Janaína Paschoal foi picada pela cobra da falta de noção do ridículo. Por Cidinha da Silva

Gente! Que babado forte! Janaína Pachoal, a advogada do impeachment, foi picada pelo veneno mortal da mosca azul. Aquela que infecta as aspirantes a celebridades instantâneas.

Por Cidinha da Silva. no DCM

O que foi aquilo? Ela surtou no afã de lacrar. Lacração, a ciência do momento, não é para todo mundo. É preciso ter know how.

Minha teoria para o discurso messiânico de Janaína, tão comum entre os homens na política e que começa a contaminar mulheres, principalmente aquelas a serviço do patriarcado, é que rolou ali um ciumezinho das belezas múltiplas e polifônicas produzidas pelos artistas anti-golpe Brasil afora.

Vejam bem, falo de gente que faz arte, que produz transformação pela beleza, pelo senso crítico, pela ironia, pelo apuro estético em diálogo com a ética e que tem disponibilizado seus nomes, corações e mentes para a luta democrática, a favor do estado democrático de direito, da não-seletividade das investigações. Contra a misoginia e o machismo diuturnamente endereçados à Presidenta Dilma.

Celebridade (e aspirante à celebridade é ainda pior), sempre tem ciúme de artista. Porque nunca produzirão arte. Não vêem aí o Lobão com essa estratégia esfarrapada de pedir desculpas a Gil, Caetano e Chico, chamando-os para o diálogo. Ora, pipocas! Quem é Lobão na fila do pão?

Janaína Paschoal perdeu as estribeiras no improviso. Errou a mão na retórica e tornou-se ridícula ao decretar o fim da “república da cobra”. Metáfora é coisa refinada, é para poucos. Autran Dourado dizia que as pessoas criam símiles achando que são metáforas.

Para criar boas metáforas é preciso conhecer a essência das coisas. É preciso amadurecer, interpretar corações e mentes e essas ferramentas não são adquiridas num cursinho rápido de retórica em sessões criminais disponibilizado no youtube.

Mas, por favor, deixemos as pomba-giras em paz. Janaína Pachoal não pode ser comparada a uma delas. Elas são mais sofisticadas. Sabem transitar pela terra e têm artimanhas de sedução (de público, inclusive) que passam pela boa comunicação, acima de tudo.

A performance de Janaína foi muito rudimentar. Está mais próxima de possessões demoníacas contratadas por pastores charlatões de igrejas caça-níqueis para enganar fanáticos.

Sobre o Autor

Cidinha da Silva, mineira de Belo Horizonte, é escritora. Autora de “Racismo no Brasil e afetos correlatos” (2013) e “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil” (2014), entre outros.

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