Djamila: racismo só choca quando acontece com a filha do Bruno Gagliasso
Do Brasil 24/7

Feminista negra, mestre em filosofia política e ex-secretária-adjunta de Direitos Humanos de São Paulo – na gestão de Fernando Haddad –, a autora Djamila Ribeiro tem se destacado como uma das vozes mais atuantes em debates sobre questões de gênero e racismo.
Em entrevista à repórter Paula Reverbel, ela aborda o tema de seu livro: quem tem direito a voz em uma sociedade ainda racista e machista?
“Infelizmente o Brasil naturaliza muito a violência. Muitas vezes, quando a gente fala da nossa rotina, as pessoas acham que é exagero. Só vão se chocar quando acontece algo com a filha, por exemplo, do Bruno Gagliasso. Mas falta o entendimento de que, quando a gente fala de racismo, é sobretudo do racismo estrutural. Ligar a televisão e não enxergar pessoas negras… Por que na USP a maioria dos professores são brancos e as mulheres que limpam os banheiros são negras? Por que não tem pessoas negras, enfim, nos espaços de poder?
Se eu vou pegar um voo internacional, as pessoas olham com cara estranha, ou vêm falar em inglês comigo, porque acham que eu sou estrangeira. E eu tiro onda porque, se eu for também todo dia me estressar com isso, eu não vivo. Tenho uma filha pra criar, precisar estar bem. Se estou no exterior e encontro brasileiros, eles começam a perguntar: “Veio fazer o que aqui nos EUA, você veio sambar? Você veio fazer show?” Então, se eu encontro brasileiro sem noção fora do Brasil, eu geralmente falo “no portuguese”, pra evitar o estresse. Passei uma semana de outubro na Noruega e andava muito mais tranquilamente num país nórdico do que no meu próprio país.”