade de muita cautela para o uso de medicamentos, tomou Azitromicina por três dias, sem nenhuma segurança comprovada”.

De acordo com as análises produzidas pela médica Bruna Santo Silveira e o sanitarista José Murakami, 93% das pessoas que receberam a prescrição de algum medicamento, foram orientadas a utilizar o antibiótico Azitromicina: 25% apenas este medicamento ou com algum analgésico-antitérmico simples, e 68% combinada com outros medicamentos também ineficazes, como cloroquina, oseltamivir, ivermectina e zinco.

“Até o atual momento, não se conhece nenhuma medicação capaz de tratar o coronavírus. Evitar a sobremedicalização é fundamental para que a pessoa não tenha, além dos sintomas causados pelo vírus, efeitos colaterais de medicações desnecessárias que não trarão nenhum benefício comprovado. Em alguns casos em que o coronavírus pode estar associado a mais infecções ou condições, outras medicações podem ser necessárias, porém, é importante frisar que não é a quantidade de remédios desnecessários que garantirá saúde e boa recuperação”, registrou a médica Bruna Santo Silveira no relatório de novembro, reproduzindo o que afirma a cada reunião de formação e acompanhamento de agentes populares de saúde e também nos atendimentos a pessoas monitoradas pelo projeto.

Bruna também argumenta que utilizar medicamentos apenas para o que há eficácia comprovada garante continuarmos nos beneficiando deles. “O uso indevido e indiscriminado de antibióticos pode gerar resistência bacteriana. Utilizar a Azitromicina equivocadamente no tratamento para Covid-19 coloca o risco de perdermos este medicamento para aquilo que ele é muito eficiente: o combate a infecções bacterianas

 

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