Katia Silene Gomes, 44 anos, mãe de Jenifer Gomes, de 11 anos, morta com um tiro no peito, criticou a ‘política de abate’ defendida por Wilson Witzel: “O governador não pode deixar que a polícia entre e tire a vida de todo mundo. Está errado”, falou
Por RAFAEL NASCIMENTO, do Meia Hora
A mãe da pequena Jenifer Silene Gomes, de 11 anos, morta por um tiro no peito em Triagem, na Zona Norte, nesta quinta-feira, desabafou após liberar o corpo da filha no Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio. Ela questionou a política de abate do governador Wilson Witzel, que faz a primeira criança vítima de bala perdida no Rio. O velório acontece na capela Santa Isabel, no Cemitério de Inhaúma, onde ocorrerá o sepultamento.
“O governador não pode deixar que a polícia entre e tire a vida de todo mundo. Ele não pode deixar isso acontecer, está errado. Bandido é bandido, polícia é polícia, e morador é morador. Ali somos pessoas de bem e dignas. Se moramos ali é porque necessitamos e precisamos. Se não precisássemos estaríamos morando na Barra ou em Copacabana. O governador deu ordens para atirar e olha no que deu! Eles tiraram uma vida. É a primeira criança a ser morta em 2019. E aí, como fica a vida da minha filha? Quem vai trazer de volta?”, desabafou Katia Silene Gomes, 44 anos.
Katia conta que a menina tinha ido para a escola, mas acabou não conseguindo embarcar no ônibus com o irmão, pois o motorista fechou a porta antes dela entrar. Com isso, ela acabou voltando para casa, sendo vitimada na porta do comércio da mãe.
“Ela tentou ir para a escola, mas voltou. Levei ela ao mercado para comprar produtos para o meu bar. Ela foi para casa e depois foi lá para o bar. Na hora do tiro, eu estava na cozinha do bar. Quando eu escutei os tiros, corri e gritei para ela entrar para dentro de casa”, conta, dizendo que a filha pediu ajuda.
“A comunidade onde eu moro não é tão perigosa. A minha filha estava sentada na porta do meu bar, junto com outras crianças. De repente, saiu um monte de polícia. Ela sentada, eles começaram a atirar e não respeitaram as crianças que estavam ali. Sempre foi assim. Eles entram atirando”, defendeu.
Sonhos interrompidos
Katia disse que o sonho da filha era ser bailarina e que em breve ela faria a matrícula da menina em uma aula de ballet. Infelizmente o disparo interrompeu o projeto da criança de apenas 11 anos.
“Minha filha tinha sonhos, era estudante e aconteceu isso com ela. Era uma criança excelente, todo mundo da comunidade e da escola gostavam dela, tanto que agora todos estão perguntando a hora do enterro, pois os colegas da escola querem ir. Ela gostava de fazer educação física, sempre me pediu para colocá-la no ballet, pois ela queria ser bailarina. Ela só tinha 11 anos”, insiste a mãe da menina.
“Hoje eu só quero justiça pela vida da minha filha. Ela era a minha caçula. Eles tiraram uma parte do meu coração. Isso tem que acabar. Foi a minha filha, mas poderia ter sido outra criança. Como vai ficar essa situação? Eles chegaram na comunidade já tirando vida e ninguém faz nada. Não pode ficar impune. Eu quero e vou lutar pela morte da minha filha”, disse.
PMs vieram de linha férrea
A mãe da vítima, e outros moradores, disseram que os policiais militares vieram pela linha férrea, através de um buraco que existe no muro das proximidades da estação de trens de Triagem. “A comunidade onde eu moro não é tão perigosa. A minha filha estava sentada na porta do meu bar, junto com outras crianças. De repente, saiu um monte de polícia. Ela sentada, eles começaram a atirar e não respeitaram as crianças que estavam ali. Sempre foi assim. Eles entram atirando”, defendeu.
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