Estações Feministas

Março tem sido um mês dedicado à luta das mulheres pela igualdade de direitos, momento em que nos unimos àcelebração do Dia Internacional da Mulher para a construção de uma pauta avançada. Foi assim com a aprovação de leis fundamentais que surgiram a partir de debates que tiveram início em março e evoluíram.

Por Jandira Feghali, do Jornal do Brasil 

Este ano será diferente. Motivadas pela “Primavera das Mulheres”, movimento que foi às ruas contra projetos que retiravam direitos, as mulheres colocaram o tema em destaque e, desde então, a luta feminista ganha as redes sociais e as passeatas numa declaração clara de que o feminismo vive e não dará tréguas ao preconceito e ao conservadorismo.

A primavera é apenas uma faceta das corajosas mulheres brasileiras. Temos em nós as quatro estações representadas. A primavera fez germinar com força nossa indignação e nossa disposição de enfrentar o debate. Nosso ensolarado verão afugentará as trevas que insistem em fazer das mulheres vítimas da violência doméstica e das desigualdades e prisioneiras de uma mentalidade ainda machista.

O outono nos encontrará resistentes aos ventos que, por ventura, tentem desfolhar nossos argumentos e nossas metas e não haverá inverno frio o suficiente para arrefecer nossa determinação.

Nossa pauta está posta e é clara. Recursos para a plena implementação da Lei Maria da Penha. Investimentos para as políticas de planejamento familiar e demais direitos sexuais e reprodutivos. Aprovação de projetos que tornem o mercado de trabalho e a previdência social mais acessíveis e justos para com as necessidades das mulheres que almejam uma carreira e enfrentam a dupla jornada. Acesso à educação e ampliação do número de creches, instrumentos fundamentais para a emancipação das mulheres.

Esta pauta tem que ganhar as ruas e as vozes das candidatas a vagas nas Câmaras Municipais e prefeituras. Nas eleições de 2012 foram eleitas 7.648 vereadoras, o que representa 13,3% do total de vagas. No mesmo ano 670 prefeitas foram eleitas em primeiro turno, 12,1% das prefeituras. Esses números, apesar de um avanço em relação às eleições anteriores, mostra o nível do desequilíbrio existente. Desequilíbrio que deve começar a diminuir a partir da proposta que determina a reserva progressiva de cadeiras nos Legislativos municipais, estaduais e na Câmara dos Deputados. De início destina 10%, obrigatoriamente, para as mulheres. Na eleição seguinte, 12% e, por fim, 16%. Já aprovada no Senado Federal, aguarda análise da Câmara.

Queremos apoio e investimento na formação política das mulheres, além de apoio para as campanhas femininas. O fim do financiamento por empresas foi um avanço, mas deve ser substituído por uma distribuição equilibrada dos recursos advindos dos partidos e cidadãos.

Mais candidatas. Mais mulheres nas ruas reforçando a pauta feminista. Mais homens comprometidos com esta pauta. Independente da estação estaremos juntas e faremos ecoar cada vez mais longe a justiça de uma sociedade onde homens e mulheres são plenos em direitos e deveres. Sem discriminações. Sem violência. Sem intolerância. Sem medo.

* Médica, relatora da Lei Maria da Penha e deputada federal (PCdoB/RJ)

+ sobre o tema

Mulher com a Palavra promoverá segunda edição com a filósofa e escritora Marcia Tiburi

A Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres da...

Precisamos falar sobre como você silencia as mulheres ao seu redor

Quando começamos a falar de cultura do estupro, uma...

Dez romancistas feministas importantes na história da Literatura

Pouca gente sabe, mas a escritora inglesa Virginia Woolf,...

Bloquear os retrocessos no Brasil

A AWID falou com Ana Cernov, coordenadora de programas...

para lembrar

Do medo

"Não fica com medo não que o bicho sente!",...

Conselho Nacional da Mulher diz ser contra Estatuto do Nascituro

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher manifestou a...

Mulher dá à luz na recepção de maternidade e bebê cai

  Mãe esperava por atendimento na maternidade Nascer Cidadão, na...

SPM prorroga, até 30/8, inscrições para o Pró-Equidade de Gênero e Raça

Empresas e instituições privadas e públicas que promovem...
spot_imgspot_img

Os feminismos favelados inscritos nos corpos das mulheres da Maré

Andreza Jorge cresceu em Nova Holanda, dentro do maior e mais populoso conjunto de favelas do Rio de Janeiro: o Complexo da Maré. De...

“O feminismo branco foi construído em cima da precarização do trabalho da mulher negra”, diz Ana Maria Gonçalves

O Roda Viva recebe nesta segunda-feira (17) a escritora Ana Maria Gonçalves, autora do premiado livro 'Um Defeito de Cor'. Durante a entrevista, a autora defende a manutenção...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...
-+=