Por Saul Leblon
Demóstenes Torres
Mais um torquemada da moralidade pública tem sua natureza inflamável exposta às labaredas da santa inquisição que tantas vezes ajudou a atiçar. Nada incomum. A qualidade ética dos nossos savonarolas, justiça seja feita, estampa-se na face. Registre-se, no entanto, para o bem da memória nacional, esta passagem na vida do senador Demóstenes Torres (Demo-GO), pré-cozido nas chamas purificadoras do incinerador de reputações ao qual tantas vezes serviu e do qual não raro se aproveitou: a revista semanal que melhor representa seus valores e os de seus pares e que, às vezes, devora um deles por razões que o tempo dirá.
Revelações publicadas pelo mencionado veículo, derivadas de uma operação da PF, Monte Cassino, dão conta de abundante intimidade telefônica contabilizada em centenas de ligações, do referido torquemada com o bicheiro e contraventor Carlinhos Cachoeira, de quem recebeu uma geladeira e um fogão, por ocasião do casamento, em 2011. Sobre as gentilezas der Carlinhos – importadas, da mesmo fabricante que abastece a Casa Branca– o demo explicou que: ‘Por educação, não pergunta o preço do presente, nem o devolve’. Amplia a compreensão dos fatos recordar que o nobre senador foi um dos baluartes da campanha pelo impeachment de Lula, em 2005, perfilando entre os mais assanhados apetites da coalizão demotucana e do dispositivo midiático acionado para esse fim –do qual a revista que ora o flamba foi um expoente exemplar
.Recorde-se ademais, que o amigo do peito contraventor priva de suas relações desde quando Demóstenes ocupou a secretaria de segurança de Goiás, entre 1999 e 202, no governo Marconi Perillo, este também listado entre os amigos longevos de Cachoeira. Coincidentemente, em 2004, Cachoeira foi, digamos assim, o visgo que atraiu Waldomiro Diniz, ex-dirigente da Loterj e então assessor do ministro José Dirceu, na Casa Civil, para um encontro filmado, em que negociava propina com o bicheiro. O vídeo resultou na demissão de Waldomiro do governo e na espiral de ataques contra o governo do PT que, a depender dos Demos e tucanos, teria culminado, em 2005, durante o episódio cunhado como ‘mensalão’, em um processo de impeachment. Coube à resistência popular liderada por movimentos sociais, sindicatos e CUT frustrá-lo.
Hoje, Demóstenes acusa os que, no seu entender, estão politizando suas amizades e presentes. O senador cultiva ostentar-se como um linha dura que coloca valores acima de amizades e miudezas. Como tal reagiu , por exemplo, ao lançamento tardio da candidatura municipal de Serra em São Paulo, que desagradou setores do seu partido: “O importante é a causa, e a causa é o Serra ganhar a eleição contra esse ideário maluco do PT”. Em nome da mesma causa, especula-se, o senador – que inclui em sua ficha de valores uma acirrada campanha contra as cotas para negros em universidades públicas – acalentaria o sonho de se candidatar à Presidência da República em 2014. O candidato de uma causa: a da direita linha dura, mas que , ‘por educação’, não dispensa mimos de amigos contraventores.
Leia mais sobre Demostenes Torres:
Demóstenes Torres do DEM responsabiliza negros pela escravidão
A TEORIA NEGREIRA DO DEM SAIU DO ARMÁRIO
A mulher negra, a negação de Demóstenes e minha humilde cota no debate das Cotas.
O Movimento Negro e jornalistas repudiam o senador Demóstenes Torres e Demétrio Magnoli
O deputado do DEM, o racismo e seus equívocos conceituais
Leci Brandão rebate declaração do senador do DEM
A tesoura de Demóstenes e o Estatuto
De Cazemiro@edu para Demóstenes.Torres@gov>;
Ministro estuda criar regra sobre cotas sem passar pelo Congresso
Estatuto Racial: Abdias – Se pudessem, colocavam o negro de novo na escravidão
Estatuto: A vontade da Casa Grande
13 de maio: da Lei Áurea à essência escravocrata da direita
Os perigos de uma crítica maniqueísta
Fonte:Correio do Brasil